Camptodactilia (do grego
kamptos, curva, e
dáktylos, dedo), ou contratura em flexão congênita, é uma deformidade em que um ou mais dedos se apresentam fletidos, caracterizada pela flexão da articulação interfalângica proximal em combinação com a hiperextensão da metacarpofalangeana e da interfalângica distal, acometendo preferencialmente o quinto dedo.
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Detalhe à esquerda evidenciando mulher com turbante. Dieric Bouts, o Velho. A Festa da Páscoa, 1464-1467. Sint-Pieterskerk, Leuven. |
Exemplo típico da deformidade é visto na pintura acima, representando uma figura do sexo feminino com um turbante branco detendo a bíblica "erva amarga" (Êxodo 12:8) em sua mão direita. Note a flexâo da interfalangeana proximal do quinto dedo direito, associado a hiperextensão da metacarpofalangeana (MCP) e da interfalangeana distal (IFD).
Outros exemplos são vistos adiante:
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Dieric Bouts. Mater Dolorosa,. Suermondt-Ludwig-Museum, Aachen.
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De acordo com a prevalente opinião, a modelo representada nas obras aqui expostas é
Elisabeth van Voshem, esposa de
Dieric Bouts e madrasta de
Albrecht Bouts.
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Albrecht Bouts . Mater Dolorosa. 1475. Suermondt-Ludwig-Museum, Aachen
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Um artefato poderia explicar a apresentação incomum do quinto dedo nestas obras. Entretanto, tal alegação é improvável por conta da notável reputação de Bouts, grande observador e representador de detalhes. O artista é conhecido por ter feito, a fim de atingir os efeitos almejados, extensas correções e ajustes técnicos em suas obras.
O Maneirismo, movimento caracterizado pelo dinamismo e complexidade de suas formas a fim de se conseguir maior elegância ou emoção, poderia justificar deformidade do quinto dedo, mas tal argumento também é infundado, pois nesse caso, para inferir tensão, seria observável uma flexão da interfalangeana distal em questão (assim também seria ilustrada a mão em posição de garra ou preensão). Além disso, maneirismo não é o estilo visto em nenhuma das obra de Dieric Bouts, nem nas pinturas de seu filho Albrecht.
Exímios artistas, como os pertencentes a família Bouts, tendem a retratar fielmente o que veem, não obscurecendo a realidade pela lisonja.
Referência:
1.W Hijmans; J Dequeker. “Camptodactyly in a painting by Dirk Bouts (c. 1410–1475)”, J R Soc Med 2004;97:549–551.