Pequeno Baco doente (Bacchino Malato) (1594). × Óleo sobre tela, 67 × 53 cm. . Galleria Borghese, em Roma, Itália. |
O sinal externo da afecção de Baco (isto é, Caravaggio) é icterícia, como pode ser visto a partir dos tons de pele e da esclerótica, os quais correspondem aos dos pêssegos na mesa em frente a ele.
A icterícia, definida como coloração amarelada da pele, escleróticas e membranas mucosas devido à deposição de pigmento biliar nesses locais, reflete perturbações na produção e/ou em passos do metabolismo/excreção da bilirrubina, sendo manifestação clínica de numerosas doenças hepáticas e não hepáticas.
De acordo com a publicação médica norte-americana Clinical Infectious Diseases (2009), a doença sofrida por Caravaggio neste período é malária, que pode cursar com icterícia decorrente da destruição das hemácias pelo plasmódio, ocasionando uma produção exagerada de bilirrubinas.
Dois anos mais tarde, quando já completamente curado, o artista também se retratou em Jovem Baco (1596), um espécime completamente saudável.
Baco (1596). × Óleo sobre tela, 95 × 85 cm. Galleria degli Uffizi, Florença. |
Por que ao ver a icterícia como manifestação da sua doença, Caravaggio escolheu retratar-se assim, como Baco?
Pequeno Baco Doente é um autorretrato duplamente autobiográfico. Considerado um alcoólatra crônico, o italiano, extremista, era temido nos botecos da cidade, onde constantemente arrumava brigas. Autor de obras de inigualáveis belezas, Caravaggio tinha tanto talento e habilidade quanto vícios e paixões. Baco, – deus do vinho, da ebriedade e dos excessos –, é a imagem viva de sua eterna ressaca, do destemor de um farrista inconsequente.
Além disso, para manifestar sua arte, o artista buscava inspiração entre os moradores de rua, prostitutas e alcoólatras; pessoas não consideradas pela sociedade como de nobre estirpe mas que, para Caravaggio, tinham grande expressão. Sabe-se que uma das etiologias mais comuns de doença hepática é a alcoólica. Presumivelmente, nesse meio, o artista conviveu com muitos portadores de hepatopatias alcoólicas (associando-os ao deus do vinho), ictéricos, consumidos pela insuficiência hepática conseguinte a cirrose.
Com traços peculiares ao estilo barroco, o pintor nos surpreendente passando, através da fisionomia e a inclinação da cabeça, uma sensação muito real do sofrimento provocado pela doença.
Referências:
1.Jeffrey K Aronson 1 and Manoj Ramachandran. The diagnosis of art: Caravaggio's jaundiced Bacchus. JR Soc Med de setembro de 2007, 100 (9): 429-430.
2.Clinical Infectious Diseases. 2009. Volume 48.
3.Wikipédia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Baco.
Oi Renata,
ResponderExcluirMuito interessante, nunca havia parado para pensar nesses aspectos da obra de Caravaggio.
Espero que esteja tudo bem com você.
Abraço
Renata: q prazer ter encontrado teu blog via facebook de algum amigo meu. Sou obstetra e ginecologista em Saao Bento do Sul - SC. Seguirei te visitando! Um abraço, Melissa
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