terça-feira, 11 de outubro de 2011

A história bíblica de Sansão: um exemplo de síndrome de Guillain-Barré.

Sansão, de acordo com as escrituras sagradas, foi um homem nazireu, filho de Manoá, que liderou os israelitas contra os filisteus. Pertencia a tribo de Dã e foi o décimo terceiro juiz de Israel.

A Bíblia relata que Sansão foi juiz do povo de Israel durante vinte anos, aproximadamente de 1177 a.C. a 1157 a.C., sendo o sucessor de Abdon e o antecessor de Eli.

Tendo tomado o voto de nazireu ao nascimento, Sansão fora consagrado a Deus. Como parte desse voto, devia abster-se de pecar e cortar os cabelos. Assim cumprido, Sansão se distinguiria mais tarde como portador de uma força sobre-humana concedida pelo Espírito Santo.

A belíssima pintura de Peter Paul Rubens (1577-1640) mostra a traição de Sansão por Dalila, sua amante filistéia. Sansão apaixonou-se por ela, que o traiu entregando-o aos chefes de sua nação.

Sansão e Dalila (1609-1610). Peter Rubens. Óleo sobre madeira (185 cm x 205 cm). National Gallery (Londres).
Então, ela o fez dormir sobre os seus joelhos, e chamou a um homem, e rapou-lhe as sete tranças do cabelo de sua cabeça; e começou a afligi-lo, e retirou-se dele a sua força. (Juízes 16:19). 

Dalila fora subordinada pelos filisteus que desejavam capturar Sansão. Em troca de dinheiro, ela o seduziu a fim de extrair-lhe o segredo de sua força; ele então confessou que a força era advinda do Espírito Santo, e que persistia pelo fato dele nunca ter raspado os cabelos. Enquanto Sansão dormia em seu colo, Dalila mandou cortar seus cabelos. Submisso e fraco, ele foi aprisionado pelos guardas que o esperavam na porta, seus olhos foram arrancados e ele fora escravizado.

Detalhes pictóricos:
1.Rubens pintou atrás de Dalila uma estátua da Vênus (deusa do amor) e do seu filho, Cupido, representando a causa do destino trágico de Sansão.
2.O filisteu que corta o cabelo de Sansão tem as mãos cruzadas, simbolizando a mentira e o engano.
3.A velha em pé atrás de Dalila, fornecendo mais luz para a cena, não aparece na narrativa bíblica. Acredita-se que seja uma alcoviteira, mas o perfil adjacente ao de Dalila parece simbolizar o passado da velha e/ou o futuro de Dalila.
Mais tarde, tanto os cabelos quanto a força de Sansão foram restaurados. Durante um ritual pagão de sacrifício, os filisteus se reuniram para celebrar o deus Dagom. Como era costume, os prisioneiros desfilavam no templo para entreter a multidão escarnecedora. Provido novamente de sua força, Sansão preparou-se entre os dois pilares de sustentação central do templo e os empurrou, enterrando cerca de mil filisteus.

A lendária história de Sansão pode ser analisada sob a ótica neurológica; o autor que a escreveu no século XI a.C. provavelmente baseou-se em fatos reais. Como se explica que um homem anteriormente saudável desenvolva uma fraqueza muscular súbita, mas reversível?

A Síndrome de Guillain-Barré (SGB) explica tanto a fraqueza aguda e a perda de cabelos quanto a posterior recuperação do quadro.

A SGB é a maior causa de paralisia flácida generalizada no mundo, sendo uma doença de caráter autoimune que acomete primordialmente a mielina da porção proximal dos nervos periféricos de forma aguda/subaguda. Fraqueza progressiva é o sinal mais perceptível dos pacientes. Passada a fase da progressão, a doença entra num platô por vários dias ou semanas com subseqüente recuperação gradual da função motora. A maioria das pessoas acometidas se recuperam em três meses após iniciados os sintomas.

Como uma desordem com componente auto-imune, a SGB também pode ocasionar a perda de cabelos. O corte de cabelos sob as ordens de Dalila seria apenas uma expressão simbólica do pecado de Sansão ao apaixonar-se por uma mulher “impura” e a ela entregar seus segredos. A transgressão da lei divina causaria a quebra do voto de narizeu (representada pela falta de cabelos) e, como punição, a não concessão de forças pelo Espírito Santo.


REFERÊNCIAS:
1.Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas. “Síndrome de Guillain-Barré”. Portaria SAS/MS no 497, de 23 de dezembro de 2009.
2. SALTER, V. “Medical conditions in works of art”. British Journal of Hospital Medicine, February 2008, Vol 69, No 2.
3. SMITH,M. “Neurology in the National Gallery”. J R Soc Med 1999;92:649-652.

5 comentários:

  1. ¡Qué interesante!
    Me ha encantado el tema, el cuadro y el vídeo.
    Yo había pensado tratar sobre la ceguera de Sansón... Pero nunca había pensado en el síndrome de Guillain-Barré.

    Un abrazo, Renata.

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  2. Muito interessante!

    http://leomotabh.blogspot.com/2011/10/ressalva-interna.html#links

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  3. Interessante o seu blog, você busca no passado o começo da patologia, como era retratada antigamente... Amei, super dez!

    Seguindo o seu blog,

    se puder retribuir, ficarei grata :)

    um beijo!


    Nathacha


    www.medicinepractises.blogspot.com

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  4. Muito interessante a analogia mesmo! Interrelação entre História bíblica, história da arte e a neurologia. É uma síndrome muito interessante, com quadro clínico peculiar e característico.

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