Em meados do século XIX, na altura em que a microscopia anatômica desenvolvia-se rapidamente na Europa, o conceituado patologista e cientista alemão Jacob Henle (1809-1885) estava a investigar a anatomia histológica do tecido renal. A partir de 1862, ele descreveu uma série de publicações afirmando a existência de minúsculas estruturas tubulares que corriam perpendicularmente na superfície dos rins até mergulharem no interior do órgão. Estava descoberta "a alça de Henle".
Não responsável somente por essa relevante contribuição à fisiologia, Jacob Henle também revisou e reorganizou toda a histologia da época, além de descrever detalhadamente as células epiteliais.
Friedrich Gustav Jacob Henle, nascido no estado alemão da Baviera, é um dos muitos pioneiros da Medicina a experimentar a fusão da vocação artística com a atividade médica.
Henle foi um excelente músico e poeta. Tocava não apenas um instrumento musical, mas toda a família das cordas existentes na época; com destreza manuseava o violino, a viola e o violoncelo. Entre seus amigos encontrava-se o famoso compositor alemão Felix Mendelssohn (1809-1847), autor dos oratórios Paulus e Elias. Henle é tipicamente descrito como um homem espirituoso, que freqüentemente promovia recitais e concertos em sua casa.
Uma curiosa coincidência médico-artística, que marcou a trajetória profissional de Henle, é que a opção deste pela Medicina esteve intrinsecamente ligada as suas atividades musicais. Foi exatamente num sarau, provavelmente em sua própria residência, que ele conheceu Johannes Muller (1801-1858), um notável pioneiro da fisiologia e anatomia humanas, responsável pela formação de muitos médicos alemães que deram forma à Medicina na segunda metade do século XIX. Do encontro nasceria um dos maiores nomes da medicina praticada daquele século, pois Henle, movido pelo entusiasmo e carisma do grande professor, bem como pela admiração que passou a nutrir pelo mesmo, logo sentiu-se compelido a estudar Medicina. Pouco depois, em 1827, Henle ingressou na Universidade de Bonn, onde teve por mestre o próprio Johannes Muller.
Os biógrafos de Henle costumam declarar que nenhuma parte do corpo humano costumavam escapar à sua curiosidade. Vale aqui ressaltar que a reputação de Henle como cientista era simplesmente louvável. Ele acreditava que doenças infecciosas eram causadas por microorganismos vivos que se espalhavam por meio de agentes orgânicos. Essa hipótese embasou os estudos de Pasteur (1822-1895) e encontrou confirmações históricas em Robert Koch (1843-1910) (um dos seus alunos mais brilhantes).
Como a alça de Henle, outras estruturas anatômicas ainda hoje levam seu nome, são exemplos, a camada externa das células dos folículos pilosos (camada de Henle), as membranas clássicas e fenestradas de Henle (situada nas artérias), e a espinha de Henle (situada na superfície do osso temporal).
Além das citações bibliográficas sobre sua insaciável curiosidade, há também documentos registrando que Henle possuía um finíssimo intelecto e que exibia um comportamento cauteloso e crítico diante das atividades das quais se ocupava, cultivando um profundo “envolvimento emocional” para com seus interesses. A convergência de tantas qualidades ofertou ao universo médico um dos seus exímios mestres e, claro, um admirável músico.
REFERÊNCIAS:
1. MOREL, F. The loop of Henle, a turning-point in the history of kidney physiology. Nephrol. Dial. Transplant. (1999) 14 (10): 2510-2515.
2. Evamaria Kinne-Saffran, Rolf K.H. Kinne. Jacob Henle: The Kidney and Beyond. Am J Nephrol 1994;14:355-360 (DOI: 10.1159/000168747).
3. Souza, Álvaro N. – Grandes médicos e grandes artistas – nomes que deram vida, a medicina e as artes. – Salvador, BA, 2006.
¡Interesantísimo, Renata! No sabía nada de las aficiones artísticas de Henle, a quien sólo conocía por su epónimo. ¡Cuánto aprendo de ti!
ResponderExcluir"Abraços".
Caraca Eu tava muito curioso para saber dessa história vlw mesmo... bom trabalho continue assim
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