O objetivo mais alto do artista consiste em exprimir na fisionomia e nos movimentos do corpo as paixões da alma. (Leonardo da Vinci).Os desenhos anatômicos de Leonardo da Vinci (1452-1519) foram, ao longo dos séculos, imensamente admirados por artistas, médicos e historiadores. A maioria deles são datados no período entre 1487 e 1513. Somente a partir de 1503 Leonardo viveria sua fase mais ativa de pesquisa anatômica, adquirindo um conhecimento mais exato da anatômia humana através da dissecção de cadáveres. Este fato justifica as imperfeições anatômicas encontradas nos desenhos arquitetados durante a primeira metade deste período.
Referência específica é aqui feita para os desenhos que ilustram a anatomia masculina e feminina no ato do coito. Suas representações sobre o intercurso sexual são uma tentativa de esclarecer e ilustrar a fisiologia apresentada nos livros didáticos do seu tempo. De suas posses literárias mais consultadas, destacam-se os textos de Mondino di Luzzi e Avicena. Ao ler estes livros e outros, Leonardo acessou às ideias de Hipócrates, Aristóteles, Platão e Galeno.
Um breve olhar para o personagem masculino na gravura abaixo revela o incrível "encanamento" interno projetado por Leonardo para descrever a fisiologia aristotélica sobre a reprodução humana:
"O Coito" (1492) |
Detalhe evidenciando os dois canais no pênis. |
O sêmen desceria a partir do cérebro através de um canal que pode ser visto na coluna vertebral do homem. Isso explica a conexão desenhada por Leonardo entre a coluna e o pênis.
Aristóteles acreditava que os testículos não desempenhavam nenhum papel na procriação, e que apenas forneciam um líquido para lubrificar a vagina durante a relação sexual. Leonardo, que discordou deste conceito, desenhou um grande vaso sanguíneo transferindo a “semente” para o testículo, ilustrando assim o ponto de vista galênico de que os testículos fabricam espermatozóides a partir do sangue.
A ausência de ovários na figura de sexo feminino é justificada pela crença aristotélica de que os ovários não possuem papel reprodutivo. A fêmea serviria apenas como o solo em que a semente masculina é plantada. Leonardo, portanto, mesclou nesta ilustração os argumentos galênicos e aristotélicos para fisiologia do coito.
Interessante observar a representação dos dois nervos supostamente encarregados de provocar a ereção e a ejaculação: um deles, produto da fantasia de Leonardo, provém diretamente do coração, – ideia não tão absurda se considerarmos o pensamento da época de que tal órgão era o responsável pelo amor. O outro nervo tem suas raízes à nível sacral, o que, evidentemente, esta mais de acordo com o conhecimento atual da fisiologia do coito.
Um curioso detalhe pictórico é a adição de um vaso sanguíneo ligando o fundo do útero à mama. De acordo com o pensamento medieval, este vaso hipotético levaria o sangue menstrual suprimido para as glândulas mamárias, causando assim o aumento das mamas e a lactogênese. Não há como negar a genial associação do pintor, que vincula ambos os órgãos por meio de uma conexão direta, séculos antes de Ferguson descrever o reflexo que leva o seu nome.
Não há dúvida de que o gênio renascentista, pai das grandiosas inovações artísticas da época, era excepcionalmente atento e criativo também nas suas engenhosas representações anatômicas.
REFERÊNCIAS:
1.Coleção Os Pensadores, Aristóteles, Abril Cultural, São Paulo, 1.ª edição, vol.II, agosto 1973.
2.MORRIS, A. G.“On the sexual intercourse drawings of Leonardo da Vinci”.SAMT DEEL69 12APRIL1986.
3..TOPOLANSKI, R. “OBRA EL ARTE Y LA MEDICINA.” CAP 7: La obstetrícia y la ginecologia.
De esto sí que no tenía ni idea, Renata.
ResponderExcluir¡Sorprendente!
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Espero que te guste.