Entender o ser humano em suas fraquezas, suas forças, suas felicidades, seus gozos e angústias, e desta percepção dar luz a uma das mais belas literaturas de todos os tempos, foi tarefa magistral do dramaturgo William Shakespeare.
No segundo ato da peça A Tragédia de Hamlet, Príncipe da Dinamarca escrita em 1600, encontramos sintomas característicos do que chamamos atualmente de transtorno depressivo:
HAMLET: De tempos a esta parte – por motivos que me escapam - perdi toda a alegria e descuidei-me dos meus exercícios habituais.Tão grave é o meu estado, que esta magnífica estrutura, a terra, se me afigura um promontório estéril. (ATO II CENA II)
POLÔNIO: [...] e ele - para ser breve - repelido, cai em melancolia a que se segue jejum, falta de sono, abatimento e distração. E assim, piorando sempre, cai na loucura em que ora se debate e nos punge. (ATO II CENA II)
Segundo a DSM IV, a depressão é caracterizada pela presença há pelo menos duas semanas de um dos sintomas obrigatórios: estado deprimido ou falta de motivação para as tarefas diárias, além de outros sintomas menores.
Humor deprimido: "De tempos a esta parte – por motivos que me escapam - perdi toda a alegria..."
Anedonia: “...descuidei-me dos meus exercícios habituais”
Através do personagem Polônio, o autor mostra que os outros sintomas presentes no episódio depressivo de Hamlet são: perda de apetite, insônia, fadiga e distração.
Durante a tragédia, Shakespeare marca o caráter do protagonista com uma notável manifestação de tristeza. A peça, que traça um mapa do curso de vida na loucura real e na loucura fingida, mostra que o dramaturgo, sem pesquisas e fundamentos científicos, mas com intuição e sensibilidade, percebeu exatamente como se comporta um homem acometido pela depressão.
William Shakespeare é um dos grandes artistas que marcou sua trajetória pela capacidade de perceber o comportamento humano sem utilizar metodologias científicas. A citação acima prova que às vezes as respostas não se encontram em cientistas, pesquisadores e doutores, mas com literatos, pintores, músicos, poetas, dramaturgos; aqueles que observam, sentem e criam.
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Muchas veces, los médicos no hacemos más que comprobar, mediante el método científico, lo que los creadores nos muestran con su arte.
ResponderExcluir"Feliz Nadal", Renata.
Gostei desse post. Tomei a liberdade de linkar no meu blog, com os devidos créditos, claro.
ResponderExcluirBelo post, Renata! Foi aí que Sigmund Freud se agigantou!!!
ResponderExcluirRoger Normando