Dentre as obras de arte mais discutidas entre os doutores que visitam o museu municipal de Bruges, na Bélgica, destaca-se um trabalho concluído por Jan van Eyck há mais de 500 anos, representando a Virgem com o Canon Van der Paele. O canon é particularmente o foco do interesse médico.
A Virgem com o Canon (1436). Jan van Eyck. Museu municipal de Bruges (Bélgica).
Oftalmologistas diagnosticaram ligeiro estrabismo divergente e lagoftalmo. Além disso, a distorção produzida pelas lentes que aparecem sobre o manuscrito em suas mãos sugere que esse canon era míope e não presbiope, como se poderia esperar em sua idade.
Também dermatologistas têm comentado anormalidades em sua pele. Eles observaram alguns nevos celulares na face, um cisto sebáceo na orelha esquerda e um epitelioma labial que fora obliterado pela restauração da pintura em 1934.
Pormenor de A Virgem com o Canon evidenciando o espessamento das artérias temporais.
Reumatologistas ficaram impressionados com a aparência que van Eyck registrou da região temporal de Van der Paele. São nítidamente visíveis as artérias proeminentes, bem com a formação de cicatrizes e perda de cabelo na frente da orelha esquerda e entre as sobrancelhas. Mesmo sem uma biópsia, muitos clínicos consideraram esse aspecto característico de arterite temporal.
Estudos históricos posteriores evidenciaram que ele tinha dor e rigidez no braço esquerdo. O edema difuso em sua mão esquerda indica uma esclerose crônica observada em pacientes com ombralgia de longa duração ou a síndrome de ombro-mão, uma das características de polimialgia reumática.
Segundo a acta da catedral, após onze anos de serviço regular, der Paele passou a apresentar suas primeiras dificuldades durante um culto que acontecia numa manhã de novembro, no ano de 1431. Em setembro 1434 o canon, "em vista de sua debilitação geral", obteve permissão para manter seus rendimentos, apesar de não freqüentar o serviço.
Nessa época, julgando próximo o seu fim, resolveu convidar Jan van Eyck para fazer um retrato especial, em que aparecia ao lado da Virgem, para decorar a Igreja em sua memória. A pintura foi concluída em 1436.
Ele morreu em 25 de agosto de 1443. Os dados históricos que contém registros sobre sua saúde apoiam o diagnóstico clínico de arterite temporal associado a polimialgia reumática, visto que esta última condição ocorre em 40% dos casos de arterite de células gigantes. A dor reumática com rigidez matinal, associada a fraqueza geral, forçou o van Paele a abandonar suas atividades matinais. Esta debilitação, não fatal, permitiu que ele sobrevivesse ainda por doze anos, uma história compatível com o curso natural da polimialgia reumática.
REFERÊNCIAS:
1.Antônio Carlos Lopes, tratado de Clínica Médica, 2 edição, Roca, 2009.
2.DEQUEKER, JV. “Polymyalgia rheumatic with temporal arteritis, as painted by Jan Van Eyck in 1436”.CMA JOURNAL/JUNE 15. 1981/VOL. 124.
Belo estudo.E nos ensina muito.
ResponderExcluirFiquei encantada com a beleza e o realismo da pintura Renata!
ResponderExcluirMeninas, obrigada pelos comentários!!! :))
ResponderExcluirmuito bom post. sigo seu blog pelo twitter e adoro. Arte e medicina, muito bom. parabéns!
ResponderExcluirNatália, que bom que gostas! Obrigada pelo elogio. Abraços
ResponderExcluirESTOU IMPRESSIONADA COM SEU TRABALHO Parabéns!!!
ResponderExcluirThanks this post.. i'm searching about arteria temporal and i got this blog..
ResponderExcluiradelina