domingo, 24 de março de 2013

Noel Rosa e a Tuberculose Inspiradora

Há um tempo, famosos e enfermos privilegiados viviam em sanatórios nos Alpes suíços, acreditando ser o clima das montanhas favorável para a cura da tuberculose. No Brasil, Belo Horizonte, à época de sua fundação, em 1897, com seu clima ameno e situada a mais de oitocentos metros de altitude, tinha fama de ser um local propício para a sobrevida dos tuberculosos.

O notável sambista carioca Noel Rosa morou na jovem cidade, entre os anos de 1934 e 1935, obedecendo a recomendação do seu amigo e médico Edgar Mello, numa frustrada tentativa de curar sua tuberculose. Notas médicas afirmam que neste período a “doença romântica” já havia tomado um pulmão e indiciava avançar sobre o outro. Noel pesava 45 quilos.

Garçom servindo Noel Rosa; estátua localizada na entrada da Vila Isabel, Rio de Janeiro.

Ao final do primeiro mês na capital mineira, escreveu poeticamente para seu médico, Dr. Edgar, que residia no Rio de Janeiro:
 
"Meu dedicado médico e paciente amigo Edgar, um abraço. Se tomo a liberdade de roubar mais uma vez seu precioso tempo é porque tenho certeza de que você se interessa por mim muito mais do que mereço. Assim sendo, vou passar a resumir as noticias que se referem à marcha do meu tratamento. E para amenizar as agruras que tal leitura oferece resolvi fazer uso das quadras que se seguem: 

 

Já apresento melhoras pois levanto muito cedo

E deitar as nove horas pra mim já é um brinquedo

A injeção me tortura e muito medo me mete

Mas minha temperatura não passa de 37 

 

Nessas balanças mineiras de variados estilos

Trepei de varias maneiras e pesei 50 quilos 

Deu resultado comum o meu exame de urina

Meu sangue noventa e um por cento de hemoglobina 

 

Creio que fiz muito mal em desprezar o cigarro

Pois não há material pro meu exame de escarro

Ate' agora só isto para o bem dos meus pulmões

E nem brincando desisto de seguir as instruções

Que o meu amigo Edgard arranque desse papel

O abraço que vai mandar o seu amigo Noel"
 
 
A carta é uma extensão da obra do compositor, contendo os mesmos procedimentos identificáveis em suas canções, tais como: rimas improváveis, versas de duplo sentido, a sutil ironia peculiar a Noel Rosa e a distinta habilidade com a língua portuguesa. 

Apesar da busca pelo clima rarefeito a fim de minimizar as consequências da tuberculose, a vida boêmia nunca deixou de ser um atrativo irresistível para o artista, que optou não abrir mão do samba, das noites regadas à bebida e do tabagismo. De volta ao Rio em 1937, jurou estar curado, mas faleceu em sua casa no bairro de Vila Isabel no mesmo ano, aos 26 anos de idade.

Quarenta anos após a morte de Noel, o sambista João Nogueira musicou a “carta à Edgar”, incluindo-a em seu LP "Vida boêmia" (EMI-Odeon, 1978). Confira:


 

4 comentários:

  1. Olá Dr.Renata,

    Uma ótima junção medicina e arte nos seus posts. A poesia na veia desses artistas, do quilate de Noel, fez aparecer poesia até, no que a gente não enxergaria poético, em uma "carta ao médico". Muito bom.Roberta Clarissa(www.planodesaude.net)

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  2. Muito bem roteirizado. Parabéns mais uma vez, Renata.

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