sexta-feira, 20 de agosto de 2010

A Mente Artística de Virginia Apgar – Idealizadora da Escala de Apgar

Virginia Apgar, médica anestesiologista famosa por sua tremenda contribuição à neonatologia, também costumava tocar viola com reconhecida destreza. De sua mente criativa, impulsionada pela inclinação musical, brotou a idéia que revolucionaria a história da Medicina.

A violinista que criou os próprios instrumentos musicais

O interesse de Virginia pela música iniciou-se ainda na infância, provavelmente assistindo os concertos domiciliares promovidos pelo pai. Na vida adulta, já médica e cientista reconhecida, o apego à música era tanto que, conforme consta, ela sempre levava seus instrumentos às viagens científicas. Enquanto desbravava seu nome na história da medicina, Apgar tocou em três orquestras: Teaneck Symphony of New York, Amateur Music Players e Catgut Acoustical Society. A partir de um determinado momento de sua vida, a Dra. Virginia passou a construir seus próprios instrumentos musicais. Aparentemente simples, o violino moderno é composto por 70 peças independentes. Por essa razão, ou seja, dado a complexidade do engenho usualmente são necessários artesãos bem adestrados para a tarefa. Então, como uma médica anestesiologista – ocupadíssima em salvar recém-nascidos e devolvê-los ativos às mães – foi transformar-se numa fabricante de violinos? A história é a seguinte. Dentre suas pacientes, estava Carleen Hutchins, uma fabricante de instrumentos de cordas. Enquanto se recuperava da cirurgia, deitada num leito de hospital, Hutchins percebe, manuseando e percutindo uma espécie de concha onde se alojava o aparelho de telefone, que o material poderia muito bem transformar-se nas costas de uma viola. Hutchins dirige-se a sua médica, Virginia Apgar, e pergunta se ela poderia ter aquela concha. Virginia atenciosamente garantiu que logo consultaria a direção do hospital. Naturalmente, o hospital não permitiu a doação e, de pronto, uma das mulheres mais importantes da história da Medicina moderna e sua paciente arquitetaram um plano audacioso. Enquanto a primeira vigiava, a moribunda, armada com uma serra e uma barra, tratou de substituir a tão cobiçada concha por outra peça não muito diferente. O plano foi um sucesso! Se o gosto musical e a adversidade já uniam aquelas duas mulheres, agora um “golpe” as tornava cúmplices. A mistura entre atenção médica, música e crime fez surgir uma forte amizade entre médica e paciente. Nos anos que se seguiram, Apgar construiu uma viola, um violino, um mezzo violino e um violoncelo, tudo sob a orientação de Hutchins.

A criação da Escala de Apgar

Em 1952, Virginia fez sua maior intervenção na Pediatria, mais especificamente, na neonatologia. Graças a ela, sempre que uma criança nasce aplica-se um teste de vitalidade denominado Escala de Apgar. Freqüência cardíaca, esforço e frequência respiratória, reflexos, tônus muscular e cor da pele são os critérios aplicados ao rebento; Zero, 1 ou 2 pontos, são atribuídos, em ordem decrescente de gravidade, a cada um dos importantes parâmetros. Em função desses resultados um conjunto de cuidados especiais é imediatamente dispensado ao bebê. Antes deste teste, a atenção pós-parto era quase que totalmente dedicada às mães, advindo dessa prática altas taxas de mortalidade dos infantes. Esta brilhante idéia surgiu durante um café da manhã no hospital em que trabalhava, do qual participavam Virginia e um estudante de medicina. Por alguma razão desconhecida, o estudante chamou-lhe a atenção para a necessidade de se avaliar melhor as crianças que nasciam naquela instituição. Convencida, Virginia disse ao estudante: “Isto é fácil. Faça desta maneira.” Assim, tomando um pequeno pedaço de papel distribuído pelo refeitório com orientações sobre como carregar a própria bandeja, Virginia escreveu os critérios que definiriam afinal a consagrada Escala de Apgar. Os resultados superaram as expectativas dos membros do hospital, visto que o método reduziu drasticamente a mortalidade infantil. Hoje em dia, este é o primeiro teste a que se submete qualquer recém-nascido.

Em 1974, durante a cerimônia fúnebre de Apgar,o prof. Stanley James, ex-assistente da mestra, pronunciou as seguintes palavras: "Aprender, era o foco de sua vida. Sua curiosidade era insaciável... ela nunca estava satisfeita. Essa rara qualidade capacitou-a a seguir na vida sem que se deixasse enjaular pelos costumes ou tradiçoes". Sem dúvida alguma, o anseio por descobrir e fazer mais, sentimento que emoldurou a trajetória de Virginia Apgar, está firmemente alicerçado na curiosidade.

Os instrumentos construídos por Virginia hoje repousam na Universidade de Columbia, como um marco do zelo e carinho de Apgar pela inventividade artística e música erudita.

REFERÊNCIAS:
Souza, Álvaro N. – Grandes médicos e grandes artistas – nomes que deram vida, a medicina e as artes. – Salvador, BA, 2006.
Goodwin, JW. “A personal recollection of Virginia Apgar. L Obstet Gynaecolofy; 2002.

3 comentários:

  1. Que bela história!!! Adoro este blog!!!

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  2. Bela história mesmo.E eu que nem imaginava que a tabela de apgar se devia a essa criatura maravilhosa.

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  3. Digitei virgínia(assassinos não merecem inicial maiúscula) para saber quantos anos de cadeia a assassina e seus comparsas, que devem ser muitos, encontrei essa bela história. como é o mundo, pois uma tinha sensibilidade artística, a outra é discípulo do nazismo e matou mais gente do que o hitler.

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