"Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho". Desenhado pelo brilhante médico e artista Dr. Valderílio Feijó Azevedo, professor do departamento de Clínica Médica da UFPR. |
Retábulo da capela-mor da Igreja de São Francisco em São João del-Rei. |
Cena do carregamento da cruz, na Via Sacra de Congonhas. |
Nossa Senhora das Dores. Museu de Arte Sacra de São Paulo. |
Igreja onde Francisco Lisboa está sepultado. Nossa Senhora da Conceição, construída entre os anos de 1727 e 1746, com projeto e execução de Manuel Francisco Lisboa, o pai do Aleijadinho. |
O reumatologista Dr. Archiles Cruz Filho argumentou que Aleijadinho possa, na verdade, ter sido portador de esclerodermia, visto que a maioria das manifestações da doença do escultor são compatíveis com esclerose sistêmica, principalmente as alterações de membros.
As mais recentes pesquisas, realizadas por uma equipe de cientistas liderada pelo dermatologista e hansenologista Geraldo Barroso de Carval, professor da Faculdade de Medicina de Barbacena (MG) e autor do recém-lançado Doenças e Mistérios do Mestre Aleijadinho, apontam em favor da porfiria.
Descrito pela primeira vez em 1874, pelo médico alemão J. H. Schultz, o termo “porfirias” descreve um grupo de doenças com manifestações clínicas diversas que compartilham um quadro comum: a deficiência na síntese do anel porfírico, que irá fazer parte do grupo heme, que por sua vez é parte integrante dos citocromos e da hemoglobina. Pacientes com porfiria possuem, dentre outras manifestações, alteração da função das hemácias. A Porfiria Cutânea Tardia (PCT), atribuída como provável enfermidade de Aleijadinho, é uma das mais importantes formas deste grupo de doenças. A PCT caracteriza-se por um déficit de uroporfirinogênio descarboxilase, enzima encarregada da mediação de vários passos na síntese do grupo heme.
Numa exumação feita em 1971, o médico e bioquímico Paulo da Silva Lacaz, então professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), observou que os ossos do artista exibiam uma coloração castanho-avermelhada, típica dos portadores de porfiria. Lacaz morreu antes de concluir suas pesquisas. Inspirado nesse trabalho pioneiro Barroso procedeu uma nova exumação dos despojos de Aleijadinho. Amostras colhidas pela equipe foram encaminhadas, através do departamento de Bioquímica da Universidade de Juiz de Fora, à Embrapa Solos, no Rio de Janeiro, que dispunha da tecnologia necessária para a investigação. O resultado da análise química inorgânica dos ossos detectou níveis espantosos de ferro dentro da vértebra do escultor. "Os estudos ainda não terminaram, mas com base nestes resultados podemos afirmar que não há outra razão para a pigmentação avermelhada dos ossos de Aleijadinho, senão decorrência da porfiria", frisou Barroso.
Dentre as manifestações clínicas da PCT, destacam-se fragilidade cutânea, fotossensibilidade (que justificaria o fato do artista trabalhar à noite ou protegido por um toldo), bolhas hemorrágicas ou serosas nas regiões expostas da pele (compatível com as “chagas” que cobriam o corpo de Francisco segundo sua nora), hirsutismo (o historiador Bretas relatou que Aleijadinho tinha pelo facial “cerrado e basto”), ou até mesmo alterações compatíveis com Lúpus Eritematoso Sistêmico ou Esclerodermia. Em casos extremos, a porfiria pode levar à perda das falanges. Os sinais da doença são precipitados dentre outros fatores por ingestão alcoólica (sabidamente o artista possuía tal hábito), cujo metabolismo hepático, em geral deficiente, propicia o acúmulo de ferro hepático.
Em qualquer peça sua que serve de realce aos edifícios mais elegantes, admira-se a invenção, o equilíbrio natural, ou composto, a justeza das dimensões, a energia dos usos e costumes e a escolha e disposição dos acessórios com os grupos verossímeis que inspira a bela natureza. Tanta preciosidade se acha depositada em um corpo enfermo que precisa ser conduzido a qualquer parte e atarem-se-lhe os ferros para poder obrar. Joaquim José da Silva, sobre Aleijadinho. (1790)Dos muitos artistas que marcaram a cultura brasileira, Aleijadinho é a figura de maior expoente. Certamente, maiores que as riquezas extraídas das Minas Gerais, são os tesouros talhados pela genialidade e grandiosidade deste que tornou-se eterno através de suas estéticas obras.
REFERÊNCIAS:
1. V.F. Azevedo. "La malattia dell’Aleijadinho potrebbe essere stata una sclerodermia?". Reumatismo, 2008; 60(3):230-234.
2. Fernando Jorge. "O Aleijadinho". Bertrand Brasil.1949.
3.Bretas RJF. Antônio Francisco Lisboa - O Aleijadinho. Col. Reconquista do Brasil, Editora Itatiaia, Belo Horizonte, Brasil, 2002.
4.Lopes, CF. "As dores de Aleijadinho". Revista Galileu. Ed. Globo.