Antigamente, predominava a teoria hipocrática que dividia a humanidade em quatro humores (líquidos corporais): o melancólico (bílis negra), o colérico (bílis amarela), o sanguíneo (sangue) e o fleumático (água). A melancolia decorreria de um excesso da bílis negra circulando pelo corpo e causando sentimentos negativos (apatia, tristeza, autopunição).
A melancolia é atualmente definida como um estado psíquico de depressão sem causa específica, caracterizada pela falta de prazer nas atividades diárias e desânimo como reação a um estimulo agradável que em geral causaria prazer.
Sigmund Freud, em seus estudos sobre o superego, se deparou com essa forma de depressão conhecida por melancolia que, segundo ele, diferia do luto em apenas um ponto: não havia necessariamente uma perda para tais indivíduos manifestarem tristeza, senão uma perda narcisista.
Em seu famoso texto sobre a depressão, intitulado Luto e Melancolia, Freud investiga a melancolia, um estado patológico, a partir do paradigma do luto, um estado normal:
O luto afasta a pessoa de suas atitudes normais para com a vida, mas sabemos que este afastamento não é patológico, normalmente é superado após certo tempo e é inútil e prejudicial qualquer interferência em relação a ele. Os traços mentais distintivos da melancolia são um desânimo profundamente penoso, a cessação de interesse pelo mundo externo, a perda da capacidade de amar, a inibição de toda e qualquer atividade, e uma diminuição dos sentimentos de auto-estima a ponto de encontrar expressão em auto-recriminação e auto-envilecimento, culminando numa expectativa delirante de punição. A perturbação da auto-estima normalmente esta ausente no luto, fora isto as características são as mesmas.[...]Isso sugeriria que a melancolia está de alguma forma relacionada a uma perda objetal retirada da consciência, em contraposição ao luto, no qual nada existe de inconsciente a respeito da perda. [...] O melancólico exibe ainda outra coisa que está ausente no luto — uma diminuição extraordinária de sua auto-estima, um empobrecimento de seu ego em grande escala. No luto, é o mundo que se torna pobre e vazio; na melancolia, é o próprio ego. [...] Quando, o melancólico em sua exacerbada autocrítica, ele se descreve como mesquinho, egoísta, desonesto, carente de independência, alguém cujo único objetivo tem sido ocultar as fraquezas de sua própria natureza, pode ser, até onde sabemos, que tenha chegado bem perto de se compreender a si mesmo; ficamos imaginando, tão-somente, por que um homem precisa adoecer para ter acesso a uma verdade dessa espécie. Luto e Melancolia - Sigmund Freud (1915).Curiosidade: Fora atribuído a Aristóteles (384-322 a.C.), o primeiro tratado sobre a melancolia, o qual prevaleceu por toda a antiguidade. No tratado, Aristóteles fala-nos da relação entre a genialidade e a loucura, em que a melancolia passa a ser vista como uma condição de genialidade, concepção que muitos defendem até os dias atuais. Aqui, a melancolia não é vista como doença, mas como natureza dos filósofos e poetas, sendo que muitos homens ilustres – como Sócrates e Platão, possuíam uma visão romântica da melancolia, atrelada à idéia de que “o homem triste é também o homem profundo”. Por conta da repercussão que a obra de Aristóteles teve, tanto em sua época quanto posteriormente, a melancolia durante muito tempo foi considerada como uma condição bem-vinda, uma experiência que enriquecia a alma.
REFERÊNCIAS:
FREUD, Sigmund. Luto e Melancolia. “Obras Psicológicas de Sigmund Freud. Escritos sobre a Psicologia do Inconsciente”. v.II. Rio de Janeiro: Imago.
Mas que blog maravilhoso. Sensacional ter colegas de profissão como você =)
ResponderExcluirMuito bom!!!!
ResponderExcluirAmei seu Blog Renata muito rico em conteudos necessarios... Abraço
ResponderExcluirAngela, obrigada. Grande abraço!
ResponderExcluirOi Renata. Parabéns belo seu blog. Você é tão generalista (apesar de orbitar tão somente sobre a temática da medicina, da psicologia e da filosofia) que me faz bem! Qualquer outra hora eu explico, se for o caso! Mas, só para atentar seu extinto feminino "sapiens sapiens", você não acha que Freud é um tanto quanto primário em suas conclusões no "Luto e melancolia"? Mais; em quase tudo que escreveu?
ResponderExcluirUm abraço,
Marco Antonio
Creio que ele foi, sim, bastante primário. Assim como Newton em sua concepção do funcionamento mecanicista do Universo. Não por isso deve deixar de ser sitado, desde que o bom aluno sempre saiba que conclusões são distantes, principalmente neste tipo de tema. Fora de um ambiente doutrinador, não vejo problema algum em citar as conclusões de pensadores do passado. O triste é que a maioria dos professores de Psicologia são doutrinadores.
ExcluirAbraço!
Obrigado pela resposta, Giuliano. A minha pergunta foi provocativa no bom sentido. Pela primeira vez obtenho uma resposta sensata sobre o tema. Ele foi primário pois foi o primeiro e, por ser um desbravador não poderia ser diferente. Ele não tinha referenciais como temos hoje. E essas tais "referências", que são os doutrinadores que você sitou, mais atrapalham do que enriquecem a arte de pensar. Na mosca!
ExcluirMacanama e Giuliano, concordo com ambos. Creio que essa primariedade é inerente a maioria dos pioneiros! As conclusões de Freud, despertando discórdias, serviu posteriormente como base pra construção de um entendimento menos incoerente sobre a mente humana. Obrigada pela visita. Abraços, Renata.
ResponderExcluirOi, Renata. Quando respondi ao Giuliano, não havia notado seu comentário. Obrigado. Fico contente com a percepção de ambos. Na verdade falamos a mesma língua. Um disse seis o outro meia dúzia e você, ambos (literalmente). Pode isso tudo parecer óbvio, mas a medida em que se nota o empobrecimento mental, e a continuada mentalidade bacharelesca das nossas universidades, fico menos pessimista quando obtenho respostas sensatas as minhas "provocações". Que bom! Quanto a você, Giuliano, continue questionando esses tais "doutrinadores". No "raso" eles tentam convencer outros, no intuito de esconder deles próprios, a imensa ignorância em que chafurdam. Que território bacana este. Vou recomendar a meus alunos. Um abraço a todos, Marco Antonio.
ResponderExcluirpow , dorei
ResponderExcluir:)
ExcluirPorque é a Psicologia que me faz ir todos os dias a aula . Porque não a nada mais gratificante para mim que estudar a cabeça do homem psicologicamente ♥
ResponderExcluirCITAR CITAR CITAR CITAR CITAR CITAR CITAR
ResponderExcluirSomente uma pergunta...na visao de freud a depressao eh uma doenca?? Pq a pulsao de morte( tanato) todos possuem assim como a pulsao de vida (eros)..como contra-partida.eh algo intriseco ao ser humano
ResponderExcluirSomente uma pergunta...na visao de freud a depressao eh uma doenca?? Pq a pulsao de morte( tanato) todos possuem assim como a pulsao de vida (eros)..como contra-partida.eh algo intriseco ao ser humano
ResponderExcluirSomente uma pergunta...na visao de freud a depressao eh uma doenca?? Pq a pulsao de morte( tanato) todos possuem assim como a pulsao de vida (eros)..como contra-partida.eh algo intriseco ao ser humano
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