É possível que características clínicas da síndrome de hipermobilidade familiar benigna e sinal de trendelenburg positivo estejam presentes em uma pintura de 1638, intitulada As Três Graças, de Peter Paul Rubens:
As Três Graças (1638). Peter Paul Rubens (1577–1640).Óleo sobre madeira, 181 x 221 cm. Museu do Prado, Madrid (Espanha).
Os achados mais evidentes são: escoliose, lordose, sinal de trendelenburg positivo, hiperextensão das juntas do metacarpo e pés planos.
Na pintura, a "graça" do meio mostra claramente a escoliose manifesta na forma de S na coluna e, curiosamente, ela está em pé sobre a perna esquerda e a nádega direita é descendente, em vez de para cima, como seria em uma pessoa normal, caracterizando o sinal de Trendelenburg positivo. O sinal, descrito por um cirurgião alemão chamado Friedrich Trendelenburg (1843-1924), é encontrado em pessoas com fraqueza da musculatura abdutora do quadril. O sinal de Trendelenburg é dito positivo se, quando o quadril de um paciente que está de pé sustentado por somente uma perna, cai para o lado da perna levantada. A fraqueza é presente no lado da perna em contato com o chão.
Devido à debilidade da articulação, o quadril pode ser instável na síndrome de hipermobilidade, o que explica o sinal de Trendelenburg positivo. Também a escoliose é observada numa grande parte dos portadores da síndrome devido a frouxidão articular em nível da coluna vertebral.
A inspeção minuciosa do quadro mostra que a "graça" à esquerda tem os dedos em hiperextensão tanto nas interfalangeanas distais quanto nas articulações metacarpofalangeanas do quarto e quinto dedos e pés chatos. Observa-se também que todas as três "graças" têm hiperlordose da coluna lombar.
Uma expressão de hipermobilidade das articulações dos dedos, que pode estar presente especialmente na síndrome de hipermobilidade familiar benigna, justificaria a presença da deformidade em pescoço de cisne na "graça" à esquerda.
Presumivelmente uma das mulheres retratadas na pintura é Hélène Fourment, segunda esposa de Rubens, e as outras são suas irmãs, sugerindo fortemente o diagnóstico de hipermobilidade familiar benigna.
Descobrir sinais de doenças em pinturas antigas confirma que os artistas – exímios observadores da natureza – descreveram, ou pelo menos registraram muitas condições patológicas antes que os médicos fizessem. A arte do passado é sem dúvida uma ferramenta útil no campo da paleopatologia.
REFERÊNCIAS:
1.DEQUEKER, J."Benign familial hypermobility syndrome and Trendelenburg sign in a painting ''The Three Graces'' by Peter Paul Rubens (1577-1640)". Ann Rheum Dis 2001 60: 894-89.
É incrível como é necessário ter "olho clínico" para detectar os diversos achados que você mostra aqui, relacionados à arte! Adorei o post!
ResponderExcluir♦ http://pacientesensinam.blogspot.com ♦
La mayoría de la gente -creo yo- cuando contempla este cuadro de Rubens pensará en que los cánones de belleza de la época eran muy distintos de los actuales. Pero tú, Renata, nos lo has presentado, con la maestría que te caracteriza, desde el punto de vista médico. ¡Qué bien has planteado el diagnóstico! ¡Enhorabuena!
ResponderExcluir"Feliz Natal!"
http://www.youtube.com/watch?v=7NfvmD69IB4
Interesting...
ResponderExcluirMatéria sensacional!
ResponderExcluirAssustador!!! Eu sempre tive um olho muito clínico (mesmo não sendo médica) e já descobri várias doenças, diferenças e defeitinhos por causa disso... e não sossego até descobrir o nome, acabo estudando um pouquinho sobre.... eu acredito que quase tudo é sinal de alguma outra coisa, sendo relevante ou não... lí certa vez que quem dá o diagnóstico é o próprio paciente e que o médico precisa somente aprender a decifrá-los... se todos os médicos fossem assim, e tivessem um olho clínico como desse pintos, com certeza a medicina estaria muito mais avançada....
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