Em “A Transfiguração de Cristo” do italiano renascentista Rafael Sanzio (1483 – 1520) aparece um adolescente com seqüelas de meningite, epiléptico, presenciando a cena em que Jesus Cristo conduz Tiago, Pedro e João a uma montanha. O rosto de Cristo resplandece como o sol, suas vestes tornam-se incandescentemente brancas e os apóstolos vêem ao seu lado os profetas Elis e Moisés:
A Transfiguração de Cristo, 1520; Rafael Sanzio. Óleo sobre painel, 405 x 278 cm. Pinacoteca Apostólica do Vaticano (Vaticano).
Rafael pintou a luminosidade da eternidade de modo a representar a aura do enfermo. O menino, com a boca entreaberta, urra em um grito epiléptico, revira os olhos e estende os membros superiores, deixando sua forte musculatura em franca evidência. O pai, aflito com a impossibilidade de cura, o ampara enquanto os que o cercam apontam-no para Jesus, clamando por sua cura, fazendo-nos lembrar os versículos de São Mateus: “Senhor, tem misericórdia de meu filho, porque ele é epiléptico e está enfermo, pois cai muitas vezes no fogo e na água, e eu o trouxe aos teus discípulos, mas eles não o puderam curar”. Mt 17:14-16
Para representar o acontecimento relatado nos Evangelhos, Rafael usa uma associação de luz e sombra. Segundo a neurologista Yacubian, considerando que a epilepsia desde a antiguidade até os dias atuais está associada à escuridão, podemos concluir que o artista tentou retratar, ao mesmo tempo, a escuridão do preconceito social em relação com a epilepsia e a luz presente no inconsciente dos próprios epilépticos, à medida que procuram sair das sombras.
REFERÊNCIAS:
1.Yacubian, Elza Márcia Targas e Pinto, Graziela R. S. Costa. Arte, Poder e Epilepsia. 2ª. edição, Editorial Lemos, 2003
2.Lucy Campos Piccinin, O pensamento de Paul Tillich: epilepsia e arte, UMESP
3.BEZERRA, A.J.C.; As belas artes da medicina. Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal, Brasília, 2003.
adoreiii
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