Em 1904, o jovem Bandeira, com apenas 18 anos, teve que abandonar o sonho de ser arquiteto devido a um diagnóstico de tuberculose, pois naquele tempo tal sentença equivalia a uma condenação. O poeta, convencido pelos médicos da impossibilidade de viver naquelas condições por mais de quinze anos, passou boa parte da vida esperando a morte iminente. À época, os tratamentos eram realizados em sanatórios situados em lugares elevados por causa dos supostos benefícios da atmosfera rarefeita das alturas, locais estes que possibilitavam também o isolamento e o repouso. Foi nesse ambiente tedioso que Bandeira iniciou sua atividade literária, talvez por isso seja a tuberculose tão marcante em sua obra; grande parte de seus escritos são dedicados à doença. Em Pneumotórax Manuel Bandeira fala de sua experiência pessoal:
Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos, /
A vida inteira que poderia ter sido e não foi. /
Tosse, tosse, tosse. /
Mandou chamar o médico. /
Diga trinta e três. /
Trinta e três... trinta e três... trinta e três... /
Respire /
O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo /
e o pulmão direito infiltrado. /
Então doutor, não é possível tentar o pneumotórax? /
Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
A vida inteira que poderia ter sido e não foi. /
Tosse, tosse, tosse. /
Mandou chamar o médico. /
Diga trinta e três. /
Trinta e três... trinta e três... trinta e três... /
Respire /
O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo /
e o pulmão direito infiltrado. /
Então doutor, não é possível tentar o pneumotórax? /
Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
No tempo em que a tuberculose era considerada a “moléstia que não perdoa” o pneumotórax era o único procedimento capaz de aliviar a enfermidade; nos casos graves, quando já não era possível instituir nem esse tipo de tratamento, restava apenas a esperança ou, como diz Bandeira,“Tocar um tango argentino”.
Manuel não morreu por conta da temida tuberculose que tanto influenciou na criação de seus poemas. A doença tornou-se crônica e, com o bloco de fibrose que tinha em lugar de pulmão, conseguiu o poeta viver durante muitos anos. Sua morte (consequência de uma hemorragia digestiva alta) ocorreu apenas em 1968, possuía ele pouco mais de 80 anos.
Renata, parabéns pelo blog e pela brilhante idéia de abordar a medicina pela perspectiva da arte. Abraços! Anna
ResponderExcluirParabéns... Texto muito tocante!
ResponderExcluirMeninas, muito obrigada! Abraços. :)
ResponderExcluirBandeira foi, aliás é (um poeta não morre, pois vive e respira com sua poesia) um gênio. Lindo texto!
ResponderExcluirBandeira é um poeta romântico de excelência, sua poesia é permeada de ternura e de indescritível beleza literária!
ResponderExcluirFenomenal
ResponderExcluirEncontrei o que eu precisava para o meu trabalho de escola de amanhã. Muito obrigada, Renata!
ResponderExcluirSe ele tivesse morrido mais cedo, haveria um rombo em nossa literatura... Ótimo texto!
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