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segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade em "Os Simpsons"

O segundo episódio da décima primeira temporada do seriado “Os Simpsons”, exibido em 2011, mostra o personagem Bart como portador do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).

O transtorno se caracteriza por frequente comportamento de desatenção, inquietude e impulsividade, em pelo menos três contextos diferentes.

Confira:



O grande número de indivíduos submetidos a farmacoterapia devido ao eventual diagnóstico de TDAH para justificar o mau desempenho escolar geram controvérsias desde a década de 1970.

O episódio, enfocando nos efeitos colaterais de uma medicação que controlaria o comportamento (“Fucosyn” - provavelmente um derivado anfetamínico), faz uma crítica à banalização da medicalização. O personagem desenvolve uma psicose anfetamínica, efeito adverso não raro de uso de drogas como a dextroanfetamina – medicamento que reduziria sintomas do TDAH, manifestada prioritariamente por delírios persecutórios.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Semiologia em "Popeye"

O personagem Popeye (cujo o nome, pop eye, significa olho arregalado), filho da criatividade do escritor Elzie Crisler Segar, nasceu em 1929. Baseado em Frank Fiegel, baixinho invocado amigo de Segar, o personagem é um carismático marinheiro, cuja principal função é proteger sua amada, Olivia Palito, das garras de seu inimigo Brutus. Ao ingerir espinafre, Popeye adquire uma força descomunal, ficando preparado para vencer quaisquer desafios.

Durante o ano de 1933, o estado do Texas, considerado o maior produtor mundial de espinafre, viu-se diante de uma supersafra dessa folhagem e sem mercado para escoar a colheita excedente. Os empresários do agronegócio convenceram Segar a fazer Popeye adquirir uma força extraordinária ingerindo espinafre. As vendas aumentaram 30%.

Popeye, ao ingerir o vegetal, apresentava uma súbita hipertrofia na região anterior do braço, como se nele houvesse uma bola, o que deu origem ao termo médico Sinal de Popeye:

(Gravura de M. Waldman). Sinal de Popeye após a ingestão de espinafre.
Denomina-se Sinal de Popeye, músculo de Popeye, deformidade de Popeye ou bíceps de Popeye o aspecto morfológico advindo da rotura do tendão da cabeça longa do bíceps do braço. Fixado no tubérculo supraglenoidal da escápula, o referido tendão localiza-se parcialmente no sulco intertubercular do úmero, o que propicia a ocorrência de tendinite e degeneração tecidual. Em mais de 70% das roturas totais do tendão originado da cabeça longa do bíceps braquial, o paciente apresenta um “caroço” na superfície anterior do braço.

Rotura do tendão da cabeça longa do bíceps do braço e consequente "Sinal de Popeye".
A saliência ocorre devido à retração do ventre do músculo bíceps. Outras manifestações são estalidos audíveis e dor súbita no ombro.

Curiosidades: 

Ano passado, pesquisadores ingleses receberam um homem de 42 anos que havia sofrido um acidente de bicicleta. Um caminhão bateu em sua traseira e seu glúteo direito sofreu uma separação e adquiriu um contorno anormal durante a contração. Os médicos resolveram chamar o caso de glúteo do Popeye, em alusão ao formato do bíceps do personagem do desenho animado. De acordo com o médico responsável pelo caso, Thomas Wood, eles pensaram no desenho porque o glúteo do paciente parecia o braço do Popeye quando ele comia espinafre: seu bíceps ficava perpetuamente flexionado, com aparência de forte, como se o músculo tivesse se separado do osso.

Olívia ganhou de presente, no ano de 1936, um estranho bichinho de estimação chamado Eugene. Dotado de poderes mágicos, amarelado e monossilábico, pronunciava de vez em quando as palavras “jeep jeep”. Em 1940, durante a II Guerra Mundial, a Willys-Overland Motors investe tudo na propaganda de seu estranho veículo 4 x 4, projetado para rodar em qualquer terreno, ou seja “general purpose” (GP). Os americanos apelidam carinhosamente o gp (pronuncia-se em inglês gipi) de jeep, em alusão ao jeep proferido pelo animalzinho de estimação de Oliva.

O pão com salsisha e molho de tomara foi chamado pela primeira vez de “hot-dog” em uma das historias de Popeye.

É de Olívia a frase “A esperança é a última que morre”, pois há 83 anos espera-se casar com Popeye e com ele viver feliz para sempre.

REFERÊNCIAS: 
1.BEZERRA AJC, ARAUJO JP - Medicando com arte. Cons. Reg. Med. Distrito Federal, 2006 
 2.Wikipédia: Popeye

quinta-feira, 8 de março de 2012

O Mal de Aleijadinho: Um Artista com Forma Peculiar

Sob uma nuvem de mistério e heroísmo permanece a identidade de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. Filho de um respeitado arquiteto português, Manuel Francisco Lisboa, e uma escrava africana, Isabel, o magnífico escultor, entalhador e arquiteto do Brasil colonial nasceu em Ouro Preto, provavelmente em 1738. Os dados que constroem sua trajetória são alegadamente reconstituídos através de suas obras, documentos e depoimentos de indivíduos que haviam conhecido o artista.

"Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho". Desenhado pelo brilhante médico e artista Dr. Valderílio Feijó Azevedo, professor do departamento de Clínica Médica da UFPR.
Até 1777, com 47 anos, Francisco gozara de perfeita saúde e apreciava as festas regadas a bebidas alcoólicas e danças populares; a partir daí, surgiram os sinais de uma misteriosa doença degenerativa progressiva que lhe deformou o corpo e dificultou seu trabalho, embutindo-lhe grandes sofrimentos e fazendo-lhe valer o apelido “Aleijadinho”.

Retábulo da capela-mor da Igreja de São Francisco em São João del-Rei.
Quanto melhor esculpia as belas formas nas pedras, tanto mais se deformava o corpo singular de Aleijadinho, causando-lhe dores ditas incapacitantes. Apesar da árdua adaptação à degradação de sua saúde, prosseguiu trabalhando incansavelmente, mantendo as habilidades manuais, mesmo perdendo os quirodáctilos, restando-lhe apenas o indicador e o polegar. Perdeu todos os pododáctilos e parte da região calcânea, caminhando de joelhos em direção ao sucesso. Trabalhou durante anos com os cinzéis amarrados nos cotos e, quando mais avançado o mal, carregavam-lhe para os sítios onde gravou magnificamente sua arte. Também a face foi-lhe atingida, emprestando-lhe um aspecto incomum, caracterizado como terrível. Dizem que roupas amplas e folgadas escondiam-lhe a vergonhosa deformidade, grandes chapéus lhe ocultava a face e, para não ser visto, passou a trabalhar dentro de um espaço fechado por toldos, preferencialmente à noite.

Cena do carregamento da cruz, na Via Sacra de Congonhas.
De acordo com relatos, Aleijadinho tinha plena consciência de sua aparência grotesca, desenvolvendo por isso um humor perenemente colérico, desconfiado e revoltado, imaginando que mesmo os elogios que recebia por suas realizações artísticas eram dissimulados escárnios. Reza a lenda que, depois de ser chamado de "homem feio" por José Romão, ajudante-de-ordens do governador Bernardo Lorena, o artista se vingou esculpindo uma estátua de São Jorge com a cara "bestificada" de seu desafeto.

Nossa Senhora das Dores. Museu de Arte Sacra de São Paulo.
Sua condição debilitou em 1812, quando passou a depender demasiadamente das pessoas que o assistiam. De acordo com o depoimento da nora do artista, nos seus últimos dois anos, quando acamado e incapacitado de trabalhar, parte de seu corpo ficou coberto de chagas, e ele implorava constantemente que Cristo pousasse Seus santos pés sobre seu miserável corpo, dando-lhe boa morte e livrando-o dessa vida sofrida. A esta altura encontrava-se praticamente cego e com redução global das capacidades motoras. Por um breve período voltou para sua antiga moradia, mas logo teve de acomodar-se na casa de sua nora, que de acordo com o historiador Rodrigo Ferreira Bretas se encarregou dos cuidados de que necessitava até que ele veio a falecer, em 18 de novembro de 1814. Foi sepultado na Matriz de Antônio Dias, em uma tumba junto ao altar de Nossa Senhora da Boa Morte.

Igreja onde Francisco Lisboa está sepultado. Nossa Senhora da Conceição, construída entre os anos de 1727 e 1746, com projeto e execução de Manuel Francisco Lisboa, o pai do Aleijadinho.
Ao longo dos séculos, diversos diagnósticos tem sido propostos por médicos e historiadores para explicar sua doença, todos conjeturais, incluindo entre outras etiologias a hanseníase (improvável, visto que o artista não foi excluído do convívio social, como ocorria com todos os leprosos),sífilis, escorbuto, traumas físicos decorrentes de uma queda, artrite reumatóide e poliomielite.

O reumatologista Dr. Archiles Cruz Filho argumentou que Aleijadinho possa, na verdade, ter sido portador de esclerodermia, visto que a maioria das manifestações da doença do escultor são compatíveis com esclerose sistêmica, principalmente as alterações de membros.

As mais recentes pesquisas, realizadas por uma equipe de cientistas liderada pelo dermatologista e hansenologista Geraldo Barroso de Carval, professor da Faculdade de Medicina de Barbacena (MG) e autor do recém-lançado Doenças e Mistérios do Mestre Aleijadinho, apontam em favor da porfiria.

Descrito pela primeira vez em 1874, pelo médico alemão J. H. Schultz, o termo “porfirias” descreve um grupo de doenças com manifestações clínicas diversas que compartilham um quadro comum: a deficiência na síntese do anel porfírico, que irá fazer parte do grupo heme, que por sua vez é parte integrante dos citocromos e da hemoglobina. Pacientes com porfiria possuem, dentre outras manifestações, alteração da função das hemácias. A Porfiria Cutânea Tardia (PCT), atribuída como provável enfermidade de Aleijadinho, é uma das mais importantes formas deste grupo de doenças. A PCT caracteriza-se por um déficit de uroporfirinogênio descarboxilase, enzima encarregada da mediação de vários passos na síntese do grupo heme.

Numa exumação feita em 1971, o médico e bioquímico Paulo da Silva Lacaz, então professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), observou que os ossos do artista exibiam uma coloração castanho-avermelhada, típica dos portadores de porfiria. Lacaz morreu antes de concluir suas pesquisas. Inspirado nesse trabalho pioneiro Barroso procedeu uma nova exumação dos despojos de Aleijadinho. Amostras colhidas pela equipe foram encaminhadas, através do departamento de Bioquímica da Universidade de Juiz de Fora, à Embrapa Solos, no Rio de Janeiro, que dispunha da tecnologia necessária para a investigação. O resultado da análise química inorgânica dos ossos detectou níveis espantosos de ferro dentro da vértebra do escultor. "Os estudos ainda não terminaram, mas com base nestes resultados podemos afirmar que não há outra razão para a pigmentação avermelhada dos ossos de Aleijadinho, senão decorrência da porfiria", frisou Barroso.

Dentre as manifestações clínicas da PCT, destacam-se fragilidade cutânea, fotossensibilidade (que justificaria o fato do artista trabalhar à noite ou protegido por um toldo), bolhas hemorrágicas ou serosas nas regiões expostas da pele (compatível com as “chagas” que cobriam o corpo de Francisco segundo sua nora), hirsutismo (o historiador Bretas relatou que Aleijadinho tinha pelo facial “cerrado e basto”), ou até mesmo alterações compatíveis com Lúpus Eritematoso Sistêmico ou Esclerodermia. Em casos extremos, a porfiria pode levar à perda das falanges. Os sinais da doença são precipitados dentre outros fatores por ingestão alcoólica (sabidamente o artista possuía tal hábito), cujo metabolismo hepático, em geral deficiente, propicia o acúmulo de ferro hepático.
Em qualquer peça sua que serve de realce aos edifícios mais elegantes, admira-se a invenção, o equilíbrio natural, ou composto, a justeza das dimensões, a energia dos usos e costumes e a escolha e disposição dos acessórios com os grupos verossímeis que inspira a bela natureza. Tanta preciosidade se acha depositada em um corpo enfermo que precisa ser conduzido a qualquer parte e atarem-se-lhe os ferros para poder obrar. Joaquim José da Silva, sobre Aleijadinho. (1790)
Dos muitos artistas que marcaram a cultura brasileira, Aleijadinho é a figura de maior expoente. Certamente, maiores que as riquezas extraídas das Minas Gerais, são os tesouros talhados pela genialidade e grandiosidade deste que tornou-se eterno através de suas estéticas obras.


REFERÊNCIAS:
1. V.F. Azevedo. "La malattia dell’Aleijadinho potrebbe essere stata una sclerodermia?". Reumatismo, 2008; 60(3):230-234.
2. Fernando Jorge. "O Aleijadinho". Bertrand Brasil.1949.
3.Bretas RJF. Antônio Francisco Lisboa - O Aleijadinho. Col. Reconquista do Brasil, Editora Itatiaia, Belo Horizonte, Brasil, 2002.
4.Lopes, CF. "As dores de Aleijadinho". Revista Galileu. Ed. Globo.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O parto cesariana na mitologia

A primeira cesariana relatada na história tem como protagonista a ninfa Coronis. Deste parto nasceu o deus da Medicina, Asclépio (para os gregos) ou Esculápio (para os romanos), filho de Apolo.

Gravura medieval: O nascimento de Esculápio.
Coronis estava prometida ao seu primo Ísquis, mas, por conta de uma desmedida paixão, engravidou de Apolo.Um corvo conta a Ísquis sobre a traição de Coronis . Solidária com o sofrimento de seu irmão Ísquis, a deusa Artemis condena Coronis à morte pelo fogo. Apolo, vendo Coronis na pira fatal, retira o filho do ventre materno.

Assim, o deus da Medicina seria o fruto da primeira cesariana realizada no mundo. Ele foi criado pelo centauro Quiron (metade cavalo, metade homem) que lhe ensinou a arte de curar. Temendo que Esculápio, por sua inteligência e habilidade médica, tornasse todos os homens imortais, Zeus (Júpiter) fulminou-o com um raio.

O imperador Júlio César promulgou uma lei determinando que, diante da possibilidade do óbito da mãe e do concepto durante o trabalho de parto, o médico ficasse de sobreaviso e, assim que ocorresse a morte materna, estaria autorizado a abrir o ventre e salvar a criança. Por causa dessa determinação do imperador, espalhou-se erroneamente pelo mundo a idéia de que a operação cesariana tenha recebido este nome porque o imperador nascera deste tipo de parto.

REFERÊNCIAS:
1.O Livro de Ouro da Mitologia – Thomas Bulfinch
2. BEZERRA, Armando "Admirável mundo médico: a arte na história da medicina" - Brasília, 2002

domingo, 5 de junho de 2011

Antigas Esculturas Representam Paralisia Facial Periférica

"A expressão facial dos seres humanos me fascina, pois ela delata tanto o mais baixo e animalesco dos sentimentos quanto a mais forte e suave emoção do espírito”(1821). Com esta frase, Charles Bell (1774- 1842) definiu a importância filosófica da paralisia facial periférica (PFP), condição que elimina a simetria facial, um dos atributos de beleza, criando assim um efeito antiestético que minimiza o prazer do homem ou aumenta seu sofrimento.

A Paralisia Facial Periférica, também chamada Paralisia de Bell, caracteriza-se pelo acometimento dos músculos da hemiface, nos andares superior, médio e inferior. Caso a parte superior da face não seja acometida, a paralisia é dita central. Suas causas são decorrentes de transtornos no VII par de nervos cranianos ou nervo facial, composto pelo nervo facial propriamente dito (motor) e pelo nervo intermediário de Wrisberg (aferências sensitivas parassimpáticas).

As eferências motoras são responsáveis pelos movimentos da face, enquanto as aferências sensitivas pela sensação gustativa dos 2/3 anteriores da língua. A sua porção parassimpática é responsável pela inervação das glândulas lacrimais, submandibulares, sublingual e da cavidade nasal (BENTO e BARBOSA, 1994). A apresentação mais comum da PFP é a idiopática, que ocorre em cerca de 70% dos casos e é diagnosticada após a exclusão de todas as etiologias possíveis.

A história da paralisia facial periférica acompanha a história da própria espécie humana. A PFP tem sido representada nas artes desde o antigo Egito. A condição neurológica era amplamente conhecida também entre os gregos, romanos, incas e outras culturas indígenas da América pré-colombiana. A imagem egípcia apresentada abaixo é provavelmente um dos primeiros documentos representativos da PFP na história da neurologia:


A) Cabeça de barro, Alto Egito. Modelado aproximadamente 4.000 anos atrás, mostrando paralisia facial direita. É um dos mais antigos documentos da história da neurologia.
B) Crisaor, filho de Gorgo, com paralisia facial direita; do Templo de Ártemis, na ilha de Corfu, de VI a V a.C (fotografado pelo médico do rei Guilherme II, quando viajaram para Corfu para visitar o Templo de Ártemis).

As figuras B e C mostram que a afecção do nervo facial foi bem documentada no período helenístico. O enciclopedista romano Aurélio Cornélio Celso (25 a.C. — 50 d.C), registrou uma descrição resumida da paralisia facial periférica. Incas na América pré-colombiana nos forneceu várias representações artísticas da PFP.


C) Escultura em mármore encontrada em uma tumba da Grécia Antiga. Paralisia facial esquerda é bem representada.
D) Vaso romano encontrado em uma tumba da Grécia Antiga.

Representações da condição nas artes plásticas tornou-se mais extensa desde o Renascimento.Pintores holandeses retrataram indivíduos com paralisia facial periférica, durante e após este período. Muitas destes retratos tinham como objetivo a "educação moral", para ensinar aos jovens a não rir da deformidade humana.

O primeiro estudo médico da doença é atribuído a Avicena (Abu Ali al-Husayn ibn Abdalla Ibn Sina, 979-1037 dC). Ele foi o primeiro a registrar as diferenças entre os tipos centrais e periféricos da PFP:

"Se a doença que produz a paralisia vem do cérebro, metade do corpo fica paralisado. Se a doença não está no cérebro, mas no nervo, só o que depende desse nervo é paralisado".


A) Frontispício da edição romana de 1593 do Canon de Avicena. Avicena estudou a etiologia, tratamento e prognóstico da paralisia facial periférica, que distinguiu da paralisia facial central.
B) Escrito em árabe, o diagnóstico diferencial entre a paralisia facial central e periférica.
C) Caretas da antiga Suíça representando a paralisia facial.

Avicena incluía entre as causas de PFP a compressão por tumor ou a secção do nervo. Para o tratamento, ele receitou plantas medicinais para aplicação tópica, todas elas com efeito vasodilatador.. Ele enfatizou que "se a secção do nervo ocorreu, a única alternativa é fazer a sutura do coto". Em relação ao prognóstico, ele afirmou que "não se deve esperar a recuperação de qualquer paralisia facial que dure mais de seis meses". Podemos considerar que Avicena tinha um avançado conhecimento da paralisia facial periférica para o seu tempo.

Em 1798, Nicolaus Friedreich A. de Würzburg, avô de Nicolaus Friedreich de Heildelberg - que descreveu a ataxia que leva seu nome -, publicou um estudo detalhado sobre o início, o quadro clínico, a evolução e o tratamento da paralisia facial periférica em três pacientes. A exposição a correntes de ar frio havia ocorrido nos três casos, antes do início da paralisia. Assim, Friedreich postulou que a PFP pode ocorrer quando as causas locais atuam sobre o nervo facial.

Dentre os pioneiros a descrever a PFP, destaca-se também Charles Bell. Seu primeiro caso de paralisia facial periférica foi anunciado em 1821, e em 1828 fora publicado seu trabalho mais importante. Entretanto, Charles Bell fez outras contribuições à história da neurologia e da anatomia: ele reconheceu as diferenças entre a divisão anterior e posterior dos nervos espinhais, identificou o nervo torácico longo, destacou o nervo craniano VII, descreveu o sinal de Bell e foi o primeiro a descrever a hiperacusia e disgeusia como sintomas de PFP.


D) Escultura de Lucas van Leyden mostrando parotidite provável e paralisia facial periférica direita.

Outras representações:


A) Máscara de dança esquimó do Alaska
B) Napoleão esculpido em rolha de garrafa do Sul da França.
C) Máscara de madeira de Liberia.
D) Máscara de Ceilão, que representa o "Deus da Surdez", com uma cobra saindo do nariz.


A) Deus da doença "Naha-Kola-Sanaya", do Ceilão. O "Deus da doença" é acompanhado por 18 demônios, dois deles com paralisia facial (setas)
B) Máscara de Java, mostrando paralisia facial esquerda.
C) Máscara de marfim japonesa do século V d. C.
D) máscara japonesa esculpida em madeira (Século V d.C)


A) Século 17: "Jarro de homem barbado", apresentado na exposição de arte barroca em Augsburg.
B) Século 18: "Facial Gnome"do "anão de jardim" do Palácio de Mirabell, Salzburgo (Áustria). Escultor: Bernard Mandl.
C) Século 19 fotografias tiradas de Duchenne. O paciente é calvo e aparece em sofrimento apreensivo.
D) Charles Bell, primeiro professor de Anatomia e Cirurgia no Colégio Real de Cirurgiões, em Londres. Ele próprio tinha paralisia facial periférica.


REFERÊNCIAS:
1.BARBOSA, V. C. Paralisia Facial Periférica. In: LOPES FILHO, O.; CAMPOS, C. A. H. Tratado de Otorrinolaringologia, 4ª Ed. São Paulo: Roca, 1994.
2.Resende,LA. Weber,S.“Peripheral facial palsy in the past. Contributions from Avicenna, Nicolaus Friedreich and Charles Bell”. Arq Neuropsiquiatr 2008;66(3-B):765-769.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Representações de Gemelaridade Conjugada Através dos Séculos

Embora seja um evento raro, o nascimento de gêmeos unidos sempre fascinou a sociedade científica. Um dos primeiros estudos sobre a anomalia foi publicado no século XVI pelo excepcional cirurgião Ambroise Paré, que descreveu, dentre outros casos, o fenômeno dos siameses em sua obra De monstruos y prodígio.

A gemelaridade conjugada ocorre quando há uma divisão incompleta do disco embrionário ou quando discos embrionários adjacentes se fundem.

Esses gêmeos unidos (Gr. pagos, fixo) recebem nomes de acordo com a região pela qual estão acoplados; assim sendo, toracópago indica a existência de uma união na parte anterior das regiões torácicas; craniópagos, designa irmãos ligados pelo crânio; pigópagos, unidos pelo sacro e isquiópagos, conectados pela pélvis. O termo xifópagos (xifós = espada, que se refere ao osso esterno), aponta a associação entre irmãos pelo tórax e abdômen, e é a forma mais comum de gêmeos conjugados.

Estima-se que a incidência de irmãos siameses seja de 1 em 50.000 a 100.000 nascimentos. Em alguns casos, os gêmeos estão unidos um ao outro somente pela pele, ou por tecidos cutâneos ou outros, por exemplo, fígados fundidos.

Entre os gêmeos unidos mais antigos que se conhecem se encontram as siamesas Biddenden, nascidas em 1100 na Inglaterra, elas viveram 34 anos com apenas um par de extremidades superiores e inferiores.


Gravura de 1869 retratando Maria e Eliza Biddenden Fonte: Gentleman's Magazine, volume 226.

Mary e Eliza Chulkhurst, registradas na história como as irmãs Biddenden, aparecem unidas por seus quadris e seus ombros em representações pictóricas da época. À morte de uma delas, os médicos propuseram separá-las para salvar a vida da sobrevivente, “Assim como viemos juntas, nós iremos juntas”, conta a lenda que disse Eliza, ao negar a opção. Sua morte ocorreu 6h após a morte da irmã, tinham elas 34 anos. As duas são recordadas até o dia de hoje graças a 20 acres de terra doados por elas a igreja local que, em reconhecimento a generosidade de ambas, prepara bolos e biscoitos com a imagem das gêmeas para dar aos pobres todos os domingos.

Bolo com a imagem em alto relevo das gêmeas siamesas Biddenden.

O procedimento cirúrgico empregado para a separação de irmãos conjugados não é, em verdade, nenhuma novidade, excetuando-se é claro o indiscutível aperfeiçoamento das técnicas. Uma miniatura da Idade Média nos apresenta uma imagem da separação do corpo de um dos siameses já falecido:

Gravura medieval ilustrando um procedimento cirúrgico para separação de siameses. Manuscrito Skilitdés. Biblioteca Nacional. Madri.

Numa das igrejas “A la Scala”, na Itália, há um baixo relevo representando gêmeos siameses florentinos, nascidos no século XIV, com três extremidades inferiores e superiores. No século XV, os irmãos escoceses Scottish viveram 28 anos unidos da cintura para baixo. Mas os gêmeos unidos mais famosos em tempos passados foram as siamesas húngaras Helen e Judith, nascidas em Szoony, no ano de 1701, que se tornaram objeto de grande curiosidade ao serem apresentadas em muitos países. Eram unidas pela região lombar.


Representação de siameses masculino e feminino em uma gravura colorida do Renascimento.

Vasos de cerâmica que ilustram o fenômeno dos siameses entre povos preincaicos no Peru. Museu Larco Hoyle. Lima.

Sem dúvida, os mais conhecidos entre todos os tempos dos que nasceram com esta malformação foram os meninos Chang e Eng Bunker, nascidos no Sião (atual Tailândia) no século XIX e convertidos em celebridades após se exibirem publicamente na Europa e nos Estados Unidos. Inclusive, a denominação popular “gêmeos siameses” foi cunhada devido ao fato dos irmãos Bunker (1811-1874) serem de Sião. Chan e Eng trabalhavam no famoso circo Barnum, ambos se casaram com duas irmãs e tiveram um total de 21 filhos.

Os irmãos Chang e Eng.

Os problemas teóricos plantados pela realidade dos siameses são de uma complexidade notável, tanto que nos obrigam a remover as idéias mais fundamentais da Antropologia filosófica, idéias tais como as de unidade ou identidade dos indivíduos, da personalidade, de racionalidade, de consciência, de responsabilidade, de liberdade, e mesmo a própria idéia de natureza, que agora se nos apresenta como "monstruosa", sem deixar por isso de ser natureza. Tudo isso, obviamente, constitui um desafio para os sistemas mais consensuados de "princípios da Bioética" que tem a ver com a
"autonomia do individuo humano", com os "direitos humanos", ou com o "direito natural", em geral.

Não deixa de ser significativo, o relativo "retraimento" — assim poderíamos considerar — que se observa nos manuais de bioética, em tudo o que concerne a questão de irmãos siameses, plantada como questão bioética (e não como questão estritamente embriológica). Suspeita-se que este suposto retraimento tem a ver com a dificuldade que as situações plantadas por siameses suscitam ante sistemas de principios bioéticos generalmente adoptados por consenso.


REFERÊNCIAS:
1. Serret, S. Aguilar, Maria. “Monstruos siameses. Presentación de un caso”. MEDISAN 1998;2(4):44-47.
2. Topolanski, R. “LA CIRUGÍA Y LOS CIRUJANOS”. OBRA EL ARTE Y LA MEDICINA. CAPÍTULO 6 CIRUGÍA.
3. MOORE, K. Embriologia Básica.7ª Edição. Guanabara Koogan, 2008.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Agnódice: A Primeira Médica Relatada na História

Agnodice ou Agnodike (IV a. C), a mais antiga mulher a ser mencionada pelos gregos, tencionava fortemente ser médica. Natural de Atenas, aonde havia proibição legal para mulheres estudarem medicina, Agnódice viajou a Roma a fim de aprender a fazer partos e, dedicando-se principalmente ao estudo da obstetrícia e da ginecologia, obteu conhecimentos básicos sobre a saúde da mulher.

Desejando voltar a seu país e nele colocar em prática os conhecimentos adquiridos em Roma, a solução para tonar-se impune foi radical: Agnódice voltou à Grécia com os cabelos curtos e travestida de homem, sentindo-se dessa forma segura para exercer a medicina.


Arte em relevo. Agnódice: médica diante do areópago. Medalhão exposto na nova Faculdade de Medicina (Paris).

Quando começou a atuar, com muito sucesso, atraiu muitos clientes, despertando assim o ciúme de outros médicos. Raivosos com Agnódice e acreditando que fosse realmente homem, eles a acusaram falsamente de estar praticando atos libidinosos com as pacientes.

Levada ao tribunal (areópago), ela tentou se defender da falsa acusação; porém, quando percebeu que seria condenada à morte, despiu-se diante do juiz e dos jurados. Atitude extrema causou em todos grande surpresa e comoção. Além disso, várias de suas pacientes declararam em frente ao templo que se ela fosse executada, iriam morrer com ela. O juiz reconheceu a injustiça que estava sendo cometida contra Agnódice, livrou-a da acusação e promulgou uma lei determinando que, a partir daquele momento, as mulheres teriam o direito de praticar a medicina na Grécia.

Graças à ousada e corajosa atitude de Agnódice, as mulheres hoje são maioria na profissão.

REFERÊNCIAS:
1.BEZERRA, Armando "Admirável mundo médico: a arte na história da medicina" - Brasília, 2002
2.Greenhill, William Alexander (1867), "Agnodice", in Smith, William, Dictionary of Greek and Roman Biography and Mythology, 1, Boston: Little, Brown and Company
3.
Wikipédia: Agnodice

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Face Leonina no Desenho de Leonardo da Vinci

Características típicas da leontíase óssea pode ser visualizada num desenho de Leonardo da Vinci:
 Desenho de uma mulher. Leonardo da Vinci.

Esta ampla e longa face, com esse largo nariz, dá a todo o rosto uma aparência semelhante a de um animal selvagem. Essa face típica tem sido chamada de face leonina.

No desenho, a mulher retratada - uma idosa italiana - possui uma deformidade da face que pode ser explicada pela hipertrofia dos ossos maxilares, o que dá esta proeminência ao lábio superior e empurra para cima suas narinas. O queixo também é, provavelmente, hipertrofiado, por conseqüência da hipertrofia maxilar e/ou mandibular.

O termo leontíase óssea tem sido usado para descrever a fisionomia da hipertrofia dos ossos da face do crânio associada com diferentes processos patológicos, como a doença de Paget, hanseníase, displasia fibrosa e doença óssea inflamatória reativa.

LEIA TAMBÉM:

Doença de Paget na Pintura de Metsys

REFERÊNCIAS:
1.Cabral, F.; Natal,M. “Leontíase Óssea Urêmica”. Brasília Med 2010;47(2):254-257

sábado, 13 de novembro de 2010

A Era Pré-Anestésica e a Descoberta do "Gás Hilariante"

Antigamente, por ser considerado inatingível, o controle da dor não era tão importante. O romano Celsius dizia ser a “falta de pena” a característica essencial de um bom cirurgião. Em muitas cirurgias, vários homens corpulentos eram necessários para manter os pacientes amarrados durante o procedimento. Uma gravura satírica que alude a forma que os pacientes eram operados foi feita pelo brilhante escritor e desenhista irlandês George Bernard Shaw:

George Bernard Shaw (1856-1950). Gravura satírica do séc. XIX mostrando paciente submetido à amputação do membro inferior.

Apesar do sentimento de que a dor era inevitável, alguns agentes diferentes eram usados para aliviá-la. Até o século XVII, era a partir da mandrágora que extraiam a substância mais utilizada para amenizar a dor. A planta era fervida em vinho, coada e usada no caso de pessoas que fossem ser cortadas ou cauterizadas.

Uma esponja contendo morfina e escopolamina foi o modo dominante de oferecer alívio da dor no período que compreende o século IX ao XIII. Em meados do século XVII, Marco Aurélio Severino sugeriu que colocando neve em linhas paralelas cruzando o plano incisional conseguia-se tornar o local cirúrgico insensível em poucos minutos, descreveu assim a “anestesia por refrigeração”. No século XIX, a Europa utilizava grande quantidade de álcool, à época único recurso disponível, para diminuir as dores dos pacientes. Apesar de surgirem variadas técnicas, nenhuma conseguia proporcionar um alívio satisfatório da dor, que até então, era o principal empecilho na tarefa do médico.

No ano de 1772, o químico inglês Joseph Priestley descobriu o Óxido Nitroso. 28 anos mais tarde, o Sir Humphry Davy, observando os efeitos analgésicos do gás, sugeriu que o uso da substância poderia ser vantajoso durante a cirurgia. Foi Davy quem também descreveu as propriedades estimulantes do Óxido Nitroso, apelidando-o de gás hilariante (ou gás do riso).

Prescrição para Mulheres Chatas (1830). T.Mclean. Gravura. Biblioteca Nacional de Medicina (Bethesda).

Espetáculos eram organizados nas tardes de domingo para atrair pessoas que queriam divertir-se sob os efeitos do Óxido Nitroso. Abaixo, um cartaz da época evidenciando os efeitos do gás da alegria:


Em um desses momentos descontraídos, um jovem senhor que participava do espetáculo, saltitando sob os efeitos do gás do riso, feriu sua perna ao colidir com uma cadeira. Ao recuperar-se do efeito da substância, comentou que nada havia sentido, nem a queda nem os ferimentos que não paravam de sangrar.

Um dentista de Connecticut(EUA), chamado Horace Wells, presenciava a brincadeira dominical e percebeu que o gás poderia servir para tirar a dor durante uma extração de dente. Wells pediu pra que extraíssem seu próprio dente após ser submetido aos efeitos do Óxido Nitroso. A experiência foi um sucesso, Wells não sentiu dor.

Em janeiro de 1845, passada a positiva experiência com o gás, Wells resolveu demonstrar publicamente o que seria uma extração sem dor. A demonstração ocorreu na Havard Medical School, em Boston, mas o paciente, um estudante de medicina muito obeso, não ficou completamente adormecido e urrou de dor quando seu dente foi puxado.

A tentativa foi julgada um fracasso. Muito desapontado, Wells desestabilizou-se e, em sofrimento profundo, cometeu suicídio no ano de 1848. "Não poderia ser chamado de vilão", dizia no bilhete que deixou. Doze dias depois chegou uma carta dizendo que a Sociedade Médica de Paris reconhecia-o como descobridor da anestesia .

É inegável ser Horace Wells um importante pioneiro da anestesia, pois foi o primeiro a reconhecer as propriedades do Óxido Nitroso (única droga anestésica do século XIX que ainda está em uso).


REFERÊNCIAS:
1. COLLINS, Vicent. História da Anestesiologia. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 1979
2. MARGOTTA, Roberto. História ilustrada da medicina. 1º ed. São Paulo: Editora Manole.
3. MORGAN, G.MAGED,S. Anestesiologia Clínica - 3ª EDIÇÃO. Editora Revinter.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Anatomia Grega: Por Que a Palavra "Hímen" Denomina a Membrana Situada no Vestíbulo Vaginal?

Segundo a mitologia, Hymen (ou Hymenaios), filho de Apolo e Afrodite, é o deus grego do casamento. Seu culto era celebrado durante as núpcias do casal. Hymeneu era o termo empregado no conjunto de hinos cantados durante a cerimônia.

Himeneu Travestido Assistindo à Dança de Honra a Príapo, 1635. Óleo sobre tela, 167 × 376 cm. Museu de Arte de São Paulo.

Hymen, em Grego, quer dizer, originalmente, "membrana". Em 1550, Andreas Vesalius, médico belga fundador da moderna anatomia, usou o termo especificamente para a membrana situada no intróito vaginal.


George Rennie (1802-1860). Escultura em Mármore. Cupido empunhando a tocha de Himeneu, 1831. Londres, V&AM.

Os gregos acreditavam que Hymen precisava comparecer a todos os casamentos, pois caso contrário, o resultado do matrimônio seria desastroso. Pelo fato do deus presidir as celebrações de núpcias, foi sugerido que havia uma conexão entre esta divindade, o casamento e o hímen vaginal.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Dioramas Anatômicos do Dr. Frederik Ruysch

O anatomista holandês Frederik Ruysch (1638-1731), conhecido como o médico que melhor desenvolveu técnicas de preservação de órgãos e tecidos, destacou-se no mundo das artes por fazer incríveis arranjos artísticos com suas peças anatômicas.

Ruysch possuía o seu próprio museu de curiosidades sobre temas alegóricos da morte e da transitoriedade da vida e, dentre as exposições, havia uma série de dioramas montados a partir de partes corporais e estrelados por melodramáticos esqueletos fetais.

Ruysch,Frederik. Thesaurus Anatomicus. 1701

Criativo, Ruysch construiu as paisagens geológicas utilizando cálculos biliares e fez das veias e artérias "árvores"; e mais, tecidos ramificados de pulmões e vasos menores serviram para construir a grama de muitos dos seus arranjos.

Na maioria dos dioramas, observa-se crânios a lamentar a efemeridade da humanidade através do choro em elegantes "lenços" feitos de mesentério ou meninges cerebrais; acompanham também suas preparações diversas citações e exortações morais, enfatizando a brevidade da vida e da vaidade das riquezas terrenas.

Ruysch,Frederik. Thesaurus Anatomicus. 1701

Suas preparações anatômicas atraíram notáveis personalidades para o seu museu, incluindo o czar Pedro - O Grande, da Rússia, que estava tão fascinado com o trabalho artístico de Ruysch, que em 1717 comprou toda a coleção do médico. Vários dos itens ainda estão na posse do Museu da Academia de Ciências de São Petersburgo.

LEIA MAIS:

A Lição de Anatomia do Dr. Ruysch

REFERÊNCIAS:
RUYSCH, Frederik. Thesaurus Anatomicus Primus, 1701. Amsterdam.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Ciclopia: Monstruosidade Representada na Literatura Mitológica, Escultura e Música Clássica

Ciclopia é uma rara anomalia na qual os olhos estão parcialmente ou completamente fundidos, formando um único olho mediano incluído em uma única órbita. Geralmente é associada a um apêndice em forma de probóscide superior ao olho.

Transmitida por uma herança recessiva, a malformação parece resultar de uma severa supressão de estruturas cerebrais da linha média – holoprosencefalia – que se desenvolvem a partir da parte cefálica da placa neural. Essa grave anomalia ocular está associada com outros defeitos craniocerebrais incompatíveis com a vida.

Monstro não comparável aos humanos
[...]De carne humana estás, Ciclope, farto.

Odisséia (séc. VIII a.C) - IX canto. Homero.

Os ciclopes foram cantados por Homero no IX livro da famosa Odisséia. Segundo a mitologia grega, o raio que fulminou Esculápio (deus da medicina) gerou os seres com um só olho. Como mostra o trecho acima, nas palavras do autor grego tais seres monstruosos são incomparáveis aos humanos.



Escultura em mármore encontrada na caverna de Tibério. Museo Archeologico Grotta di Tiberio (Sperlonga).

A escultura acima mostra o momento em que Ulisses (Odisseu, em grego) consegue vingar-se do Ciclope pela morte de seus companheiros. Conta Homero que no regresso de Tróia ao reino de Ítaca, Ulisses chegou ao país dos gigantes ciclopes, que moravam em cavernas. Nesse local desembarcou com seus companheiros e, encontrando uma grande caverna, lá entrou. Pouco depois, chegou o dono da caverna, Polifemo (o mais famoso dos ciclopes), que voltando então o grande olho, viu os estrangeiros e perguntou-lhes, com maus modos, quem eram e de onde haviam vindo. Respondeu-lhe Ulisses com muita humildade que eram gregos e terminou implorando hospitalidade, mas Polifemo estendeu o braço, agarrou dois dos gregos, que atirou contra a parede da caverna, esmagando-lhes a cabeça, depois tratou de devorá-los. Na manhã seguinte o ciclope apanhou mais dois gregos e devorou-os da mesma maneira que a seus companheiros. Ulisses tratou então de como se vingaria da morte dos amigos e conseguiria fugir com os companheiros sobreviventes. Teve a idéia de dar vinho ao gigante, que tanto bebeu que não tardou a adormecer. Então, Ulisses com seus quatro companheiros escolhidos, colocou no fogo a extremidade do espeto que haviam feito, até que essa se transformou num carvão em brasa e, depois, colocando a haste bem exatamente sobre o único olho do gigante, enterram-na profundamente e a girara.

No olho o tição. Cálido sangue espirra;
O vapor da pupila afogueada
As pálpebras queimava e a sobrancelha.

Odisséia (séc. VIII a.C) - IX canto. Homero.

Os gritos dolorosos do monstro ecoaram pela caverna e, deixando Polifemo entregue à sua dor, Ulisses e seus companheiros fugiram seguindo o caminho à Ítaca.

Na Música Clássica:

Aci, Galatea e Polifemo é uma é uma dramática serenata que inclui três personagens míticas (inclusive Polifemo). A bela mini ópera foi criada pelo célebre compositor alemão George Frideric Handel em 1708. Polifemo amava Galatéia, mas esta nutria uma paixão por Ácis, sentimento que lhe era recíproco. Num dado momento, dominado pelo ciúme, o ciclope perseguiu Ácis e, arrancando um rochedo da encosta da montanha, atirou nele, que imediatamente foi esmagado e transformado no rio que conserva seu nome. O papel do ciclope Polifemo, cujas ações têm conseqüências letais para Ácis, é particularmente notável para a singular agilidade necessária à música de Handel.



REFERÊNCIAS:
1. Bulfinch, Thomas. O Livro de Ouro da Mitologia: (a idade da fábula). Ediouro, Rio de Janeiro, 2002.
2. Moore, Keith, L. Embriologia Clínica. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
3. Decano, Winton & Knapp, J. Merrill (1987), Óperas de Handel, 1704-1726, Imprensa de Clarendon.
4.HOMERO. Odisséia. Trad. Odorico Mendes

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

O Símbolo da Sociedade Brasileira de Pediatria

Antigamente, era costume da cultura judaica enfaixar a criança até os três meses de idade, quando então ela era levada ao templo para ser apresentada ao sacerdote. O pintor veneziano Giovanni Bellini assim representou o Menino Jesus:


Giovanni Bellini. Apresentação de Jesus no Templo (1464). Têmpera sobre madeira. 80 x 105 cm. Fondazione Querini-Stampalia, Veneza

Foi a partir de uma obra de arte que surgiu o desenho do símbolo da pediatria brasileira. A história é a seguinte: com base nesse costume de enfaixar recém-nascidos, em 1528 o escultor italiano renascentista Andrea della Robbia (1435 - 1525) esculpiu, para o pórtico do orfanato florentino Spedale degli Innocenti (Hospital dos Inocentes), várias imagens de crianças, objetivando ornamentar o pátio interno da instituição:

Crianças (1470). Andrea della Robbia. Medalhões (Tondos) em terracota esmaltada. Ospedale degli Innocenti (Florença).

A idéia é que cada criança esculpida represente o “Menino Jesus” com seu olhar suplicante pelas crianças abandonadas; além disso, a primeira criança aparece totalmente enfaixada, e a seqüência dos medalhões mostra as demais sendo progressivamente desenfaixadas até que a última aparece com as faixas afastadas do corpo, que se encontra, do tórax aos pés, completamente solto e livre.

A criança desenfaixada representa, talvez, a libertação do constrangimento dos pequenos por serem “bebês abandonados”, já que a educação e as demais condições fornecidas pelo instituto priorizavam o bem estar psíquico dos residentes, proporcionando a cada criança "orfã" a capacidade de livrar-se desse estigma (nas esculturas, a própria criança desenfaixa seu corpo) . Outro detalhe interessante é que os braços das crianças foram esculpidos livres e abertos, como se clamassem aos visitantes: “Adotem-me”.

À esquerda: Atual Logomarca da Sociedade Brasileira de Pediatria (1968). Francisco Confort. Rio de Janeiro.

Em 1936, o médico Adamastor Barbosa, que presidia a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), encomendou um símbolo para ornamentar o diploma de sócio da entidade. O autor do desenho se inspirou nos medalhões esculpidos por della Robbia presentes no orfanato. Em 1957, na gestão do Dr. Martinho da Rocha, o símbolo foi modernizado, mas manteve a figura do menino enfaixado. A mais recente modificação foi feita em 1968, quando o Dr. Telles era o presidente da SBP. Coube a Francisco Confort, designer da Casa da Moeda do Brasil, fazer a mais recente estilização.

Curiosidades:

O orfanato Spedale degli Innocenti foi construído e projetado em 1419 por Filippo Brunelleschi (artista considerado o fundador da arquitetura do renascimento italiano), sendo o primeiro lugar a ser dedicado exclusivamente ao cuidado e educação das crianças abandonadas. Hoje, o clássico prédio funciona como museu de arte, mas o instituto nunca interrompeu suas atividades em favor das crianças e adolescentes.

Um símbolo também baseado nas crianças de della Robia foi adotado pela American Academy of Pediatrics em 1930.

O ato de enfaixar o abdome das crianças até que caia o umbigo talvez tenha surgido a partir da herança cultural judaica. Até hoje, o costume perdura em algumas cidades do interior do Brasil.

REFERÊNCIAS:
1.KAHN,Lawrence. The "Ospedale degli Innocenti" and the "Bambino" of the American Academy of Pediatrics. PEDIATRICS Vol. 110 No. 1 July 2002, pp. 175-180.
2.Gavitt, P. Criança e Caridade na Florença renascentista: O Ospedale degli Innocenti, 1410-1536 (Ann Arbor, MI: Universidade de Michigan Press, 1990)
3.BEZERRA, A.J.C.; As belas artes da medicina. Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal, Brasília, 2003
4.
História da Sociedade Brasileira de Pediatria
5.
Wikipédia - Andrea della Robbia


segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Estatueta de Imhotep

Imhotep, egípcio que viveu durante a Terceira Dinastia, é considerado o primeiro arquiteto, engenheiro e médico do início da história.

Além de famoso construtor de pirâmides, ele era, sobretudo, um excelente médico, sendo mais tarde considerado deus pelos egípcios. Os gregos o relacionaram a Asclépio (ou Esculápio, em Roma) o deus grego da medicina.

Imhotep foi um dos poucos mortais a ser esculpido como parte de uma estátua do faraó. Tempos depois, ele também foi reverenciado como um exímio poeta e filósofo.

Estatueta de Imhotep em bronze. Egito ptolemaico (332-30 a.C.). Museu do Louvre, Paris.
Imhotep é creditado como sendo o fundador da medicina e o autor de um tratado médico notável, o chamado papiro de Edwin Smith (1700 aC), contendo observações anatômicas, doenças e curas.

Sendo o médico mais importante na história egípcia, salvou a vida do infante príncipe Djoser e a de sua mãe. Anos mais tarde, ele foi recompensado por suas ações pelo Faraó Djoser que o designou como seu vizir, sacerdote, arquiteto chefe e astrólogo.

O nome Imhotep significa "Aquele que vem em contentamento". Foi por causa de seus muitos talentos que o povo naturalmente presumiu que apenas alguém que tinha estreitas ligações com os deuses podia ter tão grande conhecimento.

Assim, Imhotep foi deificado após a sua morte, um dos únicos mortais não-faraó que se tornou um deus.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A Origem do Palavra "Morfina" / "Morfeu", de Houdon

Na medicina, nem mesmo as drogas escaparam à influência da mitologia grega. O mais conhecido narcótico do grupo dos opióides, a morfina, obteve seu nome de Morfeu, deus grego dos sonhos.

O nome Morfeu foi criado pelo poeta romano Ovídio na sua grande obra Metamorphoses e vem do grego “morphe”, que significa “forma”. O nome seria uma alusão às formas que enxergamos nos sonhos.

Escultura em mármore, Morfeu (1777); Jean-Antoine Houdon; Salão do Louvre (Paris)

Morfeu foi enviado por seu pai, Hipnos (deus do sono) para junto dos adormecidos, a fim de assumir qualquer forma ou aspecto de figura humana e aparecer nos sonhos das pessoas. Ele adormecia aqueles que tocava com uma papoula. Houdon o representa sonolento, mas com as asas alertas, pronto para voar e mudar de fisionomias. Foi com essa obra-prima que o escultor foi admitido, em 1777, na Academia Real de Pintura e Escultura.

Em 1804, o boticário alemão Friedrich Serturner, em honra de Morfeu, deu o nome de morfina à droga que havia isolado a partir do látex da papoula, visto que ela propicia ao usuário sonolência e efeitos análogos aos sonhos.


domingo, 3 de outubro de 2010

Deformidade em Pescoço de Cisne / Gravura de Jan van Eyck

A deformidade em pescoço de cisne dos dedos das mãos, comumente causada por lesão ou por condições inflamatórias - como artrite reumatóide, é resultado da hiperextensão da articulação interfalângica proximal (IFP) e da flexão, com incapacidade de extensão, da interfalângica distal (IFD). Patogenicamente, podemos encontrar inflamações específicas ou não específicas produzindo afrouxamento dos ligamentos e cápsula, com destruição da articulação e elementos contensores do tendão. Na doença reumatóide, a causa é a grande instabilidade articular e tendinosa que se instala.

Jan van Eyck, um dos mais influentes pintores belgas, retratou John IV, duque de Brabant:

Jan van Eyck, John IV, Duque de Brabant (1441). Rotterdam, Museum Boymannsvan Beuningen

No desenho, é claramente perceptível uma deformidade em pescoço de cisne nos dedos da mão direita:

Detalhe evidenciando a deformidade em pescoço de Cisne na mão direita do Duque de Brabant.

Curiosamente, pouco tempo depois de concluir o desenho, Van Eyke, com a intenção de espalhar realidade em todos os seus pormenores, revolucionou as técnicas pictóricas inventando a pintura a óleo.

REFERÊNCIAS:
1.RONALDO J. AZZE, RAMES MATTAR JR., ANTÔNIO C. CANEDO; Técnica cirúrgica para correção da deformidade em pescoço de cisne dos dedos; RBO; Abril - 1993
2. DEQUEKER, J; Arthritis in Flemish paintings (1400-1700); British Medical_Journal, 1977, 1, 1203-1205.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

O Código de Hamurabi

Hamurabi, rei da babilônia que viveu no século XVIII a.C., foi o primeiro a instituir um código civil e criminal concernente à prática médica.

Coluna de basalto negro contendo o Código de Hamurabi. Museu do Louvre (Paris). Acima: detalhe da coluna mostra Hamurabi (à esquerda) adorando o deus Sol Shamashi.

Estima-se que o código tenha sido elaborado por volta de 1.700 a.C. Atualmente exposto no Louvre (Paris), dele fazem parte os seguintes artigos:

1.Se o médico trata de um Senhor, abre-lhe um abscesso e lhe salva um olho, receberá dez moedas de prata. Se o paciente é um escravo, seu dono pagará por ele duas moedas de prata.

2.Se o médico abre um abscesso com uma faca de bronze e provoca a morte do paciente, ou lhe faz perder um olho, suas mãos devem ser cortadas. No caso de se tratar, porem, de um escravo, o médico comprará outro e o dará em seu lugar.

3.Se um médico cura um osso doente ou um órgão doente, receberá cinco moedas de prata. Em se tratando de um escravo liberto, este pagará três moedas de prata. Se for um escravo, então o dono pagará ao médico duas moedas de prata.

4.Será nulo o contrato de venda de escravos que estiverem atacados de epilepsia ou lepra.

5.Os leprosos serão banidos do convívio social. Nunca mais conhecerão os caminhos de sua residência.

6.Se o aborto é provocado e a mulher morre, o culpado também será morto.

7.Se um homem casado viola uma jovem, o pai da jovem fará com sua mulher a pena do talião e ela ficará à sua disposição.

8.Será punida com a ablação dos seios a nutriz que deixar morrer seu filho, alimentando um outro.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Regeneração Hepática na Mitologia Grega

Desde a antigüidade, já se conhecia o fenômeno da regeneração hepática através da Mitologia Grega. Prometeu, irmão de Atlas, se desentendeu com Zeus por revelar o segredo do fogo dos deuses do Olimpo. Por conta disso, teve a perna acorrentada no alto de um penhasco e foi condenado a alimentar diariamente uma águia com parte de seu fígado. Entretanto, durante a noite o órgão sofria o processo de regeneração e assim era fonte renovável de alimento ao pássaro.

Prometheus Bounds; Pieter Pauwel Rubens (1577-1640); óleo sobre tela, 243 x 210 cm; Museum of Art, Philadelphia.


Prometeu Acorrentado (1762); Sebastien Nicolas-Sébastien Adam (1705-1778); escultura em mármore (Louvre).

Prometeu, Atlas e a Águia do Cáucaso (530 a.C). Escola Grega. Figura em negro. Museu do Vaticano (Vaticano).

Por conta desse fato mitológico, existe uma técnica cirúrgica de hepatectomia parcial chamada “Técnica de Prometeu”, na qual porções do fígado são retiradas em pequenos fragmentos.

REFERÊNCIAS:
1. Machado, A; Rocha, R. “Hepatectomia parcial: estudo da resposta proliferativa”; Rev. biociênc.,Taubaté, v.8, n.2, p.27-35, jul.-dez.2002.
2. O Livro de Ouro da Mitologia – Thomas Bulfinch
3. BEZERRA, Armando "Admirável mundo médico: a arte na história da medicina" - Brasília, 2002

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Por que a primeira vertebra chama-se atlas? / Atlas Segurando a Abóbada Celeste

A primeira vértebra chama-se atlas em alusão ao deus da mitologia grega Atlas, que, por conta de um desentendimento com Zeus (deus dos deuses), recebeu o castigo de ter que carregar, para o resto da vida, o mundo sobre seus ombros. Como a primeira vértebra cervical suporta o peso da cabeça, é chamada de atlas para lembrar o sacrifício imposto ao deus grego.

Atlas Segurando a Abóbada Celeste ou Atlas de Farnese (150 d.C.) Escola Romana. Museo Nazionale Archeologico (Nápoles).

A escultura acima representa Atlas segurando a abóbada celeste. A obra possui 2,1m de altura e o globo cerca de 65 cm de diâmetro. A estátua foi esculpida por volta de 150 d.C. e ficou conhecida pelo nome do cardeal italiano Alessandro Farnese, que a comprou, na segunda metade do século XVI. Ela é uma reprodução romana de uma original grega.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

A origem da expressão "tendão de Aquiles"

O tendão é assim chamado em honra de Aquiles, famoso personagem da Ilíada - poema épico grego - de Homero.

Aquiles, quando criança, foi batizado em um lago sagrado chamado Stix. Sua mãe o segurou pelos tornozelos e ele, de cabeça para baixo, foi imerso no lago. Ao retirá-lo da água, todo o seu corpo estava bento, exceto os tornozelos, que haviam permanecido enxutos. Aquiles desconhecia o fato de que seus tornozelos não estavam bentos e, portanto, eram vulneráveis. Durante um combate na guerra de tróia, uma flecha adversária o atingiu no tendão calcâneo (tendão de fixação distal dos músculos gastrocnêmio e sóleo no osso calcâneo), pondo-o fora de combate.

Essa pintura em vaso grego representa uma cena da Ilíada de Homero. Nela, vê-se o guerreiro grego Aquiles fazendo um curativo no braço de seu amigo Patroclo:


Aquiles tratando Patroclo. Vaso grego com figura em vermelho (500 a.C). Staatliche Museum (Berlim)

Em 1693, um anatomista francês chamado Phillipe Verheyen foi acometido de gangrena diabética na perna direita. Antes de se submeter à cirurgia de amputação do membro inferior doente, Verreyen pediu ao seu amigo ortopedista que, após a cirurgia, guardasse o membro amputado porque desejava, passado o período de convalescença, dissecar seu tendão calcâneo. Verreyen lembrou-se então do episódio ocorrido com Aquiles e passou, a partir daquele momento, nas suas aulas em público, a usar o nome tendão de Aquiles.

Aquiles Morrendo; estátua localizada nos jardins do Achilleion, em Corfu.

Atualmente com a abolição do uso dos termos eponímicos em Anatomia, o tendão de Aquiles voltou a ser chamado de tendão calcâneo.

REFERÊNCIAS:
BEZERRA, Armando "Admirável mundo médico: a arte na história da medicina" - Brasília, 2002
BEZERRA, A.J.C; DIDIO, L.J.A; PIVA JUNIOR,L. Terminos anatomicos en la iliada de Homero; Rev. Chil. Anat., 9(1): 73-77, 1991.