Ondina Sonhando. Gonzalo Juliani. |
Um ano após o casamento, nasceu o filho do casal. A partir do momento em que se tornou mãe, Ondina passou a envelhecer, como qualquer mortal. Enquanto os atrativos físicos da ninfa desvaneciam, diminuía o interesse de Lawrence pela esposa.
Uma tarde, quando Ondina caminhava próximo ao estábulo, escutou uns gemidos que lhe soaram como sendo do seu marido e, ao entrar no local, viu Lawrence nos braços de outra mulher. Ondina, fitando seu marido, sentenciou:
“Você me jurou a fidelidade a cada respiração. Eu aceitei a sua promessa. Assim seja, permaneça acordado para lembrar de respirar, pois se acaso você dormir, sua respiração não ocorrerá e morrerá!”.
Lawrence se viu condenado a manter-se acordado para sempre.
O termo médico Maldição de Ondina, tomado da clássica obra da mitologia nórdica Ondina (1811), de Friedrich La Motte Fouqué, designa uma doença genética raríssima causada por uma mutação no gene PHOX2B localizado no cromossomo 4, que gera uma desordem no sistema nervoso central desativando o controle automático da respiração durante a fase REM do sono, ou seja, assim que a pessoa que tem a síndrome dorme, ela para de respirar.
Fisiologicamente, sofremos hipopneias durante o sono. A cada apneia, os níveis de CO2 aumentam e os de O2 diminuem, deflagrando novo movimento inspiratório. Descrita em 1962 por Severinghaus e Mitchell, a Síndrome de Ondina (também conhecida como Maldição de Ondina, Síndrome da Hipoventilação Central Congênita ou Hipoventilação Alveolar Primária) é uma condição que compromete o sistema nervoso autônomo (SNA) provocando uma insensibilidade em detectar aumento de CO2 e diminuição de O2, indutores do estímulo que deve atingir o centro respiratório situado no Tronco Encefálico. O controle voluntário permanece intacto. Está presente desde o nascimento e necessita de suporte ventilatório durante o sono; em um terço dos pacientes existe dependência ventilatória 24 horas por dia.
É preferível utilizar o termo Síndrome Central Congênita ou Hipoventilação Alveolar Primária a Maldição de Ondina, em função do aspecto trágico e sombrio da sua origem, ligada a lenda de uma maldição.
REFERÊNCIAS:
1.Assencio-Ferreira, V, Silveira,M. “Era uma vez Ondina: Relato de caso”. Distúrb Comun, São Paulo, 21(3): 385-389, dezembro, 2009.
2.Garzón, F. Raggio, V. "Maldición de Ondina:presentación de un caso clínico." Arch Pediatr Urug 2007; 78(1): 29-34