domingo, 27 de junho de 2010

Theodor Billroth - Medicina e Música

“É uma das superficialidades do nosso tempo julgar como opostas a ciência e a arte. A imaginação é mãe de ambas.” Theodor Billroth

Christian Albert Theodor Billroth, conhecido como “pai” da moderna cirurgia abdominal, também foi um talentoso pianista e violinista amador.

O MÉDICO:

Billroth trabalhou como médico de 1853-1860 na Charité , em Berlim. De 1860-1867 foi professor na Universidade de Zurique e diretor do hospital cirúrgico de Zurique. Lá, publicou seu livro clássico: Die Allgemeine chirurgische Pathologie und Therapie (1863). Cinco anos depois, Billroth tornou-se professor de cirurgia na Universidade de Viena e, posteriormente, foi nomeado chefe da Clínica Cirúrgica II no Krankenhaus Allgemeine (Hospital Geral de Viena), foi nessa instituição que ele desenvolveu plenamente seus extraordinários talentos e inovações nas técnicas cirúrgicas. O quadro abaixo, pintado por Seligman em 1890, retrata Billroth operando no Krankenhaus Allgemeine:

O cirurgião, descrito como intuitivo e inventivo, foi responsável por uma série de cirurgias, incluindo a primeira esofagectomia (1871), a primeira laringectomia (1873) e a mais famosa, a gastrectomia (1881) para câncer gástrico que recebeu seu nome (Billroth I – gastrectomia com duodenostomia e Billroth II – gastrectomia com jejunostomia). Conta-se que Billroth foi apedrejado quase até a morte nas ruas de Viena, quando o primeiro paciente submetido à gastrectomia morreu após o procedimento.

O MÚSICO:

Relatos biográficos deixam claro que o primeiro amor de Billroth foi a música. Quando jovem, não pensava em ser médico; graças ao incentivo da mãe e família, entrou na escola médica, onde foi considerado um aluno deficiente e com incapacidade de se concentrar em quaisquer coisas que não a música. Tempos depois, apaixonado pela profissão de médico, o cirurgião escreveria “Descobri que a medicina é uma arte tão encantadora quanto as outras”. Passou a valorizar seu ofício, mas mesmo depois que tornou-se famoso como cirurgião, Billroth continuou a ser apaixonado por música clássica. Seus avós, ambos profissionais cantores de ópera, ensinaram-o a tocar piano durante a infância, desde então passou a ser familiarizado com as obras de compositores clássicos. Em 1960, Billroth conheceu Johannes Brahms, época em que o compositor era ainda uma estrela em ascensão da cena musical vienense. Eles se tornaram amigos íntimos, e, influenciado por ele, o cirurgião resolveu escrever um livro chamado "Wer ist Musikalisch?" , segundo ele, tratava-se de uma “pequena obra fisiológica e psicológica sobre a música”. A obra, publicada postumamente por Hanslick, foi uma das primeiras tentativas de aplicar métodos científicos à musicalidade. Em 1887, vítima de insuficiência cardíaca, Billroth morreu em Opatija, Áustria-Hungria , antes que pudesse concluir a investigação.

O notável médico historiador Henry Sigerist descreveu Billroth como um herói carismático e um dos mais agradáveis personagens da história da cirurgia.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Kazi RA, Peter RE. "Christian Albert Theodor Billroth: master of surgery"; J Postgrad Med 2004; 50:82-83.
Tan S Y, MD, JD and Davis C A; “Theodor Billroth (1829-1894): pioneer of modern surgery”; Singapore Med J 2008; 49 (1) : 4

sábado, 26 de junho de 2010

Síndrome de Stendhal


"A beleza é apenas a promessa de felicidade" Stendhal

A rara Síndrome de Stendhal ou Síndrome da Sobredose de Beleza caracteriza a presença de sintomas num indivíduo sensível quando este se encontra diante de belas obras artísticas. Foi descrita em 1979, por Graziella Magherini, à época chefe do serviço de Psiquiatria do Hospital de Santa Maria Novella, em Florença. A psiquiatra observou que muitos turistas que visitavam Florença, quando portadores de grande sensibilidade emocional, eram afetados por um transtorno psíquico repentino. Foram identificados alguns sintomas comuns nessas pessoas, principalmente taquicardia, dispnéia e vertigem, que duravam desde momentos até diversos dias.

O nome escolhido para o distúrbio foi inspirado no grande escritor francês Stendhal (1783-1842), que descreveu em seu diário o transtorno emocional vivido ao visitar a Igreja de Santa Croce (Florença), a vertigem psíquica que ele sofreu foi tal, que o obrigou a sair da basílica para se recuperar:

"Ao chegar a Florença, meu coração batia com força... em uma curva da estrada, meu olho mergulhou na planície e percebi, de longe, como uma massa escura, Santa Maria Del Fiori e sua famosa cúpula, obra-prima de Brunelleschi. Eu me dizia: ‘É aqui que viveram Dante, Michelangelo, Leonardo da Vinci! Eis esta nobre cidade, a rainha da Idade Média! É nesses muros que começou a civilização”... as lembranças se comprimiam em meu coração, sentia-me sem condição de raciocinar e entregava-me à minha loucura como junto de uma mulher a quem se ama... Eu já me encontrava em uma espécie de êxtase pela idéia de estar em Florença e pela vizinhança dos grandes homens dos quais eu acabava de ver os túmulos [Michelangelo, Alfieri, Machiavel, Galileu]... Absorvido na contemplação da beleza sublime, que via de perto, eu a tocava, por assim dizer. Tinha chegado ao ponto da emoção onde se encontram as sensações celestes proporcionadas pelas belas-artes e os sentimentos passionais. Saindo de Santa Croce, meu coração batia forte, o que em Berlim chama-se "nervos"; a vida esgotara-se em mim, eu andava com medo de cair...” STENDHAL (Nápoles e Florença: Uma viagem de Milão a Reggio)

O espectro de sintomas parece ser bem variado. Segundo Magherini, algumas pessoas sofrem com alucinações e até mesmo alteração da percepção; outras manifestam desequilíbrio afetivo ou depressão; angústia e ataques de pânico podem ocorrer em outras. A remissão costuma ser rápida, mas depende do tipo de sintoma: os que apresentaram dissociações psicóticas, mania de perseguição ou alucinações têm sete vezes mais chance de não se recuperar rapidamente, comparados aos que tiveram apenas distúrbio afetivo ou sintomas depressivos. Esses pacientes compartilham uma vida de aparente equilíbrio que esconde, entretanto, insatisfações, dificuldades de relacionamento ou personalidade extremamente austera, que acaba sendo perturbada pela força evocativa da arte.

O escritor russo Dostoiévski também foi acometido por estranhas sensações quando viu “Cristo morto”, de Hans Holbein (Museu da Basiléia):

"A visão do rosto de Cristo após seu martírio desumano era terrível... Fiodor permaneceu em pé diante do quadro com uma expressão oprimida. Olhar o quadro me fazia mal, e fui para outra sala. Voltei 20 minutos depois e Fiodor ainda estava lá, na mesma posição diante do quadro. Seu olhar exprimia medo. Levei-o para outra sala, ele se acalmou lentamente, mas insistiu ainda em tornar a ver o quadro que tanto o perturbara". Por A. Snitkina (Esposa do escritor)




Hans Holbein “O Corpo de Cristo Morto na Tumba" (1521).
Tão forte foi a emoção sentida por Dostoiévski diante do quadro que, no romance O Idiota, ele descreveu sua experiência de “estranha inquietação” ao ver a pintura, através do personagem Hipólito:

“[...] Lembrei-me subitamente de um quadro que vira nesse dia em casa de Rogójin, numa das mais sombrias salas da sua sombria casa, por cima da porta. Ele próprio no mostrou à passagem. Acho que fiquei parado diante do quadro uns cinco minutos, não menos. A pintura não era grande coisa em termos artísticos, mas mergulhou-me numa estranha inquietação. [..] Nesse quadro está pintado um Cristo que acabaram de tirar da cruz. Parece que os pintores têm o hábito de representar Cristo, tanto crucificado como tirado da cruz, sempre com um toque de beleza no rosto; mesmo nos momentos de sofrimento mais terrível, acham que devem conservar-lhe a beleza. […] Com este quadro parece estar expressa precisamente a noção de uma força obscura, descarada e eternamente sem sentido a que tudo fica submisso, e esta noção transmite-se-nos involuntariamente. As pessoas que rodeavam o morto, nenhuma das quais está presente no quadro, deviam sentir uma terrível amargura e perturbação naquela noite que esmagou de vez todas as suas esperanças e, talvez, todas as suas crenças.”
O Idiota, F.M. Dostoiévski
Marcel Proust (1871/1922), no quinto volume de Em Busca do Tempo Perdido (A Prisioneira) relata a experiência do escritor Bergotte, frente ao quadro de Johannes Vermeer “A Vista de Delft”. A beleza provocou tão forte emoção, que o escritor sofreu um ataque fulminante e morreu ali mesmo, no chão do museu:

Jan Vermeer: Vista de Delft (1660). Óleo sobre tela. Museu Mauritshuis, Haia, Holanda

Curiosamente, a interessante síndrome serviu de mote para que o cineasta Dario Argento produzisse um filme (“La Síndrome di Stendhal”). Nele, a personagem principal “sente” os “sintomas” quando está frente ao quadro “A queda de Ícaro”, de Bruegel:



REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS:

MAGHERINI, Graziella. “La Sindrome di Stendhal”. Firenze, Ponte Alle Grazie, 1989. [1]
DOSTOIÉVSKI, Fíodor "O Idiota" Editora José Olympio, 1951 - Rio de Janeiro
AMANCIO, Edson José. Dostoevsky and Stendhal´s sydrome. Arq. Neuro-Psiquiatr. [online]. 2005, vol.63, n.4 [cited 2010-01-04], pp. 1099-1103
ALTIMARI, D.C; A Síndrome de Florença ou “Síndrome de Stendhal”; FCMSCSP

quarta-feira, 23 de junho de 2010

A Lição de Anatomia do Dr. Deyman (Rembrandt)

Sucessor do Dr. Tulp, Joan Deyman também contratou Rembrandt para pintar sua lição de anatomia. Infelizmente, seu rosto não ficou para posteridade por meio desse quadro, datado de 1656, porque um incêndio, ocorrido em 8 de novembro de 1723, danificou a obra que estava exposta o Colégio Médico de Amsterdã. Para recuperar o quadro, dando-lhe estética, os especialistas em restauração foram obrigados a recortar a cabeça queimada do anatomista.

Rembrandt. A lição de anatomia do Dr. Deyman (1656). 100 x 134 cm. Rijksmuseum, Amsterdã.

A Lição de Anatomia do Dr. Deyman é raríssima, pois trata-se de uma neurodissecação (os dois hemisférios cerebrais podem ser facilmente identificados).Por trás do cadáver identificamos o professor, cujas mãos, segurando um bisturi, é tudo o que restam dele.Na pintura, o anatomista é retratado retirando a foice do cérebro do espaço formado pela fissura longitudinal. O corpo que aparece é de Joris Fonteijn, um ladrão conhecido como “Black Jan”, condenado a morte em 27 de janeiro de 1656.A calota craniana é segurada por Gijsbert Kalkoen, filho de Matthys Evertsz Kalkoen (também pintado por Rembrandt, 24 anos antes, na Lição de Anatomia do Dr. Tulp). Talvez esta seja a única lição em que o corpo é colocado sobre a mesa na posição podo-cranial. Para pintar o cadáver nessa perspectiva, Rembrandt provavelmente inspirou-se na pintura O Cristo Morto (1480), de Mantegna.


O Cristo Morto,1480, Andrea Mantegna.

sábado, 19 de junho de 2010

História da Artrite do Artista / Pierre A. Renoir

"A dor passa, mas a beleza permanece." Renoir

No entendimento particular de que a genialidade é maior que a arte e de que a própria arte pode se traduzir facilmente através da genialidade, focalizo Pierre Auguste Renoir. Segundo o reumatologista Valderílio Azevedo, este conceito particular de genialidade está centrado numa tentativa de utilização por parte do ser humano de seus dons naturais em busca da superação de suas limitações e enfrentamento das ameaças à sua existência individual e da própria sociedade de que é parte. Nesse sentido, Renoir é considerado um gênio. Qualquer um que entre em contato com uma coleção de pintura francesa do século XIX sentirá, ao ver os quadros de Renoir, as mais joviais e festivas comemorações à vida retratadas. Suas pinturas, tão belas, são uma festa para os olhos. Renoir retratou a beleza da figura humana, da natureza e das paisagens, traduzindo-as em um espetáculo de cores, de alegria e júbilo com a vida. Mesmo sofrendo intensamente ao final de sua existência, não parou de pintar e de produzir arte.


Pierre Auguste Renoir (1841-1919) nascido em 25 de fevereiro de 1841, em Limoges (França), foi vítima de uma artrite reumatóide grave nas últimas décadas de sua vida. Há dúvida sobre o ano em que as manifestações surgiram, estudiosos crêem que em torno de 1892, quando Renoir tinha cerca de 50 anos de idade. Quando já com 60 anos (1903) a doença assumiu uma forma mais agressiva, e a progressão o fez ficar muito deficiente, principalmente a partir dos 70 anos de idade, nos últimos sete anos da sua vida. Apesar da ausência de registros médicos, é possível, graças às fotografias, cartas pessoais e notas biográficas de pessoas que o conheciam intimamente, ter uma idéia razoável sobre o curso de sua doença:

Fig.1: Fotografia do ano de 1896. Renoir com 55 anos. Observando atentamente a imagem, é possível vizualizar o inchaço das articulações metacarpofalangeanas:



Fig.2: Em 1903, vemos que a artrite assumiu uma forma mais agressiva. A fotografia revela que Renoir, na idade de 62 anos, tenta com dificuldade segurar o seu inseparável cigarro em suas mãos deformadas:


Fig.3: Quando Renoir tinha 71 anos, a natureza agressiva da doença atacou-o de tal forma que resultou na anquilose de seu ombro direito e rupturas de tendões extensores dos dedos e punhos, levando a função deficiente das mãos. Com essas mãos deformadas, ele continuou a enrolar seus cigarros e, segundo seu neto, produziu mais de 400 obras.


Uma série de imagens ilustra como a doença afetou suas pernas e pés. Em 1901, com 60 anos de idade, quando seu filho caçula Claude (Coco) nasceu, ele precisou usar uma bengala para se locomover (Fig.4). Já em 1908, tornou-se difícil andar com apenas uma, e Renoir passou a utilizar duas bengalas (Fig.5).





Fig.6: A partir de 1912, Renoir passou a ocupar uma cadeira de rodas. Nesta fotografia ele está sentado ao lado de suas telas e de sua modelo Dédée (Blonde à la Rose 1915).



Fig.7: As deformidades dos pés progrediram a tal ponto que o fez incapaz de usar sapatos. Seus pés tinham de ser envolvidos em chinelos de lã.



Fig. 8: A doença não impedia que Renoir continuasse seus passeios, e quando precisava ir a lugares em que era difícil chegar através da cadeira de rodas, o pintor pedia para ser transportado em sua liteira por seus amigos e familiares.



Há evidências de que a artrite reumatóide afetou não apenas as articulações. Alguns relatos afirmam que no início da doença Renoir foi acometido por uma pleurite e, posteriormente, por uma paralisia facial, que foi tratada com eletroterapia. Em 1904, na faixa etária de 63 anos, ele começou a perder massa magra por causa da caquexia reumatóide (Fig.9). Cinicamente, ele relata isso em uma carta: "É impossível ficar sentado porque sou extremamente magro. Não pode haver gordura em quarenta e seis quilos. Meus ossos estão furando a minha pele, apesar do meu bom apetite".

Fig. 10: Apesar das dores consideradas incapacitantes, da deformidade progressiva de suas mãos, da anquilose no ombro, e da dificuldade de segurar o pincel, Renoir continuou a realizar seu belíssimo trabalho. Quando ficou difícil segurar a paleta na mão, ele pediu para que ela fosse fixa, como uma mesinha rotatória, no braço de sua cadeira de rodas.Além disso, Renoir, para adaptar sua técnica de pintura, pedia que sua esposa amarrasse os pincéis em suas mãos.



Após 1912, os nódulos existentes em suas costas tornaram-se muito incômodos. No ano de 1913, estes nódulos foram removidos pelo Dr. Prat (cirurgião do Hospital Belvédère, em Nice). Em 1918 foi descrita uma gangrena no pé, mesmo ano em que, apesar de muito cuidado, ele desenvolveu escaras. É interessante observar que, surpreendentemente, o artista começou a esculpir durante os últimos 12 anos de sua vida. Quando a doença que o acometia já estava num estado bem avançado, Renoir fez um busto e mais tarde um medalhão (fig. 11) da cabeça de seu filho caçula.


Em 03 de dezembro de 1919, Renoir veio a falecer devido a uma pneumonia, depois de passar várias horas da noite pintando uma natureza morta, para representar as maçãs que Coco, seu filho predileto, trouxe-lhe numa cesta no dia anterior.

A atitude demonstrada por este artista no enfrentamento de seus problemas de saúde por meio das técnicas que utilizou para superar a dor e continuar pintando mesmo com as restrições imposta pela atividade da artrite reumatóide e por suas sequelas articulares, numa época em que as opções do tratamento eficaz desta enfermidade eram de certa forma muito pobres, faz dele um objeto de grande admiração.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
1.BOONEN, A., REST, Jan van; “How Renoir coped with rheumatoid arthritis” BMJ 1997;315:1704-1708
2. Azevedo, V; A Beleza e a Dor: artistas visuais famosos e suas doenças reumáticas; Curitiba: Artes Gráficas e Editora Unificado, 2008.
3.WHITHE , B; "Renoir, his life, art and letters". New York: Abrams, 1984.
4.LOUIE, J; "Renoir, his art and his arthritis." In: Appelboom T, ed. Art, history and antiquity of rheumatic diseases. Brussels: Elsevier, 1987:43-4.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

"Sibilos" na Literatura Francesa - Marcel Proust

Marcel Proust, no terceiro dos sete livros de Em Busca do Tempo Perdido intitulado O Caminho de Guermantes traz-nos um capítulo inteiro dedicado à doença de sua avó, onde conta de forma poética desde a história clínica até o prognóstico. Encontramos, no capítulo primeiro da segunda parte, uma artística descrição dos sibilos que surgiam "feito uma canção" do peito da enferma:

“[...]Eu saíra um instante do quarto. Quando tornei a entrar, achei-me como diante de um milagre. Acompanhada em surdina por um murmúrio incessante, minha avó parecia dirigir-nos um longo canto feliz que enchia o quarto, rápido e musical. Compreendi logo que esse canto não era menos inconsciente, que era tão puramente mecânico como o arquejar de há pouco. Provinha principalmente, como o ar já não passava da mesma forma pelos brônquios, de uma mudança no registro da respiração. Livre graças à dupla ação do oxigênio e da morfina, o sopro da minha avó não mais se debatia, não mais gemia, mas vivo, leve, deslizava, patinando, para o fluido delicioso. Talvez ao alento, insensível como o do vento na frauta de um caniço, se mesclasse, naquele canto, um desses suspiros mais humanos que, libertados à aproximação da morte, fazem acreditar em impressões de sofrimento e felicidade naqueles que já não sentem, e viessem acrescentar um acento mais melodioso, mas sem mudar-lhe o ritmo, àquela longa frase que se elevava, subia ainda mais, depois retombava, para lançar-se de novo, do peito aliviado, em perseguição do oxigênio. Depois, chegado assim tão alto, prolongado com tamanha força, o canto, mesclado de um murmúrio de súplica na volúpia, parecia em certos momentos parar de todo como uma fonte que se esgota.”

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Autorretrato de Goya com o Doutor Arrieta

"Goya em gratidão ao seu amigo Arrieta pela competência e o cuidado com que ele salvou sua vida em sua doença aguda e perigosa sofrida no final de 1819 na idade de 73 anos. Pintou-o em 1820." F. Goya (inscrição que consta na parte inferior do Autorretrato de Goya com Dr. Arrieta)



Foi no outono de 1792 que Francisco José de Goya y Lucientes, pintor favorito dos reis de Bourbon, ficou febril e hemiplégico à direita, mesma época em que tornou-se surdo, possuía ele 46 anos de idade. Goya já tinha a saúde bastante debilitada, queixava-se frequentemente de fortes dores e fraqueza muscular, sintomas conseqüentes a uma intoxicação crônica resultante da absorção, por seu organismo, do chumbo (saturnismo) existente no pigmento branco da tinta que usava. Aos 73 anos (1819), sofreu novo acidente vascular cerebral, o que agravou sua hemiplegia. Seriamente doente, entregou-se aos cuidados do médico e amigo Eugenio García Arrieta. Logo que seu estado de saúde melhorou, Goya pintou o Autorretrato de Goya com o Doutor Arrieta para presentear ao médico como prova de sua gratidão pelo amparo recebido durante a doença. Nessa belíssima pintura, o artista retratou-se agonizante, com o rosto pálido, a boca ligeiramente aberta, aparentemente sem forças e sustentado pelo Dr. Arrieta, que com carinho e delicadeza ampara o enfermo enquanto lhe administra um medicamento por via oral.

sábado, 12 de junho de 2010

O Amor como Fator Patogênico/Thomas Mann

"É necessário arrancar o gênero humano dos estados primitivos do medo e da apatia passiva e conduzi-lo rumo à fase da atividade consciente do seu objetivo. É mister ensinar-lhe que desaparecem os efeitos cujas causas primeiro reconhecemos e depois abolimos, e que quase todos os males do indivíduo são enfermidades do organismo social." Thomas Mann

A Montanha Mágica, concluída por Thomas Mann em 1924, surgiu a partir de uma experiência pessoal cujo o escritor assim descreve: “Em 1912 minha esposa teve um problema pulmonar que, embora não sério, exigiu uma permanência de seis meses num sanatório em Davos, Suiça.” Hospedado numa localidade vizinha, Mann também ficou doente; o médico diagnosticou uma “mancha úmida” no pulmão e recomendou uma hospitalização, igualmente por seis meses. “Em vez disso”, conta Mann, “escrevi A Montanha Mágica.”

A citação abaixo, tema de grande controvérsia na área médica, faz parte de uma palestra em que um dos personagens, o psiquiatra do sanatório, Dr. Krokowski, explica aos pacientes a relação entre a doença e a paixão. O analista acredita que as enfermidades são resultado de uma sensibilidade exacerbada, o que facilitaria a suscetibilidade às moléstias:

Existia então uma tensão extraordinária, uma paixão que ultrapassava as medidas habituais, burguesas, e essa tensão se fazia sentir entre os dois grupos de forças, que eram a necessidade de amor e os impulsos contrários, dentre os quais cumpria mencionar a vergonha e o asco. Travada nos abismos da alma, essa luta impedia, nos ditos casos, que os instintos extraviados chegassem a ser abrigados, protegidos e moralizados, daquele modo que conduzia à harmonia usual e à vida erótica regular. E como terminava esse combate – pois tratava-se de um combate – entre as potências da castidade e do amor? Terminava,aparentemente, com a vitória da castidade. O medo, as conveniências, a repugnância pudica, o trêmulo desejo de pureza – todos eles oprimiam o amor, mantinham-no agrilhoado, nas trevas, davam acesso à consciência e à atividade, quando muito a uma parte, jamais, porém, ao todo múltiplo e vigoroso das suas reivindicações confusas. No entanto, essa vitória da castidade não era mais que aparente, não passava de uma vitória de Pirro, pois a potência do amor não se deixava reprimir nem violentar, o amor oprimido não estava morto, não; vivia, continuava, nas trevas, no mais profundo segredo, a almejar a sua realização, rompia o círculo mágico da castidade e ressurgia, ainda que sob forma metamorfoseada, dificílima de reconhecer... E qual era, afinal, a forma e a máscara que usava o amor vedado e oprimido na sua reaparição? Eis o que disse o Dr. Krokowski:
– Sob a forma de doença. O sintoma da doença nada é senão a manifestação disfarçada da potência do amor; e toda doença é apenas amor transformado.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
MANN, Thomas; A Montanha Mágica, 1924.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Sinal de Babinski nas Representações Artísticas do Menino Jesus

O sinal de Babinski, observado quando há a extensão do hálux e a abertura em leque dos dedos em decorrência de um estímulo na planta do pé, foi descrito inicialmente por Joseph Jules François Félix Babinski (1903), neurologista que lhe dá o nome como indicativo de lesão neurológica. A presença do sinal representa a desinibição do reflexo espinal normal decorrente de lesão das vias inibitórias descendentes desde o cérebro ou medula espinal.

Clinicamente, o sinal de Babinski é produzido passando-se cuidadosamente na parte lateral do pé um objeto de ponta arredondada e estendendo o estímulo discretamente para o aspecto medial através da área metatársica. A resposta positiva tem dois componentes: dorsiflexão do hálux e abdução discreta (abertura em leque) dos outros artelhos. No reflexo normal, observado nas crianças com mais de dois anos e nos adultos, há a flexão plantar dos dedos do pé em resposta ao estímulo.



Grandes artistas, provando possuírem uma capacidade singular de observação, representaram a presença do sinal de Babinski no menino Jesus:







REFERÊNCIAS:
1.BEZERRA, A.J.C.; As belas artes da medicina. Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal, Brasília, 2003.
2.KAHAN, Scott; Sinais e Sintomas; GUANABARA KOOGAN, RJ, 2005.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Manuel Bandeira - O Poeta Tuberculoso

Mas então não farei mais nada porque em mim o poeta é a tuberculose. Eu sou Manuel Bandeira, o Poeta Tísico. Manuel Bandeira

Em 1904, o jovem Bandeira, com apenas 18 anos, teve que abandonar o sonho de ser arquiteto devido a um diagnóstico de tuberculose, pois naquele tempo tal sentença equivalia a uma condenação. O poeta, convencido pelos médicos da impossibilidade de viver naquelas condições por mais de quinze anos, passou boa parte da vida esperando a morte iminente. À época, os tratamentos eram realizados em sanatórios situados em lugares elevados por causa dos supostos benefícios da atmosfera rarefeita das alturas, locais estes que possibilitavam também o isolamento e o repouso. Foi nesse ambiente tedioso que Bandeira iniciou sua atividade literária, talvez por isso seja a tuberculose tão marcante em sua obra; grande parte de seus escritos são dedicados à doença. Em Pneumotórax Manuel Bandeira fala de sua experiência pessoal:

Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos, /
A vida inteira que poderia ter sido e não foi. /
Tosse, tosse, tosse. /
Mandou chamar o médico. /
Diga trinta e três. /
Trinta e três... trinta e três... trinta e três... /
Respire /
O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo /
e o pulmão direito infiltrado. /
Então doutor, não é possível tentar o pneumotórax? /
Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.

No tempo em que a tuberculose era considerada a “moléstia que não perdoa” o pneumotórax era o único procedimento capaz de aliviar a enfermidade; nos casos graves, quando já não era possível instituir nem esse tipo de tratamento, restava apenas a esperança ou, como diz Bandeira,“Tocar um tango argentino”.

Manuel não morreu por conta da temida tuberculose que tanto influenciou na criação de seus poemas. A doença tornou-se crônica e, com o bloco de fibrose que tinha em lugar de pulmão, conseguiu o poeta viver durante muitos anos. Sua morte (consequência de uma hemorragia digestiva alta) ocorreu apenas em 1968, possuía ele pouco mais de 80 anos.


terça-feira, 8 de junho de 2010

Sete Curiosidades na "Lição de Anatomia do Dr. Tulp" de Rembrandt van Rijn

Este óleo sobre tela em estilo barroco fora encomendado pela Associação de Cirurgiões de Amsterdã e retrata uma aula de anatomia do Dr. Nicolaes Tulp. Concluída em 1632 pelo pintor holandês Rembrandt Harmenszoon van Rijn, "A Lição de Anatomia do Dr. Tulp" tornou-se a obra de arte mais conhecida pelos médicos.



Vale a pena destacar alguns detalhes pitorescos do quadro:


  1. O nome do pintor e a data da conclusão da pintura podem ser vistos em um quadro de avisos pendurado na parede ao fundo do laboratório de anatomia. Rembrandt, para não macular sua bela obra, preferiu não colocar sua assinatura como se faz usualmente.

  2. O aluno mais próximo do Dr Tulp tem à mão uma folha de papel, na qual imaginava-se que estavam escritos os nomes dos músculos do antebraço que estão sendo mostrados, impressão que se desfaz quando percebe-se que, imediatamente acima do chapéu do Dr. Tulp, há uma pincelada grafando o número 1. Assim, o primeiro nome da lista é o do Dr. Tulp, os outros sete números correspondem ao nome dos alunos presentes na aula.

  3. A obra contém um erro onde menos se podia esperar: Os músculos flexores superficiais, na pintura, estão nascendo do epicôndilo lateral (aqui, na verdade, originam-se os músculos extensores e supinadores do antebraço.) Os músculos flexores superficiais do antebraço se originam do epicôndilo medial do úmero.

  4. O corpo dissecado pertencia a Adriaan Adriaans, também conhecido por Aris Kint, um ladrão que havia sido enforcado por roubo.

  5. Estudiosos da pintura acreditam que o braço esquerdo pintado não é o braço de Aris Kint, mas de um outro cadáver previamente dissecado por Tulp (É bastante perceptível que o antebraço esquerdo é maior que o direito).

  6. Segundo mostrou o raio X da pintura, inicialmente a mão direita do cadáver não tinha dedos. Rembrandt pintou-a posteriormente com base na mão de outra pessoa (É uma mão delicada, com unhas bem cortadas, nada lembrando a de um ladrão). Considera-se a possibilidade de Aris Kint ter tido a mão cortada quando ainda vivo, pois no século XVII, em algumas situações, havia na Holanda a prática jurídica de se amputar a mão do ladrão como pena prévia à pena capital.

  7. A Lição de Anatomia do Dr. Tulp está exposta no Museu Mauritshuis, Em Haia, interior da Holanda. A casa onde funciona o Museu pertenceu ao colonizador Maurício de Nassau, e no subsolo encontram-se expostas gravuras de Debret enfocando o Brasil.











REFERÊNCIAS:
BEZERRA, A.J.C.; DIDIO, L.J.A.; PIVA JÚNIOR, L. Dissecation of Rembrandts Anatomy of Dr. Nicolaas Tulp. Arch. Ital. Anat. Embriol., 96(2): 153-164, 1991.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Smierdiakov - O Epiléptico em "Os Irmãos Karamazov" de Dostoiévski

"O criminoso, no momento em que pratica o seu crime, é sempre um doente." F.M. Dostoiévski

O livro que segundo Sigmund Freud classifica-se como “a maior obra da história” traz-nos uma surpresa atrás da outra quanto à epilepsia do personagem parricida de Dostoiévski.

Filho de uma mendiga sem juízo, Smierdiakov cresceu como criado na casa do provável pai, que nunca o reconheceu como filho. Acometido pela síndrome desde a infância, o menino apresentou inúmeras crises generalizadas, inclusive do tipo pequeno mal.

No decorrer da história, Dostoiévski faz uma curiosa comparação da possível crise de ausência de Smierdiakov com o quadro de um famoso pintor russo:

[...] Uma semana depois, teve ele uma primeira crise de epilepsia, doença que não o deixou mais dali por diante. Os ataques variavam de intensidade, ora fraquíssimos, ora violentos.[...]Às vezes, em casa, no pátio ou na rua, acontecia do rapaz parar, deter-se ensimesmado, e ficar assim uma dezena de segundos. O fisionomista que o olhasse veria que ali não havia pensamento nem idéia, apenas uma espécie de devaneio. Há um notável quadro do pintor Kramskói, intitulado O Contemplativo. Uma floresta no inverno; sobre a estrada vê-se um mujique, vestido com um cafetã rasgado e com sapatos de tília. Ali está numa solidão profunda e parece refletir, mas não pensa, contempla alguma coisa. Se se desse nele um encontrão, certamente estremeceria e nos fitaria como quem desperta dum sono profundo, mas sem compreender. Voltaria logo a si, é verdade; mas se lhe perguntassem em que pensava, com toda certeza não se lembraria de nada. (Dostoiévski.)

Na trama, Smierdiakov tem uma crise logo após cometer um crime, a partir daí, entra num estado de mal epiléptico:

“Deram-lhe a entender que era uma crise extraordinária, que se repetira diversas vezes, pondo em perigo a vida do doente. Agora, graças às medidas tomadas, podia-se afirmar que ele escaparia, mas talvez, acrescentou o Doutor Herzenstube, sua razão ficasse perturbada, se não para sempre, pelo menos por muito tempo.”

Essa condição levou o juri a crer que no momento do assassínio Smierdiakov já estava em crise e o fato de ser "doente" tornou-o insuspeito de ter matado o pai, culpa que cai sobre seu irmão mais velho, que é condenado injustamente em seu lugar.

Leia Mais: O Grande Mal que deu Luz a "O Idiota" De Dostoiévski: http://bit.ly/9F5CWP

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
DOSTOIÉVSKI, Fíodor; Os Irmãos Karamazov, trad. Raquel de Queiroz, JOSÉ OLYMPIO, RJ, 1962

domingo, 6 de junho de 2010

Cretinismo na Pintura / "O Anão Francisco Lezcano" - Diego Velázquez

Uma obra de extremo realismo desenvolvida por Diego Velázquez chama-se El Nino de Vallecas. A pintura retrata Francisco Lezcano, um dos muitos anões que faziam parte da corte espanhola com objetivo de distrair e brincar com o príncipe. Este garoto foi um dos responsáveis pela diversão do infante Baltazar Carlos durante quase quinze anos.


O Anão Francisco Lezcano, Ou O Menino de Vallecas (1645). Diego Velázquez. Óleo sobre tela, Museu do Prado (Madrid)

Segundo endocrinologistas que analisaram a fisionomia retratada por Velázquez, Francisco provavelmente havia sido acometido de cretinismo. Observando atentamente a pintura, não fica difícil supor as razões que os levaram a crer nesse diagnóstico: Extrema palidez, língua tendente à protrusão (que faz com que a boca permaneça entreaberta), nariz chato, pálpebras intumescidas e mãos com mixedema.



LEIA TAMBÉM:

Acondroplasia na Arte / "Retrato de Sebastián de Morra" - Diego Velázquez

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Impactos da surdez na vida e obra de Beethoven

"Quando encontro-me em profundo desespero, tenho paciência e penso: todo o mal traz consigo algum bem." Ludwig van Beethoven

É bem conhecido que o admirável músico alemão foi atormentado por uma progressiva surdez durante grande parte de sua vida. Essa condição levou o gênio a um isolamento social extremo devido ao qual sofreu grave depressão. Paradoxalmente, foi nesse momento que Beethoven alcançou uma linguagem musical ímpar em termos de emoções, chegando ao ápice do sucesso de sua carreira.

Através de fragmentos extraídos de textos escritos pelo próprio compositor, podemos conhecer o processo que culminou na grave deficiência auditiva, bem como avaliar a profunda angústia que esta lhe causou.


SURDEZ

Os primeiros sintomas ocorreram em Viena, tinha Ludwig os seus 26 anos de idade. Iniciada precocemente com um estranho zumbido, a surdez foi progredindo, até alcançar um estado irreversível de grave deficiência auditiva.

Numa carta ao amigo e médico Franz Gerhard Wegeler, datada de 21 de junho de 1801, o maestro refere detalhadamente a progressão dos sintomas, os tratamentos propostos por vários médicos, obviamente inúteis, e a angústia provocada pela ineficácia dos métodos empíricos.

Você tem tido notícia da minha situação? Os meus ouvidos nos últimos 3 anos estão cada vez mais fracos. Frank, o diretor do Hospital de Viena, procurou retonificar o meu organismo com tônicos e meus ouvidos com óleo de Mandorle. Não houve nenhum efeito, a surdez ficou ainda pior. Depois um asno de um médico me aconselhou banhos frios, o que me levou a ter dores fortes. Outro médico me aconselhou banhos rápidos no Danúbio, todavia a surdez persiste, as orelhas continuam a rosnar e estalar dia e noite. Te confesso que estou vivendo uma vida bem miserável. Há quase 2 anos me afastei de todas as atividades sociais, principalmente porque me é impossível dizer para as pessoas : Sou surdo !... Se minha profissão fosse outra, talvez poderia me adaptar à minha doença, mas no meu caso a surdez representa um terrível obstáculo. E se os meus inimigos vierem a saber ? O que falarão por aí? Para te dar uma ideia desta estranha surdez, no teatro eu tenho que me colocar pertíssimo da orquestra para entender as palavras dos atores e a uma certa distância não consigo ouvir os sons agudos dos instrumentos e do canto. Surpreendentemente, nas conversas com as pessoas muitos não notaram minha surdez, acreditam que eu sou distraído. Muitas vezes posso ouvir o som da voz mas não entendo as palavras, mas se alguém grita eu não suporto ! O doutor Vering me disse que certamente meu ouvido melhorará, se isso não for possível tenho momentos em que penso que sou a mais infeliz criatura de Deus.

Em de novembro de 1801, Beethoven, cheio de esperanças, reescreveu à Wegeler:

O que você pensa do doutor Schmidt? Parece ser um outro homem. Me contam maravilhas dele. O que você acha? Um médico me disse que viu em Berlim um menino surdo-mudo começar a ouvir e um homem surdo por sete anos se curar totalmente.

Chegou a consultar-se com o doutor Schmidt, que apenas recomendou que descansasse em Heilingenstadt, pequena aldeia proxima à Viena.

DEPRESSÃO:

E foi em Heilingenstadt que Beethoven atingiu a plenitude de seus pensamentos musicais. Lá também, escreveu o Testamento de Heilingenstadt, documento que nos prova o drama psicológico vivido pelo compositor em seu isolamento. A depressão do maestro, em parte, foi reflexo de sua doença, mas não deixemos de mencionar que, filho de um pai rígido e rude, Beethoven parece ter tido uma infância bem infeliz, o que, de fato, influenciou muito na crise que quase o levou ao suicídio.

Ó homens que me tendes em conta de rancoroso, insociável e misantropo, como vos enganais. Não conheceis as secretas razões que me forçam a parecer deste modo. Meu coração e meu ânimo sentiam-se desde a infância inclinados para o terno sentimento de carinho e sempre estive disposto a realizar generosas ações; porém considerai que, de seis anos a esta parte, vivo sujeito a triste enfermidade, agravada pela ignorância dos médicos. [...]Devo viver como um exilado. Se me acerco de um grupo, sinto-me preso de uma pungente angústia, pelo receio que descubram meu triste estado. Mas que humilhação quando ao meu lado alguém percebia o som longínquo de uma flauta e eu nada ouvia! Ou escutava o canto de um pastor e eu nada escutava! Esses incidentes levaram-me quase ao desespero e pouco faltou para que, por minhas próprias mãos, eu pusesse fim à minha existência. Foi a arte, somente a arte, que me salvou. Ah, parecia-me impossível deixar o mundo antes de ter dado tudo o que ainda germinava em mim![...]Esta foi minha vida, angustiosa. Quando lerem estas linhas saberão que aqueles que de mim falaram, cometeram grande injustiça. Peçam ao Dr. Schmidt para descrever minha doença para que o mundo possa se reconciliar comigo, ao menos após minha morte. Ludwig van Beethoven, in Testamento de Heilingenstadt, 6 de Outubro de 1802. [O testamento foi encontrado em Viena, numa pequena escrivaninha, anos após a sua morte.]

ESTUDOS PATOGÊNICOS:

Inúmeras hipóteses têm surgido para determinar as condições patológicas que causaram a surdez do músico, mas apesar das diversas propostas, a verdadeira natureza ainda é desconhecida. Segundo alguns autores, a perda progressiva e o zumbido tipo chiado referido por Beethoven são sintomas característicos de otosclerose. Um artigo mais recente defende que se trata de uma surdez tipo mista, devido ao início precoce, bilateral, simétrico e de evolução diferente de cada lado. Considera-se também a hipótese de que o ouvido interno pudesse ter sido acometido por uma neurite tóxica, infecciosa ou luética.

Dados da autópsia realizada no dia seguinte de sua morte:

"A cartilagem do pavilhão é grande e irregular. O meato acústico externo próximo ao tímpano mostra descamações epiteliais. A trompa de Eustáquio tem mucosa espessa e a parte óssea estreita. As células mastoideas e o parte petrosa do osso temporal principalmente próximo à
cóclea está hiperêmico. Os nervos acústicos estão atróficos e desmielinizados. As artérias auditivas estão dilatadas e escleróticas”. por Johann Wagner e Karl Rokitansi

A CRIAÇÃO - NONA SINFONIA:

Proporcionalmente ao processo de perda de audição, surgiram sons que “gritavam” na cabeça de Beethoven, sons estes que, segundo ele, expressavam sua alma e sua vida. Foram esses sons que deram origem a sua obra-prima. Completada em 1824, quando já quase completamente surdo, foi a última sinfonia composta por Beethoven. A mais conhecida obra do compositor foi apresentada pela primeira vez em Viena. O músico que regeu a sinfonia foi Michael Umlauf, na época também diretor do teatro. Beethoven hesitou a regência graças ao avançado estado de sua surdez. Ao término da apresentação, o artista não pode perceber que estava sendo ovacionado. Umlauf teria ido a ele e o virado em direção ao público para aceitar seus aplausos.

Abaixo, um vídeo com a representação da Nona sinfonia em sua estréia. Faz parte de “Beloved Immortal”, um filme magnificamente dirigido por Bernard Rose. O vídeo evidência a surdez diante da orquestra, a forma como a música “gritava em sua cabeça” fazendo-o ouvir enquanto relembra cenas da própria vida e Umlauf virando-o para receber os aplausos.



"Abracem-se milhões! Enviem este beijo para todo o mundo! Irmãos, além do céu estrelado Mora um Pai Amado. Milhões se deprimem diante Dele? Mundo, você percebe seu Criador? Procure-o mais acima do Céu estrelado! Sobre as estrelas onde Ele mora!" - Ode an die Freude, Schiller, 1786. (Nona sinfonia, quarto movimento).

Através da inevitável solidão Beethoven alcançou uma linguagem musical cheia de emoções, que provavelmente nunca teria conseguido em condições físicas normais. Já que não podia ouvir o mundo, a voz criativa que havia em si manifestou-se plenamente. Talvez a própria surdez, por isolá-lo do mundo e colocá-lo entre as estrelas, tenha sido uma das principais colaboradoras de sua genial obra.

REFERÊNCIAS:
1.MORRIS, EDMUND “Beethoven” , OBJETIVA, 2007.
2.BENTO, R. “A Surdez de Beethoven, O Desafio de um Gênio” Arq. Int. Otorrinolaringol. / Intl. Arch. Otorhinolaryngol.,São Paulo, v.13, n.3, p. 317-321, 2009.
3. Beethoven, Ludwig, "testament", Heiglnstadt, 6 de octubre de 1802.



Michelangelo: O Pecado Original e a Expulsão do Paraíso - Anatomia da Região Cervical

"Não há nenhum animal cuja anatomia ele não dissecasse, e trabalhou em tantas anatomias humanas que aqueles que haviam passado suas vidas nisso e feito disso sua profissão dificilmente saberiam tanto quanto ele." Condivi, A Vida de Michelangelo


A CENA:

O paraíso retratado por Michelangelo mostra duas situações distintas:

Esquerda: O pecado original (Note a figura feminina sobre a árvore que oferece o fruto proibido a Eva – representa a serpente)
Direita: A expulsão do paraíso (Nessa segunda etapa, os rostos de Adão e Eva aparecem envelhecidos)

ACHADOS ANATÔMICOS:

A intenção de Michelangelo seria a de representar a região cervical. Atente ao fato de que o anjo que ordena a expulsão aponta a espada para a cervical de Adão. Este estica o pescoço, flexionando a cabeça para esquerda.


Tronco junto ao dorso de Eva: Representação do arco aórtico com as coronárias emergindo da base (pequenas raízes), o tronco braquicefálico à direita, artéria carótida comum, artéria carótida interna e externa.


a) arco aórtico; b) veia jugular; c) artéria carótida com sua bifurcação; d) nervo hipoglosso emergindo junto à veia jugular e cruzando a artéria carótida externa.

Árvore principal: Não possui uma linha de continuidade com o galho em que Adão apóia as mãos. Tem-se a impressão de que esse galho está emergindo da parte posterior do tronco, mas, se isso ocorresse, porque estaria projetado para o lado esquerdo, como foi retratado, e não para o plano ao fundo? Nota-se também o braço direito da figura da serpente, apoiado junto a porção superior do tronco, e o braço esquerdo que cruza o galho da árvore no plano anterior.

LEIA MAIS: O Anatomista Michelangelo Revelado no Teto da Capela Sistina - http://migre.me/LLZy


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BARRETO, Gilson "A Arte Secreta de Michelangelo",São Paulo: Arx, 2004
CONDIVI,A; "Life of Michelangelo",TRAFALGAR SQUARE.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Síndrome de Alice no País das Maravilhas (SAPM) / Síndrome de Todd

“Mas não quero me meter com gente louca”, Alice observou.
“Oh! É inevitável”, disse o Gato; “somos todos loucos aqui. Eu sou louco. Você é louca.”
“Como sabe que sou louca?” perguntou Alice.
“Só pode ser”, respondeu o Gato, “do contrário, não estaria aqui.” Lewis Carroll

A Síndrome de Todd foi descrita em 1955 pelo psiquiatra inglês John Todd que, leitor e fã de Lewis Carroll, propôs que a chamassem de Síndrome de Alice no País das Maravilhas. Trata-se de uma desordem neurológica que afeta a condição humana de percepção, proporcionando uma distorção do espaço, tempo e imagem corporal. Está freqüentemente associada com tumores cerebrais, uso de drogas psicoativas (incluindo cogumentos alucinógenos; LSD) e, principalmente, com enxaqueca. Seja qual for a causa, as distorções podem ocorrer várias vezes ao dia e podem durar de minutos a semanas. O sofredor vê os objetos com o tamanho e/ou forma errada, há uma considerável alteração da perspectiva e do senso do tempo; é comum a distorção do tamanho de outras modalidades sensoriais, bem como a imagem do próprio corpo. Afeta também sensação de toque e audição; usualmente ocorrem intensas alucinações e a interpretação de diversos eventos pode estar prejudicada. Alguns distúrbios podem estar associados, dentre eles: apraxia, agnosia, alterações de linguagem e delírios. A leitura de “Alice Através do Espelho” e “Alice no País das Maravilhas” possibilita-nos conhecer as evidências sintomatológicas que justificam tal nomenclatura:


Macropsia
[...] Era certamente um Mosquito muito grande: “Mais ou menos do tamanho de uma galinha”, Alice pensou.
[...] "E que flores enormes devem ser aquelas!” foi o que pensou em seguida. “Como se fossem cabanas sem teto e com hastes... e que quantidade de mel devem produzir.”


Micropsia
[...] No entanto, aquilo era tudo menos uma abelha comum: era um elefante...

Alteração da perspectiva
[...] quanto mais ando em direção ao ovo, mais longe ele parece ficar.
[...] A loja parecia cheia de toda sorte de coisas curiosas... mas o mais estranho de tudo era que, cada vez que fixava os olhos em alguma prateleira para distinguir o que havia nela, essa prateleira especifica estava sempre completamente vazia, embora as outras em torno estivessem completamente abarrotadas.


Alucinação
[...] Todo tipo de coisas aconteceu ao mesmo tempo. As velas cresceram todas até o teto, parecendo um canteiro de juncos com fogos de artifício na ponta. Quanto as garrafas, cada uma se apossou de um par de pratos, ajeitando-os rapidamente como se fossem asas, e assim, usando garfos como pernas, saíram esvoaçando para todo lado –“se parecem muito com pássaros”, pensou Alice.

Afetação tátil
[...] No seu pavor, agarrou o que estava mais perto da sua mão, que calhou ser a barba da Cabra. Mas a barba pareceu se dissolver quando ela a tocou.

Afetação da linguagem
[...] “Cada vez mais estranhíssimo!” exclamou Alice (a surpresa fora tanta que por um instante realmente esqueceu como se fala direito)
[...] Começou a recitar, mas sua voz soava rouca e estranha e as palavras não vieram como costumavam.

Afetação auditiva
[...] De onde vinha o barulho, Alice não conseguia distinguir: o ar parecia repleto dele, e ressoava em toda a sua cabeça até deixá-la completamente surda.

Distorção da percepção das formas
[...] Alice agarrou o bebê com certa dificuldade, pois a criaturinha tinha uma forma estranha, com braços e pernas esticados em todas as direções “Igualzinho a uma estrela do mar” pensou Alice.
[...] Não havia a menor dúvida de que possuía um nariz extremamente arrebitado; além disso, os olhos eram um tanto miúdos para um bebê: no todo, Alice não gostou da aparência da criatura.

Distorção da percepção da própria imagem corporal
[...] Seu queixo estava tão comprido contra seu pé que mal tinha como abrir a boca.
[...] descobriu que não achava seus ombros em lugar algum: tudo o que conseguia ver, quando olhava pra baixo, era uma imensa extensão de pescoço.

Sensação de encolhimento ou crescimento
[...] Que sensação estranha!” disse Alice; “devo estar encolhendo como um telescópio!”
[...] ”Agora já estou espichando como o maior telescópio que já existiu! Adeus, pés!” (pois quando olhou para eles, pareciam quase fora do alcance de sua vista, de tão distantes).
[...] Sentiu a cabeça forçando o teto e teve de se abaixar para não quebrar o pescoço”.

Dissociação [...] “Quem é você?” perguntou a lagarta
“Eu... eu mal sei, Sir, neste exato momento... pelo menos sei quem eu era quando me levantei esta manhã, mas acho que já passei por várias mudanças desde então”
“Que quer dizer com isso? Esbravejou a Lagarta. “explique-se!”
“receio não poder explicar”, respondeu Alice “porque não sou eu mesma, entende?”
“Então, acha que está mudada, não é?”
“Receio que sim, Sir”, disse Alice. “Não consigo me lembrar das coisas como antes...”

[...] “E agora, quem sou eu? Vou me lembrar, se puder! Estou decidida!” mas estar decidida não ajudou muito...

Micropsia + Macropsia
[...]Mas a rainha já não estava ao seu lado: reduzira-se subitamente ao tamanho de uma bonequinha, e agora estava sobre a mesa, correndo alegremente em voltas e mais voltas à procura de seu xale, que se arrastava atrás dela [...] só seu rosto foi ficando muito pequeno, e os olhos ficando grandes e verdes, e cada vez mais, enquanto Alice continuava a sacudi-la, ia ficando menor... e mais gordinha... e mais macia... e mais redonda... e...afinal de contas era mesmo uma gatinha.
[...]Mais tarde, contou que nunca em toda sua vida vira uma cara como a que o Rei fez ao ser erguido e espanado no ar por uma mão invisível. Ele ficou espantado demais para gritar, mas seus olhos e sua boca foram ficando cada vez maiores, e cada vez mais redondos...

A obra de Carroll também é responsável por outro epônimo médico: a Síndrome de Cheshire Cat (SCC), descrita pela primeira vez em 1968 pelo médico britânico Eric George Lapthorne Bywaters.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
J. Todd:
Alice in Wonderland syndrome. Canadian Medical Association Journal, Ottawa
Lewis Carroll:
Alice no País das Maravilhas. Londres 1865.
Através do Espelho e o que Alice Encontrou por Lá



O Grito Neurastênico de Munch

Eu não me desfaria da minha doença, pois há muita coisa em minha arte que devo a ela. Edvard Munch
O artista que mais enfatizou o aspecto humano da arte como um compromisso emocional e intelectual foi, sem dúvida, Edvard Munch. Uma citação de seu diário certifica essa afirmação: “Não devemos pintar interiores com pessoas lendo e mulheres tricotando; devemos pintar pessoas que vivem, respiram, sentem, sofrem e amam”.

Apesar de obter cedo o reconhecimento como o artista mais talentoso de sua geração, a maior ambição de Munch era empreender a expressão existencial por meio da arte. A vida do pintor fora marcada por perdas que influenciaram incisivamente sua atividade artística. Tanto as doenças quanto o sofrimento moldaram fortemente seu estilo pictórico.

Sua mãe, Laura Cathrine, faleceu em decorrência de uma tuberculose pulmonar quando Munch tinha apenas cinco anos de idade (1868); a mesma doença veio a matar, nove anos depois, sua jovem irmã Sophie, que à época tinha cerca de quinze anos.

A mãe morta e a criança
(1897-1899, óleo s/tela, 105 x 178,5 cm - Galeria Nacional, Oslo)

Obras como A Criança Doente (1886) e A Mãe Morta e a Criança (1900) expressam o sofrimento de Munch diante do falecimento da mãe e da irmã. Acima, Sophie aparece em primeiro plano, perto da cama, tapando os ouvidos com as mãos para não ouvir o chamado da morte.


A criança doente
(1896, óleo s/tela, 121,5 x 118,5 cm - Galeria Nacional, Oslo)

Para seguir carreira artística, Munch cortou relações com o pai, homem que, extremamente controlador e devoto, beirava a demência; também Laura (fonte de inspiração para A Melancolia), sua irmã favorita, portava doença bipolar e ficou internada durante muito tempo num hospital psiquiátrico.

Melancolia (Laura),1899. Óleo sobre tela 110 x 126cm. Galeria Nacional, Oslo.
Seu mais famoso quadro, onde é notável seu desespero existencial, foi pintado em 1893. N’O Grito ele expressou o seu cotidiano inferno interior e o mal-estar que a loucura lhe causava.

A estampa no fundo é a doca de Oslofjord, ao pôr-do-sol, em Oslo, em 26 de agosto de 1883. Dia em que um grande tsunami tirou do mapa a ilha vulcânica de Krakatoa, em Java, na Indonésia. A explosão de lava vulcânica colidindo com imensas ondas pôde ser sentida em diversas partes do mundo. O artista, que passava com seus amigos na zona portuária, grafou em seu diário: “De repente, tudo ficou vermelho e uma profunda melancolia e tensão se apossou de mim. Meus amigos foram embora e eu fiquei só, trêmulo e ansioso, como se tivesse ouvido um grito cortante e interminável atravessando a natureza”.

A obra também reflete o sofrimento mental pelo qual estava passando Munch em conseqüência de sua vida marcada por doenças. Os elementos reproduzidos são quase todos tortos para representar a dor que provocou um grito de forte intensidade. Também é válido atentar para a falta de cabelos, a qual demonstra um precário estado de saúde.

O Grito (1893, óleo s/tela, 91 x 73,5cm - Galeria Nacional, Oslo)

Especialista apontam a infância de Munch como um arsenal de desgraças. “Doença, loucura e morte foram os anjos que acompanharam -me no berço, e desde então tem me seguido durante toda a vida." Registrou o artista em seu diário.

Em 1890, Munch esteve internado durante dois meses em Le Havre, na França, para tratamento psiquiátrico. Em 1900, tratou-se na Suíça e, cinco anos depois na Turíngia, onde foi diagnosticado como portador de grave neurastenia.

O consumo excessivo de álcool, a fadiga pelo intenso trabalho e a decepção amorosa por um frustrado caso com uma mulher casada provocaram-lhe um esgotamento mental no ano de 1908, a partir de então, o pintor foi internado numa clínica em Copenhagen; meses depois, voltou pra Noruega, onde morou até falecer, em 23 de janeiro de 1944, vítima de uma pneumonia.

REFERÊNCIAS:
1. Marques, J. "Doenças e sofrimento moldaram o conjunto da obra do pintor norueguês Edward Munch". CREMESP, Edição 47. 2009.
2..BEZERRA, A.J.C.; As belas artes da medicina. Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal, Brasília, 2003
3.http://www.edvardmunch.info/
4.Scream' Is Found Undamaged in Norway. New York Times. May 8, 1994. p8(N), p6(L), col 3
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