Há um tempo, famosos e enfermos privilegiados viviam em sanatórios nos Alpes suíços, acreditando ser o clima das montanhas favorável para a cura da tuberculose. No Brasil, Belo Horizonte, à época de sua fundação, em 1897, com seu clima ameno e situada a mais de oitocentos metros de altitude, tinha fama de ser um local propício para a sobrevida dos tuberculosos.
O notável sambista carioca Noel Rosa morou na jovem cidade, entre os anos de 1934 e 1935, obedecendo a recomendação do seu amigo e médico Edgar Mello, numa frustrada tentativa de curar sua tuberculose. Notas médicas afirmam que neste período a “doença romântica” já havia tomado um pulmão e indiciava avançar sobre o outro. Noel pesava 45 quilos.
Garçom servindo Noel Rosa; estátua localizada na entrada da Vila Isabel, Rio de Janeiro. |
Ao final do primeiro mês na capital mineira, escreveu poeticamente para seu médico, Dr. Edgar, que residia no Rio de Janeiro:
"Meu dedicado médico e paciente amigo Edgar, um abraço. Se tomo a liberdade de roubar mais uma vez seu precioso tempo é porque tenho certeza de que você se interessa por mim muito mais do que mereço. Assim sendo, vou passar a resumir as noticias que se referem à marcha do meu tratamento. E para amenizar as agruras que tal leitura oferece resolvi fazer uso das quadras que se seguem:
Já
apresento melhoras pois levanto muito cedo
E deitar
as nove horas pra mim já é um brinquedo
A injeção me
tortura e muito medo me mete
Mas minha
temperatura não passa de 37
Nessas
balanças mineiras de variados estilos
Trepei de
varias maneiras e pesei 50 quilos
Deu
resultado comum o meu exame de urina
Meu
sangue noventa e um por cento de hemoglobina
Creio que
fiz muito mal em desprezar o cigarro
Pois não há
material pro meu exame de escarro
Ate'
agora só isto para o bem dos meus pulmões
E nem
brincando desisto de seguir as instruções
Que o meu
amigo Edgard arranque desse papel
O abraço
que vai mandar o seu amigo Noel"
A carta é uma extensão da obra do compositor, contendo os mesmos procedimentos identificáveis em suas canções, tais como: rimas improváveis, versas de duplo sentido, a sutil ironia peculiar a Noel Rosa e a distinta habilidade com a língua portuguesa.
Apesar da busca pelo clima rarefeito a fim de minimizar as consequências da tuberculose, a vida boêmia nunca deixou de ser um atrativo irresistível para o artista, que optou não abrir mão do samba, das noites regadas à bebida e do tabagismo. De volta ao Rio em 1937, jurou estar curado, mas faleceu em sua casa no bairro de Vila Isabel no mesmo ano, aos 26 anos de idade.
Quarenta anos após a morte de Noel, o sambista João Nogueira musicou a “carta à Edgar”, incluindo-a em seu LP "Vida boêmia" (EMI-Odeon, 1978). Confira:
Olá Dr.Renata,
ResponderExcluirUma ótima junção medicina e arte nos seus posts. A poesia na veia desses artistas, do quilate de Noel, fez aparecer poesia até, no que a gente não enxergaria poético, em uma "carta ao médico". Muito bom.Roberta Clarissa(www.planodesaude.net)
Muito bem roteirizado. Parabéns mais uma vez, Renata.
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ResponderExcluirCARTA AOS MÉDICOS BRASILEIROS – SE A POLÍTICA PÚBLICA DE SAÚDE É UM CAOS – A FALTA DE HUMANISMO DA MAIORIA DOS MÉDICOS – A INCOMPETÊNCIA DE ALGUNS – O MERCENARISMO E ATÉ A FALTA DE COMPROMISSO COM O DIREITO À VIDA DA MAIORIA DE TAIS PROFISSIONAIS... TORNAM A POLÍTICA DA SAÚDE UM INFERNO! Matéria completa em: http://valdecyalves.blogspot.com.br/2013/07/carta-aos-medicos-brasileiros-se.html
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