terça-feira, 1 de junho de 2010

O Grito Neurastênico de Munch

Eu não me desfaria da minha doença, pois há muita coisa em minha arte que devo a ela. Edvard Munch
O artista que mais enfatizou o aspecto humano da arte como um compromisso emocional e intelectual foi, sem dúvida, Edvard Munch. Uma citação de seu diário certifica essa afirmação: “Não devemos pintar interiores com pessoas lendo e mulheres tricotando; devemos pintar pessoas que vivem, respiram, sentem, sofrem e amam”.

Apesar de obter cedo o reconhecimento como o artista mais talentoso de sua geração, a maior ambição de Munch era empreender a expressão existencial por meio da arte. A vida do pintor fora marcada por perdas que influenciaram incisivamente sua atividade artística. Tanto as doenças quanto o sofrimento moldaram fortemente seu estilo pictórico.

Sua mãe, Laura Cathrine, faleceu em decorrência de uma tuberculose pulmonar quando Munch tinha apenas cinco anos de idade (1868); a mesma doença veio a matar, nove anos depois, sua jovem irmã Sophie, que à época tinha cerca de quinze anos.

A mãe morta e a criança
(1897-1899, óleo s/tela, 105 x 178,5 cm - Galeria Nacional, Oslo)

Obras como A Criança Doente (1886) e A Mãe Morta e a Criança (1900) expressam o sofrimento de Munch diante do falecimento da mãe e da irmã. Acima, Sophie aparece em primeiro plano, perto da cama, tapando os ouvidos com as mãos para não ouvir o chamado da morte.


A criança doente
(1896, óleo s/tela, 121,5 x 118,5 cm - Galeria Nacional, Oslo)

Para seguir carreira artística, Munch cortou relações com o pai, homem que, extremamente controlador e devoto, beirava a demência; também Laura (fonte de inspiração para A Melancolia), sua irmã favorita, portava doença bipolar e ficou internada durante muito tempo num hospital psiquiátrico.

Melancolia (Laura),1899. Óleo sobre tela 110 x 126cm. Galeria Nacional, Oslo.
Seu mais famoso quadro, onde é notável seu desespero existencial, foi pintado em 1893. N’O Grito ele expressou o seu cotidiano inferno interior e o mal-estar que a loucura lhe causava.

A estampa no fundo é a doca de Oslofjord, ao pôr-do-sol, em Oslo, em 26 de agosto de 1883. Dia em que um grande tsunami tirou do mapa a ilha vulcânica de Krakatoa, em Java, na Indonésia. A explosão de lava vulcânica colidindo com imensas ondas pôde ser sentida em diversas partes do mundo. O artista, que passava com seus amigos na zona portuária, grafou em seu diário: “De repente, tudo ficou vermelho e uma profunda melancolia e tensão se apossou de mim. Meus amigos foram embora e eu fiquei só, trêmulo e ansioso, como se tivesse ouvido um grito cortante e interminável atravessando a natureza”.

A obra também reflete o sofrimento mental pelo qual estava passando Munch em conseqüência de sua vida marcada por doenças. Os elementos reproduzidos são quase todos tortos para representar a dor que provocou um grito de forte intensidade. Também é válido atentar para a falta de cabelos, a qual demonstra um precário estado de saúde.

O Grito (1893, óleo s/tela, 91 x 73,5cm - Galeria Nacional, Oslo)

Especialista apontam a infância de Munch como um arsenal de desgraças. “Doença, loucura e morte foram os anjos que acompanharam -me no berço, e desde então tem me seguido durante toda a vida." Registrou o artista em seu diário.

Em 1890, Munch esteve internado durante dois meses em Le Havre, na França, para tratamento psiquiátrico. Em 1900, tratou-se na Suíça e, cinco anos depois na Turíngia, onde foi diagnosticado como portador de grave neurastenia.

O consumo excessivo de álcool, a fadiga pelo intenso trabalho e a decepção amorosa por um frustrado caso com uma mulher casada provocaram-lhe um esgotamento mental no ano de 1908, a partir de então, o pintor foi internado numa clínica em Copenhagen; meses depois, voltou pra Noruega, onde morou até falecer, em 23 de janeiro de 1944, vítima de uma pneumonia.

REFERÊNCIAS:
1. Marques, J. "Doenças e sofrimento moldaram o conjunto da obra do pintor norueguês Edward Munch". CREMESP, Edição 47. 2009.
2..BEZERRA, A.J.C.; As belas artes da medicina. Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal, Brasília, 2003
3.http://www.edvardmunch.info/
4.Scream' Is Found Undamaged in Norway. New York Times. May 8, 1994. p8(N), p6(L), col 3
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5 comentários:

  1. me gusta el arte terapia, yo trabajo sobre el area psicologica y la recreacion de imagenes, en si los ojos son como un bebe canguro...

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  2. Parabéns pelo seu blog, Renata!

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  3. Muito bom o blog. Um dos poucos que me faz parar o que tiver fazendo para ler. Gostaria de sugerir atualizações via email, para que assim, não houvesse chance de perder uma só postagem sua.

    Att,

    Malcon Lins

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    1. Malcon, por enquanto estamos só com atualizações pelo Facebook e Twitter, mas vou providenciar via emails. Obrigada pelas visitas!

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