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terça-feira, 5 de março de 2013

Mitologia & Medicina: "Cabeça de Medusa"

Segundo a mitologia, Medusa era uma jovem tão bonita e orgulhosa que ousou julgar os seus cabelos mais belos que os de Atena. Para punir tamanha vaidade, essa deusa transformou-os em serpentes. Aquele que cruzasse o olhar com o da mortal Medusa seria imediatamente paralisado.



Cabeça de Medusa (1599). Caravaggio (1571–1610). Óleo sobre tel aplicada sobre disco de madeira, 60 por 55 cm. Galeria Uffi zi (Florença)

A representação do reflexo de Medusa no escudo é um autorretrato de Caravaggio travestido de Medusa. O artista reproduziu no espelho, no escudo côncavo de Perseu, a imagem que viu de si no espelho real. Esta obra é, por isso, um duplo reflexo, real e mitológico. Caravaggio retrata um olhar aterrorizado ao ver-se petrificar, bem como a dolorosa vertigem do momento da morte.

Certo dia, Perseu, filho de Zeus, resolveu acabar com Medusa. Para escapar de seu olhar petrificante, utilizou o escudo espelhado de Atena (deusa da sabedoria e da estratégia). Ofuscada pelos raios de sol refletidos no escudo, Medusa foi então decapitada pela lâmina afiada da espada de aço de Hermes, empunhada por Perseu, que posteriormente utilizou sua cabeça como arma, até dá-la de presente para a deusa Atena, que a colocou em seu escudo. Durante séculos da idade clássica, a imagem da cabeça de Medusa fora utilizada para afuguentar o mal.



A cabeça de Medusa (1617). Peter Paul Rubens (1577–1640) e Frans Snyders (1576–1657). Óleo sobre madeira, 68,5 por 118 cm. Museu Kunsthistorich(Viena)

Mas o que a Medusa tem a ver com a Medicina?

Quando há hipertensão portal (gradiente de pressão portal igual ou superior a 12 mm Hg), instalam-se os desvios portossistêmicos, ou seja, circulação colateral constituída por veias dilatadas que surgem no abdómen dos indivíduos com cirrose hepática e que são consequência de obstáculo colocado à circulação venosa pelo processo hepático.

As veias subcutâneas periumbilicais podem tornar-se tortuosas e varicosas, como cobras azuladas serpenteando sob a pele.



Medicamente, apelida-se esse sinal perigoso e temido como caput medusae (cabeça de Medusa), devido a por sua enorme semelhança com os cabelos serpentiformes de Medusa, a letal e aterrorizante personagem da mitologia grega.

Na Literatura: Em 1922, Freud concluiu o intrigante ensaio Cabeça de Medusa, onde argumenta que a visão da personagem mitológica provoca terror por ser a decapitação um símbolo da castração:
A visão da cabeça da Medusa torna o espectador rígido de terror, transforma-o em pedra. Observe-se que temos aqui, mais uma vez, a mesma origem do complexo de castração e a mesma transformação de afeto, porque ficar rígido significa uma ereção. Assim, na situação original, ela oferece consolação ao espectador: ele ainda se acha de posse de um pênis e o enrijecimento tranqüiliza-o quanto ao fato. Sigmund Freud, 1922.

REFERÊNCIAS:
Bezerra, A.J; Araújo, JP. “Caput Medusae”. Ética Revista, ano III, n.º 4, jul./ago., 2005.
Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vol. XVIII.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Síndrome de Proteus

O deus grego marinho Proteus, personagem da Odisséia, de Homero, é o mais velho dos filhos de Poseidon. Esta divindade mitológica, oracular e pastor dos animais marinhos, é conhecido também como "velho do mar".

Proteus - xilogravura de Jörg Breu. Apresentada noLivro de Emblemas, por Andrea Alciato (1531).
Venerado como profeta, possui o dom da premonição, atraindo assim o interesse de muitos curiosos. Entretanto, não é fácil acessar às informações sobre os acontecimentos vindouros. Tem direito a saber o destino os seres determinados e corajosos. Proteus responde apenas quem tem capacidade de capturá-lo.

Ao aproximar-se um ser humano que ele julga medíocre, ele foge ou metamorfoseando-se, assume aparências tão monstruosas quanto assustadoras. Fica a par das predições o homem que é persistente o suficiente para enfrentar tais artimanhas.

Em 1983, Wiedeman propôs o nome Síndrome de Proteus para uma doença com capacidade infligir às vítimas forma monstruosa. Trata-se de uma hamartomatose congênita que afeta os três folhetos embrionários, acarretando o crescimento excessivo dos tecidos.

A síndrome apresenta grande polimorfismo clínico e evolutivo, podendo manifestar-se com tumores subcutâneos, macrocefalia, gigantismo parcial das mãos e dos pés, nevo pigmentado, hemi-hipertrofia, e outras anomalias cranianas e viscerais.

Retrato de Joseph Merrick evidenciando as manifestações da Sìndrome de Proteus.
O mais conhecido portador da síndrome de Proteus foi Joseph Merrick, cuja trajetória é narrada no filme e livro O Homem Elefante”, de 1988.

Muito apropriada é a denominação dada por Wiedeman, visto que a síndrome se caracteriza por uma inconstante diversidade morfológica em sua apresentação e evolução.

REFERÊNCIAS:
1.Wiedemann HR, Burgio GR, The proteus syndrome. Partial gigantism of the hands and/or feet, nevi, hemihypertrophy, subcutaneous tumors, macrocephaly or other skull anomalies and possible accelerated growth and visceral affections. Eur J Pediatr 1983;140:5-12.
2.VIEIRA, NR. PEREIRA, L. “Síndrome de Proteus: relato de caso.” An bras Dermatol, Rio de Janeiro, 76(2):201-208, mar./abr. 2001.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Síndrome de Ondina: Mitologia & Distúrbio Respiratório

Havia uma ninfa da água muito formosa chamada Ondina que, assim como todas as ninfas, era imortal. O acontecimento capaz de ameaçar sua felicidade eterna seria apaixonar-se por um mortal e ter um filho. Isto lhe ocasionaria a perda da beleza e da imortalidade.

Ondina Sonhando. Gonzalo Juliani.
Lawrence, um audaz cavaleiro mortal, conquistou o coração de Ondina e esta, apaixonada, confidenciou-lhe o que a relação entre os dois poderia custar. Ele, para demonstrar todo o amor que sentia, afirmou: “Sempre que estiver acordado e cada vez que eu respirar, meu pensamento será de lhe amar e lhe ser fiel”.

Um ano após o casamento, nasceu o filho do casal. A partir do momento em que se tornou mãe, Ondina passou a envelhecer, como qualquer mortal. Enquanto os atrativos físicos da ninfa desvaneciam, diminuía o interesse de Lawrence pela esposa.

Uma tarde, quando Ondina caminhava próximo ao estábulo, escutou uns gemidos que lhe soaram como sendo do seu marido e, ao entrar no local, viu Lawrence nos braços de outra mulher. Ondina, fitando seu marido, sentenciou:

“Você me jurou a fidelidade a cada respiração. Eu aceitei a sua promessa. Assim seja, permaneça acordado para lembrar de respirar, pois se acaso você dormir, sua respiração não ocorrerá e morrerá!”.

 Lawrence se viu condenado a manter-se acordado para sempre.

O termo médico Maldição de Ondina, tomado da clássica obra da mitologia nórdica Ondina (1811), de Friedrich La Motte Fouqué, designa uma doença genética raríssima causada por uma mutação no gene PHOX2B localizado no cromossomo 4, que gera uma desordem no sistema nervoso central desativando o controle automático da respiração durante a fase REM do sono, ou seja, assim que a pessoa que tem a síndrome dorme, ela para de respirar.

Fisiologicamente, sofremos hipopneias durante o sono. A cada apneia, os níveis de CO2 aumentam e os de O2 diminuem, deflagrando novo movimento inspiratório. Descrita em 1962 por Severinghaus e Mitchell, a Síndrome de Ondina (também conhecida como Maldição de Ondina, Síndrome da Hipoventilação Central Congênita ou Hipoventilação Alveolar Primária) é uma condição que compromete o sistema nervoso autônomo (SNA) provocando uma insensibilidade em detectar aumento de CO2 e diminuição de O2, indutores do estímulo que deve atingir o centro respiratório situado no Tronco Encefálico. O controle voluntário permanece intacto. Está presente desde o nascimento e necessita de suporte ventilatório durante o sono; em um terço dos pacientes existe dependência ventilatória 24 horas por dia.

É preferível utilizar o termo Síndrome Central Congênita ou Hipoventilação Alveolar Primária a Maldição de Ondina, em função do aspecto trágico e sombrio da sua origem, ligada a lenda de uma maldição.

REFERÊNCIAS: 
1.Assencio-Ferreira, V, Silveira,M. “Era uma vez Ondina: Relato de caso”. Distúrb Comun, São Paulo, 21(3): 385-389, dezembro, 2009. 
2.Garzón, F. Raggio, V. "Maldición de Ondina:presentación de un caso clínico." Arch Pediatr Urug 2007; 78(1): 29-34

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Anatomia do coração no teto da capela sistina, por Michelangelo

Sibilas são um grupo de personagens da mitologia greco-romana, descritas como sendo mulheres que possuem poderes proféticos sob inspiração de Apolo.

A Sibila de Cumas é considerada como a mais importante das dez sibilas conhecidas. Tinha o dom da profecia, e fazia suas previsões em versos. É conhecida como a "sibila de Cumas" por ter passado a maior parte de sua vida nesta cidade, situada na costa da Campânia (Itália).

Apolo, deus que inspirava as profecias da sibila, prometeu-lhe realizar o que desejasse. A Sibila então colocou um punhado de areia em sua mão e pediu-lhe para viver tantos anos quantos fossem as particulas de terra que ali tinha. Mas esqueceu-se de rogar, também, pela eterna juventude, assim foi que com os anos tornou-se tão consumida pela idade que teve de ser encerrada no templo de Apolo em Cumas. Conta a lenda que viveu nove vidas humanas com duração de 110 anos cada.

Michelangelo retratou a Sibila de Cumas como uma profetisa robusta e musculosa, apesar do rosto envelhecido.

Embutido neste afresco, situado no teto da Capela Sistina, nota-se uma fiel representação anatômica da vista anterior do saco pericárdico e dos grandes vasos sanguíneos:

A Sibila de Cumas. Capela Sistina (Itália).
Pistas: O manto sobre a perna direta da sibila tem o formato da representação leiga de um coração. Os dois querubins à esquerda. O querubim de trás repousa a mão sobre o precórdio do querubim que está à frente.



Achados anatômicos: A bolsa pendurada pela alça que emerge logo abaixo do livro adornada com uma franja vermelha, que deixa aparente a extremidade de um rolo de papel, corresponde à vista anterior do saco pericárdico e dos grandes vasos. A veia cava corresponde à alça da bolsa (a), e a emergência da aorta corresponde à ponta do rolo de papel (b). A franja vermelha corresponde à borda do diafragma (c) inserida ao pericárdio.

A coxa e a perna direita da sibila de Cumas chamam a atenção tanto pelo volume como pela cor vermelha iluminada. Também nesta cena Michelangelo retratou, sob outra perspectiva, o coração com o saco pericárdico aberto:


Observa-se acima o coração envolto pelo pericárdio e as duas coronárias – direita (d) e esquerda (e) – percorrendo os seus trajetos estão representados no manto sobre a coxa direita da sibila.

REFERÊNCIAS:
BARRETO, Gilson "A Arte Secreta de Michelangelo - Uma Lição de Anatomia na Capela Sistina. São Paulo: Arx, 2004

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O parto cesariana na mitologia

A primeira cesariana relatada na história tem como protagonista a ninfa Coronis. Deste parto nasceu o deus da Medicina, Asclépio (para os gregos) ou Esculápio (para os romanos), filho de Apolo.

Gravura medieval: O nascimento de Esculápio.
Coronis estava prometida ao seu primo Ísquis, mas, por conta de uma desmedida paixão, engravidou de Apolo.Um corvo conta a Ísquis sobre a traição de Coronis . Solidária com o sofrimento de seu irmão Ísquis, a deusa Artemis condena Coronis à morte pelo fogo. Apolo, vendo Coronis na pira fatal, retira o filho do ventre materno.

Assim, o deus da Medicina seria o fruto da primeira cesariana realizada no mundo. Ele foi criado pelo centauro Quiron (metade cavalo, metade homem) que lhe ensinou a arte de curar. Temendo que Esculápio, por sua inteligência e habilidade médica, tornasse todos os homens imortais, Zeus (Júpiter) fulminou-o com um raio.

O imperador Júlio César promulgou uma lei determinando que, diante da possibilidade do óbito da mãe e do concepto durante o trabalho de parto, o médico ficasse de sobreaviso e, assim que ocorresse a morte materna, estaria autorizado a abrir o ventre e salvar a criança. Por causa dessa determinação do imperador, espalhou-se erroneamente pelo mundo a idéia de que a operação cesariana tenha recebido este nome porque o imperador nascera deste tipo de parto.

REFERÊNCIAS:
1.O Livro de Ouro da Mitologia – Thomas Bulfinch
2. BEZERRA, Armando "Admirável mundo médico: a arte na história da medicina" - Brasília, 2002

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Anatomia Grega: Por Que a Palavra "Hímen" Denomina a Membrana Situada no Vestíbulo Vaginal?

Segundo a mitologia, Hymen (ou Hymenaios), filho de Apolo e Afrodite, é o deus grego do casamento. Seu culto era celebrado durante as núpcias do casal. Hymeneu era o termo empregado no conjunto de hinos cantados durante a cerimônia.

Himeneu Travestido Assistindo à Dança de Honra a Príapo, 1635. Óleo sobre tela, 167 × 376 cm. Museu de Arte de São Paulo.

Hymen, em Grego, quer dizer, originalmente, "membrana". Em 1550, Andreas Vesalius, médico belga fundador da moderna anatomia, usou o termo especificamente para a membrana situada no intróito vaginal.


George Rennie (1802-1860). Escultura em Mármore. Cupido empunhando a tocha de Himeneu, 1831. Londres, V&AM.

Os gregos acreditavam que Hymen precisava comparecer a todos os casamentos, pois caso contrário, o resultado do matrimônio seria desastroso. Pelo fato do deus presidir as celebrações de núpcias, foi sugerido que havia uma conexão entre esta divindade, o casamento e o hímen vaginal.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Ciclopia: Monstruosidade Representada na Literatura Mitológica, Escultura e Música Clássica

Ciclopia é uma rara anomalia na qual os olhos estão parcialmente ou completamente fundidos, formando um único olho mediano incluído em uma única órbita. Geralmente é associada a um apêndice em forma de probóscide superior ao olho.

Transmitida por uma herança recessiva, a malformação parece resultar de uma severa supressão de estruturas cerebrais da linha média – holoprosencefalia – que se desenvolvem a partir da parte cefálica da placa neural. Essa grave anomalia ocular está associada com outros defeitos craniocerebrais incompatíveis com a vida.

Monstro não comparável aos humanos
[...]De carne humana estás, Ciclope, farto.

Odisséia (séc. VIII a.C) - IX canto. Homero.

Os ciclopes foram cantados por Homero no IX livro da famosa Odisséia. Segundo a mitologia grega, o raio que fulminou Esculápio (deus da medicina) gerou os seres com um só olho. Como mostra o trecho acima, nas palavras do autor grego tais seres monstruosos são incomparáveis aos humanos.



Escultura em mármore encontrada na caverna de Tibério. Museo Archeologico Grotta di Tiberio (Sperlonga).

A escultura acima mostra o momento em que Ulisses (Odisseu, em grego) consegue vingar-se do Ciclope pela morte de seus companheiros. Conta Homero que no regresso de Tróia ao reino de Ítaca, Ulisses chegou ao país dos gigantes ciclopes, que moravam em cavernas. Nesse local desembarcou com seus companheiros e, encontrando uma grande caverna, lá entrou. Pouco depois, chegou o dono da caverna, Polifemo (o mais famoso dos ciclopes), que voltando então o grande olho, viu os estrangeiros e perguntou-lhes, com maus modos, quem eram e de onde haviam vindo. Respondeu-lhe Ulisses com muita humildade que eram gregos e terminou implorando hospitalidade, mas Polifemo estendeu o braço, agarrou dois dos gregos, que atirou contra a parede da caverna, esmagando-lhes a cabeça, depois tratou de devorá-los. Na manhã seguinte o ciclope apanhou mais dois gregos e devorou-os da mesma maneira que a seus companheiros. Ulisses tratou então de como se vingaria da morte dos amigos e conseguiria fugir com os companheiros sobreviventes. Teve a idéia de dar vinho ao gigante, que tanto bebeu que não tardou a adormecer. Então, Ulisses com seus quatro companheiros escolhidos, colocou no fogo a extremidade do espeto que haviam feito, até que essa se transformou num carvão em brasa e, depois, colocando a haste bem exatamente sobre o único olho do gigante, enterram-na profundamente e a girara.

No olho o tição. Cálido sangue espirra;
O vapor da pupila afogueada
As pálpebras queimava e a sobrancelha.

Odisséia (séc. VIII a.C) - IX canto. Homero.

Os gritos dolorosos do monstro ecoaram pela caverna e, deixando Polifemo entregue à sua dor, Ulisses e seus companheiros fugiram seguindo o caminho à Ítaca.

Na Música Clássica:

Aci, Galatea e Polifemo é uma é uma dramática serenata que inclui três personagens míticas (inclusive Polifemo). A bela mini ópera foi criada pelo célebre compositor alemão George Frideric Handel em 1708. Polifemo amava Galatéia, mas esta nutria uma paixão por Ácis, sentimento que lhe era recíproco. Num dado momento, dominado pelo ciúme, o ciclope perseguiu Ácis e, arrancando um rochedo da encosta da montanha, atirou nele, que imediatamente foi esmagado e transformado no rio que conserva seu nome. O papel do ciclope Polifemo, cujas ações têm conseqüências letais para Ácis, é particularmente notável para a singular agilidade necessária à música de Handel.



REFERÊNCIAS:
1. Bulfinch, Thomas. O Livro de Ouro da Mitologia: (a idade da fábula). Ediouro, Rio de Janeiro, 2002.
2. Moore, Keith, L. Embriologia Clínica. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
3. Decano, Winton & Knapp, J. Merrill (1987), Óperas de Handel, 1704-1726, Imprensa de Clarendon.
4.HOMERO. Odisséia. Trad. Odorico Mendes

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A Origem do Palavra "Morfina" / "Morfeu", de Houdon

Na medicina, nem mesmo as drogas escaparam à influência da mitologia grega. O mais conhecido narcótico do grupo dos opióides, a morfina, obteve seu nome de Morfeu, deus grego dos sonhos.

O nome Morfeu foi criado pelo poeta romano Ovídio na sua grande obra Metamorphoses e vem do grego “morphe”, que significa “forma”. O nome seria uma alusão às formas que enxergamos nos sonhos.

Escultura em mármore, Morfeu (1777); Jean-Antoine Houdon; Salão do Louvre (Paris)

Morfeu foi enviado por seu pai, Hipnos (deus do sono) para junto dos adormecidos, a fim de assumir qualquer forma ou aspecto de figura humana e aparecer nos sonhos das pessoas. Ele adormecia aqueles que tocava com uma papoula. Houdon o representa sonolento, mas com as asas alertas, pronto para voar e mudar de fisionomias. Foi com essa obra-prima que o escultor foi admitido, em 1777, na Academia Real de Pintura e Escultura.

Em 1804, o boticário alemão Friedrich Serturner, em honra de Morfeu, deu o nome de morfina à droga que havia isolado a partir do látex da papoula, visto que ela propicia ao usuário sonolência e efeitos análogos aos sonhos.


quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Regeneração Hepática na Mitologia Grega

Desde a antigüidade, já se conhecia o fenômeno da regeneração hepática através da Mitologia Grega. Prometeu, irmão de Atlas, se desentendeu com Zeus por revelar o segredo do fogo dos deuses do Olimpo. Por conta disso, teve a perna acorrentada no alto de um penhasco e foi condenado a alimentar diariamente uma águia com parte de seu fígado. Entretanto, durante a noite o órgão sofria o processo de regeneração e assim era fonte renovável de alimento ao pássaro.

Prometheus Bounds; Pieter Pauwel Rubens (1577-1640); óleo sobre tela, 243 x 210 cm; Museum of Art, Philadelphia.


Prometeu Acorrentado (1762); Sebastien Nicolas-Sébastien Adam (1705-1778); escultura em mármore (Louvre).

Prometeu, Atlas e a Águia do Cáucaso (530 a.C). Escola Grega. Figura em negro. Museu do Vaticano (Vaticano).

Por conta desse fato mitológico, existe uma técnica cirúrgica de hepatectomia parcial chamada “Técnica de Prometeu”, na qual porções do fígado são retiradas em pequenos fragmentos.

REFERÊNCIAS:
1. Machado, A; Rocha, R. “Hepatectomia parcial: estudo da resposta proliferativa”; Rev. biociênc.,Taubaté, v.8, n.2, p.27-35, jul.-dez.2002.
2. O Livro de Ouro da Mitologia – Thomas Bulfinch
3. BEZERRA, Armando "Admirável mundo médico: a arte na história da medicina" - Brasília, 2002

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Por que a primeira vertebra chama-se atlas? / Atlas Segurando a Abóbada Celeste

A primeira vértebra chama-se atlas em alusão ao deus da mitologia grega Atlas, que, por conta de um desentendimento com Zeus (deus dos deuses), recebeu o castigo de ter que carregar, para o resto da vida, o mundo sobre seus ombros. Como a primeira vértebra cervical suporta o peso da cabeça, é chamada de atlas para lembrar o sacrifício imposto ao deus grego.

Atlas Segurando a Abóbada Celeste ou Atlas de Farnese (150 d.C.) Escola Romana. Museo Nazionale Archeologico (Nápoles).

A escultura acima representa Atlas segurando a abóbada celeste. A obra possui 2,1m de altura e o globo cerca de 65 cm de diâmetro. A estátua foi esculpida por volta de 150 d.C. e ficou conhecida pelo nome do cardeal italiano Alessandro Farnese, que a comprou, na segunda metade do século XVI. Ela é uma reprodução romana de uma original grega.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

A origem da expressão "tendão de Aquiles"

O tendão é assim chamado em honra de Aquiles, famoso personagem da Ilíada - poema épico grego - de Homero.

Aquiles, quando criança, foi batizado em um lago sagrado chamado Stix. Sua mãe o segurou pelos tornozelos e ele, de cabeça para baixo, foi imerso no lago. Ao retirá-lo da água, todo o seu corpo estava bento, exceto os tornozelos, que haviam permanecido enxutos. Aquiles desconhecia o fato de que seus tornozelos não estavam bentos e, portanto, eram vulneráveis. Durante um combate na guerra de tróia, uma flecha adversária o atingiu no tendão calcâneo (tendão de fixação distal dos músculos gastrocnêmio e sóleo no osso calcâneo), pondo-o fora de combate.

Essa pintura em vaso grego representa uma cena da Ilíada de Homero. Nela, vê-se o guerreiro grego Aquiles fazendo um curativo no braço de seu amigo Patroclo:


Aquiles tratando Patroclo. Vaso grego com figura em vermelho (500 a.C). Staatliche Museum (Berlim)

Em 1693, um anatomista francês chamado Phillipe Verheyen foi acometido de gangrena diabética na perna direita. Antes de se submeter à cirurgia de amputação do membro inferior doente, Verreyen pediu ao seu amigo ortopedista que, após a cirurgia, guardasse o membro amputado porque desejava, passado o período de convalescença, dissecar seu tendão calcâneo. Verreyen lembrou-se então do episódio ocorrido com Aquiles e passou, a partir daquele momento, nas suas aulas em público, a usar o nome tendão de Aquiles.

Aquiles Morrendo; estátua localizada nos jardins do Achilleion, em Corfu.

Atualmente com a abolição do uso dos termos eponímicos em Anatomia, o tendão de Aquiles voltou a ser chamado de tendão calcâneo.

REFERÊNCIAS:
BEZERRA, Armando "Admirável mundo médico: a arte na história da medicina" - Brasília, 2002
BEZERRA, A.J.C; DIDIO, L.J.A; PIVA JUNIOR,L. Terminos anatomicos en la iliada de Homero; Rev. Chil. Anat., 9(1): 73-77, 1991.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Esculápio e Telésforo

Esculápio, que na mitologia greco-romana representa o deus da medicina e da cura, é por vezes visto nas esculturas e pinturas apoiando-se em um bastão no qual enrola-se uma serpente.

É dessa forma que ele aparece numa antiga escultura em mármore, exposta no Museu do Louvre:

Asclépio e Telésforo. Museu do Louvre (Paris)

Em muitas ocasiões, a representação artística do deus da medicina se faz acompanhar de uma criança. Muitos médicos se perguntam: quem é o jovem que pode ser visto junto à perna esquerda de Esculápio? Trata-se de Telésforo, seu filho, deus da convalescença.