O termo EQM refere-se a um conjunto de alterações sensoriais e perceptivas vivenciadas durante a morte clínica, sendo esta caracterizada pela parada da respiração, da atividade cardíaca e do funcionamento cerebral, mas não pela impossibilidade de reanimação.
Platão, no Livro X de A República, relata o seguinte fato:
"A República". Platão. Livro X (Pág. 81-83) |
O Primeiro estudo descritivo destas experiências foi feito pelo geólogo Albert Heim em 1892, cujo interesse surgiu após experiência mística quando vítima de uma queda que teve nos Alpes. Durante décadas, o pesquisador colheu relato de alpinistas que sobreviveram a quedas aparentemente mortais, concluindo que as experiências vivenciadas próximas a morte assemelhavam-se entre si 95% dos casos.
O moderno interesse ocidental pelas experiências de quase morte aumentou após a publicação do livro Vida Após a Vida (1975) do escritor, médico e psicólogo Raymond A. Moody, que analisou 150 casos de experiências próximas da morte.
Pesquisadores descrevem traços comuns a estas experiências, tais como:
1) Projeção do corpo: sensação de deixar o corpo e pairar sobre ele, após acordado, comumente descrevem os fatos que ocorreram ao seu redor no momento da morte clínica.
2) Movimentos em um túnel: Sensação de locomoção num túnel escuro.
3) Visão de luz: Dirige-se a uma luz intensa, apaziguadora e bastante atrativa.
4) Encontro com pessoas já mortas: conhecidas ou não, seres sagrados, entidades não identificadas ou “seres de luz”.
5) Panorama da própria vida: O indivíduo experimenta um revisão da própria vida.
6) Fronteira: Descrevem a visão de um limite entre a vida terrena e uma outra vida.
7) Retorno à vida: Decisão voluntaria de voltar à vida se perceber que ainda há coisas a terminar.
O pintor holandês Hieronymous Bosch pintou este tema em sua obra Ascensão dos Abençoados:
Ascensão dos Abençoados. 1504. H. Bosch. |
Diversos estudos sugerem que a experiência independe da formação educacional, orientação religiosa ou de qualquer outro fator demográfico; Outro dado interessante é que as pessoas com conhecimento anterior sobre EQM experimentaram este fenômeno com menor frequência que os indivíduos que ignoravam a existência de tais experiências, demonstrando assim que a EQM não é um produto de expectativas anteriores do indivíduo, invalidando portanto a coerente suposição da sugestionabilidade.
Melvin Morse, professor de pediatria da Universidade de Washington, publicou em 1998 o livro Transformados pela Luz, no qual descreve as mudanças ocorridas nos indivíduos que vivenciaram EQMs, dentre as alterações, destacam-se: o aumento de espiritualidade e da preocupação com os outros; a valorização da vida e menos medo da morte; fortalecimento da crença na vida após a morte; maior confiança e flexibilidade em lidar com as dificuldades e uma menor preocupação com status e posses materiais; maior amor ao próximo.
Mas qual seria a real origem de tais experiências? São várias as posições dos especialistas na tentativa de explicar o fenômeno de forma racional. Susan Blackmore, psicóloga inglesa, famosa pesquisadora sobre a etiologia da EQM, acredita que a experiência não passa de ilusões decorrentes de alterações no sistema neurotransmissor devido talvez a hipóxia, como artifício cerebral para evitar o trauma na hora da morte.
Outros defensores da teoria neurofisiológica sugerem que a interessante vivencia decorre de uma excitação no lobo temporal causada pelo estresse da proximidade com a morte, já que investigadores constataram que, estimulando eletricamente este lóbulo, podem imitar alguns aspectos da EQM, tais como a sensação de prazer e os sentidos das memórias da vida.
Explicações psicológicas defendem a despersonalização, na qual pessoas diante de uma realidade desagradável como a iminência da morte substituem essa realidade não aceita por fantasias plausíveis com o intuito de se proteger.
Os que acreditam na teoria da vida após a morte argumentam que a ciência necessita de melhores ferramentas para explicar porque indivíduos que passaram pela EQM descrevem detalhadamente o que ocorreu a seu redor enquanto socorridos e inconscientes. Os pesquisadores Ring e Cooper (1997, 1999) encontraram 31 casos em suas pesquisas de pessoas cegas (algumas de nascimento) que tiveram percepção visual e descreveram objetos e acontecimentos ao experienciarem uma EQM. Inúmeros registros comprovam que tais pacientes, quando reanimados, são capazes de narrar detalhadamente os procedimentos médicos sofridos durante a ressuscitação.
REFERÊNCIAS:
1. Souza, J.Z. "PODEMOS VOLTAR DA MORTE? Algumas reflexões sobre EQM." Psicol. Argum., Curitiba, v. 27, n. 56, p. 55-64, jan./mar. 2009.
2. Morse, M., & Perry, P. (1997). Transformados pela luz. Rio de Janeiro: Record: Nova Era.
3. PLATÃO. "A República". 380 a.C.
4. Whinnery, J. E. (1997). Psychophysiologic correlates of unconsciousness and near-death experiences. Journal of Near-Death Studies, 15, 231-258.
Olá, Renata! Tudo bem?
ResponderExcluirDescobri o seu site no final de 2011, quando tive paralisia de Bell e buscava informações na internet sobre o assunto. Desde então, o seu blog não saiu dos meus favoritos! Queria dizer que me tornei super fã do seu trabalho e também gostaria de saber se você pretende lançar um livro com o tema.
Grande abraço! Parabéns!
Albert - Serra/ES
Albert, tudo bem e com você? Agradeço por visitar sempre o blog e o elogio. Até o momento, não havia pensado em publicar um livro sobre o tema, mas seria uma ideia adorável! ;)
ExcluirAbraços e obrigada!
Oi Renata, quanto tempo!
ResponderExcluirVocê já leu os livros da Dra. Elizabeth Kubler-Ross? Ela foi uma das maiores especialistas em EQM. Acho que você vai gostar.
Espero que esteja tudo bem por aí, quando puder, dê notícias.
Abraço
Oi Cristiane, já ouvi muito falar dos livros de Kubler- Ross. Infelizmente ainda não tive oportunidade de lê-los, mas está na lista dos que pretendo! Os temas que ela aborda interessam-me muito. Agradeço a sugestão. Abraços
Excluirolá Renata, sou professor de literatura em cursos pré-vestibulares e ensino médio, indiquei a várias turmas sua análise (de 2011) do livro Admirável Mundo Novo quando pedia a leitura do livro. Hoje, estando Memórias Póstumas na lista da Fuvest/Unicamp, volto a indicar seu texto. Parabéns pela sua percepção de leitura e capacidade de produção de análises literárias. Abraços
ResponderExcluirProfessor, agradeço a visita e o comentário. Embora entenda muito pouco, sou apaixonada por literatura e sinto-me grandemente honrada por saber que um professor da área indica textos meus aos seus alunos. =) Grande abraço, Renata.
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