Indubitavelmente, Ciência e Caridade é a principal obra de Pablo Picasso na fase inicial de sua formação. Com apenas dezesseis anos, o pintor assumiu maturamente a ambiciosa composição clássica, honrando com ela o resultado de seus estudos acadêmicos liderados por seu pai, José Ruiz Blasco, professor de pintura e desenho em Málaga.
Ciência e Caridade (1897). Pablo Picasso (1881-1973). Óleo sobre tela, 197 x 249 cm. Museu Picasso (Barcelona).
Quatros figuras estampam a imagem: no foco principal, ocupando o leito, vê-se uma pálida criatura do sexo feminino, gravemente enferma; à sua cabeceira encontra-se o doutor, sentado, tomando-lhe o pulso enquanto olha seu relógio de bolso; à esquerda da doente, uma freira oferece-lhe cuidados enquanto ampara nos braços uma criança; infere-se do retrato que tal pequena pessoa ocupa o cenário como filha da doente, a cabeça desproporcionalmente grande valoriza sua presença entre os adultos. A mãe, com o olhar fixado à criança, transmite contundentemente a angústia de saber que a deixará órfã.
A encantadora cena embute a “ciência” incorporada na figura do clínico geral bem como a freira, – cuja presença nos hospitais costumava à época ser comum –, representa a “caridade”, esta última com o poder de humanizar os cuidados práticos empregados pelo médico.
O próprio pai de Picasso serviu como modelo para o médico. Quem posa como a figura que aparece quase sem vida é sua irmã, Lola. A criança foi locada de uma mendiga em troca de algum dinheiro. E para a freira, Picasso utilizou um adolescente vestido com um hábito emprestado por um convento.
O sentimento filantrópico e o interesse no progresso científico insere a obra no âmbito de realismo social tão freqüentemente encontrado entre os círculos mais conservadores da segunda metade do século dezenove. A importância da caridade é representada pela serventia religiosa à doente. O avanço científico é evidenciado pela maneira profissional, responsável, ética e, especialmente, carregada de afeto com que o doutor oferece seus serviços.
A origem da união simbólica que dá título à tela é cativante, e estimula a reflexão sobre a necessidade de oferecer ao doente tanto o apoio científico quanto o espiritual e emocional.
Ciência e Caridade recebeu medalha de ouro na Exposição Provincial de Belas Artes de Málaga e ganhou menção honrosa na Exposição Nacional de Arte de Madrid. Atualmente, a obra é a peça mais importante do acervo do Museu Picasso, em Barcelona.
REFERÊNCIAS:
1.Museu Picasso de Barcelona
2.BEZERRA, A.J.C.; As belas artes da medicina. Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal, Brasília, 2003.
3.Moral, A. “Ciência e Caridade (Picasso)”. Ciência da Esquina. N º 19, Dezembro de 2002.
Muita Gente que ve os quadros mais famosos de Picasso, como guernica, pensa que ele não sabia desenhar. Gostaria um dia poder conhecer essas obras ao vivo....um sonho... Seu BLOG esta muito interessante.
ResponderExcluirÉ verdade José! As pessoas tem mesmo essa impressão ao deparar com obras peculiares a Picasso. Em "Ciência e Caridade" nota-se também o quão bom desenhista ele foi. Obrigada pela visita.
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